Arquidiocese investiga denúncias contra superintendente da Santa Casa após dossiê
As irregularidades incluem "consultorias fantasmas" e uso de um cartão corporativo para compras pessoais
Publicado: 15/07/2025 às 15:25

Foto: Santa Casa/Divulgação ()
A Arquidiocese de Olinda e Recife investiga uma série de denúncias contra o superintendente da Santa Casa de Misericórdia, o padre Claudionor Alves de Lima, por supostos desvios administrativos. As irregularidades teriam sido cometidas entre abril de 2024 e junho de 2025.
A investigação foi instaurada após a entrega de um dossiê, obtido pelo Diario de Pernambuco, que acusa o padre Claudionor de fazer contratos com “consultorias fantasmas” e até de usar um cartão corporativo para compras pessoais. O documento, assinado por Alan Eric de Sousa, que é ex-assessor do Superintendente da Santa Casa, foi encaminhado ao arcebispo Dom Paulo Jackson.
Em nota, a Arquidiocese de Olinda e Recife confirmou a instauração de uma Investigação Prévia – instrumento canônico que prevê a análise dos documentos, a escuta das partes envolvidas e o depoimento de eventuais testemunhas. O objetivo da medida é avaliar se as denúncias são plausíveis.
“A Investigação Prévia tem como único propósito esclarecer de forma objetiva e transparente todas as circunstâncias que envolvem as acusações. Ao final, caso se constate indícios suficientes de veracidade, poderá ser instaurado o Processo Canônico para apuração aprofundada. Não havendo elementos mínimos de verossimilhança, o procedimento será arquivado de imediato”, diz a Arquidiocese, no comunicado.
Procurada, a Santa Casa afirmou que, até o momento, não tem “conhecimento sobre os fatos mencionados”. “Ressaltamos que todas as tratativas relacionadas à Santa Casa devem ser direcionadas à Arquidiocese de Olinda e Recife, responsável pela condução da referida instituição”, declara a instituição.
O Diario também tentou contato, via e-mail, com o padre Claudionor, mas não obteve resposta até esta publicação.
Dossiê
A reportagem apurou que o dossiê só foi enviado à Arquidiocese. O autor das denúncias não fez queixa à Polícia Civil ou ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
Segundo o documento, o padre Claudionor teria usado um cartão corporativo, como o nome de Dom Paulo Jackson, para fazer compras pessoais. “Refeições em restaurantes de alto padrão, passagens aéreas de terceiros, hospedagens e itens de consumo doméstico — sem qualquer correlação com as atividades institucionais ou pastorais do titular formal”, diz parte do texto.
O dossiê também acusa o superintendente da Santa Casa de estabelecer contratos com consultorias que não teriam “prestação de serviço compatível com o recebido”, além de “práticas que indicam desvios como ‘rachadinhas’ e favorecimento político”.
O padre usaria “indevidamente a estrutura da Santa Casa para fins políticos-eleitorais, mediantes barganhas associadas à liberação de emendas parlamentares”, de acordo com o texto. A denúncia cita deputados federais e estaduais e vereadores do interior de Pernambuco.
O ex-assessor afirma, ainda, que o padre Claudionor teria pedido para que ele estreitasse laços com um outro padre da Santa Casa. “Em 14 de agosto de 2024, após jantar institucional, fui levado a um motel onde, constrangido, recusei qualquer prática sexual; [...] e, a partir daí, passou a demonstrar hostilidade aberta, repercutindo em minha posterior marginalização”, diz, no documento.
Confira na íntegra a nota da Arquidiocese de Olinda e Recife:
“A Arquidiocese de Olinda e Recife informa que recebeu a correspondência e o dossiê contendo acusações, plenamente ciente da importância e da seriedade das questões apresentadas. Em estrita observância às normas canônicas, foi instaurado de imediato o procedimento de Investigação Prévia, que visa apurar com rigor e imparcialidade todos os fatos narrados.
O referido procedimento consiste, fundamentalmente, na análise minuciosa dos documentos apresentados, bem como na oitiva de todas as partes envolvidas e das eventuais testemunhas, garantindo-se ampla defesa e contraditório.
Cumpre ressaltar que, neste momento, inexiste qualquer responsabilização ou juízo de valor acerca dos fatos, uma vez que se trata de etapa prévia e essencial para a verificação da verossimilhança das alegações. Reforçamos o compromisso com o respeito à presunção de inocência, assegurando que nenhum membro da Igreja será considerado culpado antes da devida apuração dos fatos e do regular trâmite do processo administrativo (Processo Canônico), caso este venha a ser instaurado.
A Investigação Prévia tem como único propósito esclarecer de forma objetiva e transparente todas as circunstâncias que envolvem as acusações. Ao final, caso se constate indícios suficientes de veracidade, poderá ser instaurado o Processo Canônico para apuração aprofundada. Não havendo elementos mínimos de verossimilhança, o procedimento será arquivado de imediato.
A Arquidiocese reafirma seu compromisso com a verdade, a justiça e o devido processo legal, colocando-se à disposição das autoridades competentes e da sociedade para quaisquer esclarecimentos adicionais.”

