Fiscalização intensiva visa reduzir sinistros em pontos críticos do Recife
Ação integra dados de diferentes órgãos e aposta na presença estratégica de agentes para inibir comportamentos de risco nas vias da capital
Publicado: 30/06/2025 às 21:42

Fiscalização Intensiva visa reduzir sinistros em pontos críticos do Recife (fotos: Marina Torres/DP)
Dez pontos críticos de sinistros de trânsito foram mapeados pela Prefeitura do Recife e agora passarão a ter fiscalização intensiva com agentes, blitze e equipamentos nas quatro regiões da cidade — Centro, Norte, Oeste e Sul. A estratégia, baseada em dados e na teoria da dissuasão, busca prevenir acidentes ao aumentar a percepção de risco entre os condutores.
Ao todo, foram mapeados 40 pontos críticos de sinistros de trânsito no Recife, sendo dez em cada uma das quatro regiões da cidade: Norte, Sul, Centro e Oeste. Por se tratarem de áreas estratégicas para a realização de blitze e ações de fiscalização intensiva, a localização exata desses pontos não será divulgada, a fim de preservar a efetividade das operações.
A medida, segundo especialistas, segue as boas práticas internacionais. Para André Correia, coordenador nacional de fiscalização de trânsito da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS), a presença estratégica de agentes em locais de alto risco tem efeito direto na mudança de comportamento dos motoristas. “O condutor vendo os agentes ali, nos pontos escolhidos com base em dados, tende a ter mais cuidado não só ali, mas em outras áreas da cidade também. Isso é a dissuasão funcionando na prática”, explica.
A teoria da dissuasão parte do princípio de que o risco percebido de ser punido é um fator determinante para o cumprimento das leis de trânsito. Correia reforça que a fiscalização não tem caráter exclusivamente punitivo. “O agente está ali representando o poder público. A ideia não é apenas multar, mas fazer com que o motorista pense duas vezes antes de cometer uma infração. Isso salva vidas”, afirma.
O mapeamento dos pontos críticos foi feito com base em uma análise integrada de informações da CTTU, Samu, Corpo de Bombeiros e das secretarias municipal e estadual de Saúde. Recife é uma das poucas capitais do país que consegue integrar esses dados de maneira estruturada, cruzando informações sobre horário, local, tipo de vítima e outros elementos essenciais para entender a dinâmica dos acidentes. “É uma análise minuciosa, que leva em conta tanto os dados técnicos quanto a experiência dos profissionais que vivenciam o trânsito diariamente”, detalha Correia.
A intensificação da fiscalização terá foco prioritário em comportamentos de alto risco, como o excesso e a inadequação da velocidade. Mas outros fatores também preocupam. “A ausência de capacete entre motociclistas, o não uso do cinto de segurança, especialmente no banco de trás, a combinação de álcool e direção, o uso de celular ao volante e o transporte inseguro de crianças são problemas recorrentes que colocam vidas em risco todos os dias”, alerta.
A avaliação dos resultados será contínua. Segundo Correia, os indicadores serão monitorados mensalmente e poderão resultar em ajustes de rota. “Vamos observar os dados antes e depois da intervenção, mas também vamos escutar os profissionais da área, fazer observações em campo e, se necessário, realizar ações educativas ou de engenharia no local. O objetivo é entender o problema e propor soluções efetivas”, destaca.
A fiscalização é apenas um dos pilares da segurança viária, que também inclui educação, engenharia e análise de dados. A articulação entre essas áreas é essencial para mudanças duradouras. “Nenhum desses pilares caminha sozinho. É como uma engrenagem. Se um deles falha, o sistema todo perde eficiência. E, mais do que isso, é preciso que a sociedade participe desse processo. A segurança no trânsito é uma responsabilidade coletiva”, reitera.
A BIGRS e a CTTU também descartam que existam padrões regionais muito distintos entre as zonas da cidade. “O comportamento inseguro está espalhado. O problema é da cidade inteira, e a estratégia de fiscalização parte dessa premissa. O importante é que estamos agindo antes que os números piorem”, finaliza Correia.

