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Política
Crise no PSOL

De mudança para o PT, Dani Portela teme perder mandato em meio a crise no PSOL

PSOL pode pedir o mandato se entender que Dani Portela cometeu infidelidade partidária ao se associar aos petistas; a suplente é a vereadora do Recife Jô Cavalcanti, que integra a corrente majoritária da sigla por trás da nota que escancarou o racha

Guilherme Anjos

Publicado: 16/08/2025 às 08:00

Deputadas estaduais Rosa Amorim (PT) e Dani Portela (PSOL) acompanharam o presidente Lula (PT) na Hemobras na última quinta-feira (14)/Foto: Rafael Vieira/DP Foto

Deputadas estaduais Rosa Amorim (PT) e Dani Portela (PSOL) acompanharam o presidente Lula (PT) na Hemobras na última quinta-feira (14) (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)

A deputada estadual Dani Portela (PSOL) aguarda apenas a janela partidária abrir, em março de 2026, para se filiar ao PT. Mas diante do racha escancarado entre a parlamentar e sua atual sigla, aliados de Portela temem que a associação aos petistas seja a oportunidade que o PSOL espera para pedir o mandato, usando o argumento de infidelidade partidária.

Com direito a vestido vermelho, Dani esteve ao lado dos deputados petistas Doriel Barros e Rosa Amorim nos compromissos do presidente Lula (PT) em Pernambuco na última quinta (14), um dia depois da publicação da nota do PSOL que levou o racha à mídia. Foi o maior aceno que fez à sua futura filiação até o momento.

A deputada evita fazer qualquer declaração direta a uma troca de partido justamente para não fundamentar um entendimento de infidelidade a sua atual legenda, visto que sua suplente na Assembleia Legislativa (Alepe) é a vereadora do Recife Jô Cavalcanti. Ex-deputada estadual pelo coletivo Juntas e pré-candidata ao Senado em 2026, ela integra a Revolução Solidária – corrente majoritária do PSOL.

A tendência, que tem a direção estadual do partido com o presidente Samuel Herculano, está por trás da nota publicada, na última quarta-feira (13), acusando Dani de não participar da vida interna do partido, de construir alianças envolvendo deputados do PL na Alepe, e de exonerar pessoas de seu mandato que teriam se negado a trocar o PSOL pelo PT. A corrente Subverta, do pré-candidato a governador Ivan Moraes, também referendou a nota.

Na última sexta (15), uma carta assinada por três correntes minoritárias da sigla acusou a Revolução Solidária de elaborar a nota sem o consentimento dos grupos de oposição no PSOL de Pernambuco, que possuem 15 das 29 cadeiras na diretoria.

A oposição afirmou, ainda, que a majoritária estaria “instrumentalizando o partido” para atender aos seus próprios interesses, e de se aproveitar das acusações de contratação de empresa fantasma com verbas indenizatórias contra Dani Portela para persegui-la, sem oferecer a oportunidade de defesa para a parlamentar.

"Violência política"

A crise escancarada vivida pelo PSOL hoje é fruto de um racha que vem acontecendo desde 2022. À época, Dani Portela era vereadora do Recife e candidata a deputada estadual. Apesar dela integrar a Revolução Solidária, a corrente majoritária optou por priorizar a reeleição das Juntas, que foram derrotadas no pleito daquele ano.

O racha se intensificou em 2024. Dani foi candidata à prefeitura do Recife e ficou em terceiro lugar. Apesar de ter recebido recursos financeiros do partido, seu palanque não contou com a presença de outras lideranças ou quadros de expressão do PSOL. A deputada foi expulsa da Revolução Solidária em julho do ano passado.

Internamente, aliados de Portela afirmam que ela nunca foi prioridade no partido, apesar de ter feito parte do grupo majoritário e disputado quatro eleições. Eles afirmam que Dani foi um alvo recorrente de violência política pela direção do partido.

Em comentário nas redes sociais defendendo Dani Portela do ‘fogo amigo’, a ex-co-deputada estadual pelo Juntas, Robeyoncé Lima, também afirmou que a violência política que sofreu no PSOL de Pernambuco foi o motivo por trás de sua decisão de não ter saído candidata nas eleições de 2024.

Robeyoncé foi a candidata mais votada do PSOL para deputada federal em 2022, mas como a federação PSOL/Rede só recebeu votos o bastante para eleger um parlamentar, Túlio Gadêlha (Rede) ficou com a cadeira.

Nos bastidores, é esperado que Robeyoncé também se filie ao PT em 2026. Ela foi o único quadro de maior projeção do PSOL a ficar ao lado de Dani Portela, e grande parte do grupo político delas, incluindo o marido de Portela, já assinou a ficha de filiação ao Partido dos Trabalhadores.

Escalada do racha

O PSOL de Pernambuco se pronunciou, na última quarta-feira (13), sobre as acusações contra Dani Portela de ter contratado uma empresa fantasma no nome do tio do seu marido com verbas indenizatórias do seu gabinete.

Apesar de pedir “total transparência e respeito ao devido processo legal, garantindo-se o direito à ampla defesa e ao contraditório”, o diretório estadual acusa Dani de se afastar do partido e de exonerar pessoas do seu mandato que se negaram a se filiar ao PT.

Além disso, os dirigentes afirmam que a deputada se aliou com bolsonaristas na Alepe. O coronel Alberto Feitosa (PL) tem feito parte da oposição à governadora Raquel Lyra (PSD) no Legislativo, ao lado da bancada do PSB. Essa aliança rendeu a ele a presidência da Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ).

Em resposta, Dani chamou o partido de “mentiroso” e disse estar surpresa com os ataques. “Eu não exonerei pessoas do meu gabinete por quererem permanecer no PSOL, isso é uma mentira. Eu tive uma ruptura política dentro do partido. Esse grupo se afastou do gabinete e da nossa militância política”, declarou

“Vocês nem imaginam o que foi manter a minha candidatura a prefeita da cidade do Recife. Mesmo tendo feito uma das campanhas mais difíceis da minha vida, amamentando um bebê recém-nascido, o partido seguiu numa linha de me desconstruir”, complementou. Em suas redes sociais, Dani também tem ironizado sua suposta “aliança com bolsonaristas”.

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