Após demissão da Sudene, Danilo Cabral fala em "custo político" por defender Transnordestina em Pernambuco
Em entrevista ao Diario, o ex-superintendente da Sudene Danilo Cabral também comentou as causas da sua demissão e falou de futuro político
Publicado: 05/08/2025 às 16:57

Danilo diz que vai seguir engajado na implementação da Transnordestina em Pernambuco (Crisly Viana/DP Foto )
Demitido do comando da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) na manhã desta terça-feira (5), Danilo Cabral promete continuar engajado na mobilização pela implementação do ramal Pernambuco da Transnordestina. Em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, ele avaliou como “irreversíveis” as ações que foram promovidas por sua gestão no sentido de engajar sociedade civil, universidades e empresariado em torno da pauta.
A demissão acontece depois de pressão de lideranças do PT do Ceará, em razão de uma disputa do estado com Pernambuco pelo traçado e financiamento da Transnordestina. Cabral tem atuado para dar celeridade ao trecho que liga Salgueiro ao Porto de Suape, considerado estratégico para a economia regional.
A que o senhor atribui sua saída da Sudene?
Eu recebi um comunicado do Ministério da Integração sobre a saída, mas não tive maiores informações a respeito das motivações. O que a gente tem acompanhado é um pouco do que a própria imprensa tem verbalizado, sobre uma possível tentativa de interferência na política regional, a partir de uma demanda do Ceará, pretensamente em função da obra da Transnordestina.
O que posso dizer é que eu defendi e vou continuar defendendo a Transnordestina em Pernambuco. O que a gente não pode ver é uma obra que tem um papel de ser integradora, dialogando com 41% do PIB do Nordeste, sem que a gente tenha um equilíbrio na execução, onde a balança só pende para um lado.
O que a gente quer é que ela aconteça no Ceará e em Pernambuco. Então se ter feito essa escolha por Pernambuco teve esse custo político, eu vou pagar esse custo quantas vezes forem necessárias. Eu não tenho um compromisso com grupos específicos, não fui para tratar de questões provincianas, mas para ter um olhar estratégico para a região.
Como avalia sua gestão à frente da superintendência?
Uma coisa que aconteceu com nossa saída foi uma grande mobilização que a gente teve em torno de Pernambuco, que vi como algo gratificante para mim. Foram muitas mensagens de apoio, solidariedade e reconhecimento do nosso trabalho.
A Sudene era um órgão completamente apagado. Quando eu assumi, muitas pessoas chegavam para mim e diziam que nem sabiam que a Sudene ainda existia. Hoje, a percepção sobre ela é completamente diferente. Lideranças políticas, empresariais, universidades reconhecem que a Sudene voltou a ter protagonismo no debate do desenvolvimento regional.
A maior obra que nós estamos entregando é devolver a Sudene ao seu papel estratégico. Essa não é uma obra de pedra e cal. É uma obra intangível. A Sudene voltou.
Qual sua expectativa sobre o futuro do ramal de Pernambuco?
Nossa expectativa é a de que o trabalho continue. Eu acho que existe hoje um ambiente de mobilização em Pernambuco, em que nós vamos continuar a atuar.
A gente já tinha programado sete seminários regionais em Pernambuco, com a finalidade de articular e mobilizar as forças políticas, empresariais, sociais, universidades e sociedade civil organizada em todo o território dessa obra. Fizemos em Salgueiro e ainda temos outros marcados em Araripina, Belo Jardim, São Bento do Una, Caruaru e Recife.
Eu vejo nisso um caráter de irreversibilidade. Pernambuco, nesse momento, resgatou sua capacidade de exercer a sua unidade em torno de projetos estratégicos. E é isso que vai fazer a obra avançar de forma irreversível também no estado, a despeito de qualquer interferência que possa vir de outros estados e de outros interesses políticos.
Sua indicação à presidência da Sudene partiu do grupo político do petista Humberto Costa. Por outro lado, foram lideranças do PT cearense que pressionaram por sua saída. O senhor acredita que houve desgaste na relação entre PT e PSB em razão de sua demissão?
Não, absolutamente não vejo desgaste. O que tivemos foi uma defesa do nosso nome na permanência de todas essas forças políticas. Tivemos posicionamentos do prefeito João Campos, Humberto [Costa], Teresa [Leitão], Augusto Coutinho, senador Dueire, Augusto Coutinho, Carlos Veras. Isso me deu um conforto muito grande e mostra que tivemos uma gestão larga, acima inclusive do debate partidário.
Toda a mobilização em torno da demissão do senhor acabou trazendo seu nome para o centro do debate público. Como projeta seu futuro político?
A atividade da política não se faz necessariamente com mandatos. Eu tenho duas coisas que são certas daqui para a frente. A primeira é o fato de que vamos trabalhar para que João Campos seja governador do Estado e a segunda é atuar para que Lula seja reeleito presidente.
Eu posso fazer isso disputando as eleições como candidato ou não. Mais adiante, iremos fazer essa reflexão.

