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Política
ELEIÇÕES

Manipulação digital: deepfakes elevam alerta nas eleições de 2026

Com vídeos hiper-realistas e uso de IA, as deepfakes crescem no cenário político nacional, desafiando a capacidade de resposta da Justiça e a percepção do eleitor

Cecilia Belo

Publicado: 21/07/2025 às 20:12

Quando a mentira tem voz, rosto e assinatura digital/Foto: Rafael Vieira/DP Foto

Quando a mentira tem voz, rosto e assinatura digital (Foto: Rafael Vieira/DP Foto)

Em 2022, indícios iniciais das deepfakes - conteúdo que altera imagens, áudios e vídeos com uso de Inteligência Artificial (IA) - começaram a aparecer no jogo político brasileiro. A chamada “primeira deepfake das eleições” usou IA para alterar a imagem da jornalista Renata Vasconcellos, apresentadora do Jornal Nacional (TV Globo), que dizia em vídeo que o então presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), tinha 44% das intenções de voto, enquanto Lula (PT) tinha 32%.

Na edição original, que foi ao ar em 15 de agosto do mesmo ano, a apresentadora divulgou os corretos dados da pesquisa do Instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec): Lula com 44% e Bolsonaro com 32% nas urnas. O Instituto e a emissora constataram a falsidade dos dados e do vídeo que circulava nas redes, denunciando o conteúdo ao Sistema de Alerta de Desinformação Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao Ministério Público Eleitoral (MPE).

Já em 2024, em Pernambuco, um perfil na rede Instagram foi suspenso por uso de deepfake para difamar o então prefeito de Agrestina, Josué Mendes, e a pré-candidata à prefeitura, Carmen Miriam, ambos do PRB. O vídeo registrou 10 mil visualizações e mais de 300 compartilhamentos. No mesmo ano, a candidata à prefeitura de Ipojuca, Adilma Lacerda (Progressistas), teve conteúdo audiovisual manipulado circulando nas redes, com declarações fabricadas.

Esses são apenas alguns exemplos de como as deepfakes devem atrair as atenções - e elevar a preocupação - das autoridades com a proximidade das eleições de 2026, sobretudo com a sofisticação da tecnologia que permite a produção de vídeos, áudios e imagens ultrarrealistas produzidos com conteúdos manipulados.

Apesar das proibições legais e da determinação que qualquer conteúdo de IA deva ter aviso explícito, já foram registradas na Justiça Eleitoral, em 2025, 51 processos que fazem menção às deepfakes. A quantidade de ações do tipo saltou de três, em 2022, para 109, em 2024. Os dados são do Diário Eletrônico da Justiça.

Ainda este ano, a Advocacia-Geral da União (AGU) já fez 12 pedidos de retirada de conteúdos falsos - nove foram atendidos. Casos assim foram registrados no Maranhão, Piauí, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e outros lugares do Brasil, envolvendo políticos de diversos partidos.

 

Nova fase tecnológica e as eleições

“É importante reconhecer que estamos entrando em uma nova fase, caracterizada pela produção massiva de materiais com alta qualidade técnica, algo que não existia há alguns anos”, explica o advogado especialista em direito digital Pedro Silveira.

Ainda segundo o especialista, a Justiça Eleitoral acompanha melhor o ritmo acelerado do avanço tecnológico, visto que o TSE ajusta suas próprias regras, chamadas de resoluções, de forma mais rápida, sem precisar passar pela burocracia do Congresso Nacional.

 

Pesquisador Cleber Zanchettin, professor Associado do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Professor Visitante Adjunto na Northwestern University, EUA. Doutor em Ciências da Computação pela UFPE.
Pedro Silveira, especialista em Direito Digital e autor do livro A LGPD Comentada
Ulisses Matheus, mestre e doutorando em Ciência Política (UFPE) e advogado (UFPE). Participa do Centro de Pesquisas sobre Comportamento Político e Opinião Pública vinculado ao departamento de Ciência Política da UFPE. Integra o Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Redes Midiáticas (CP-Redes).
Um estudo do Brennan Center (EUA, 2025) alerta que, mesmo sem impacto eleitoral direto, as deepfakes erosionam a confiança pública, reforçam divisões políticas e dificultam o discernimento da verdade nas eleições.
Apesar da proibição legal, a fiscalização ainda é refratária à sofisticação das deepfakes — o que representa um risco real para a integridade eleitoral.
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