denúncia
Karina Buhr afirma ter sido estuprada e extorquida por Dito d'Óxossi
Por: Viver/Diario
Publicado em: 23/12/2019 16:42 | Atualizado em: 24/12/2019 08:15
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Foto: Julia Rodrigues/Divulgação |
A cantora Karina Buhr usou as redes sociais na manhã desta segunda-feira (23) para denunciar uma sequência de casos de extorsão, coação, abuso sexual e estupro praticados contra ela pelo Pai Dito D'Oxóssi, vocalista do afoxé Ylê de Egbá, falecido no dia 15 desse mês. No texto, intitulado Ele morreu e o inferno ressuscitou pra mim, publicado na plataforma Medium, a artista narra os episódios de violência e explica porque decidiu falar sobre o assunto depois de quase 20 anos. Procurada, a família de Dito se mostrou surpresa com a denúncia e decidiu não se pronunciar até o momento.
"Certamente ouvirei 'mas ele morto não pode se defender', ao que respondo: quem não pôde se defender fui eu! Certamente ouvirei que não estou respeitando a família num momento de dor. Respeito sim. Respeito a dor de cada um deles e de todos que consideravam Dito como pai. E peço que também respeitem a minha dor, que já dura mais de 20 anos. As vítimas de estupro possuem até 20 anos após a prática dos crimes para denunciarem o agressor. Ele, como babalorixá, me chamava de filha e usou sua força e autoridade dentro desse contexto pra escravizar minha mente e meu corpo", diz a cantora em seu texto.
"Certamente ouvirei 'mas ele morto não pode se defender', ao que respondo: quem não pôde se defender fui eu! Certamente ouvirei que não estou respeitando a família num momento de dor. Respeito sim. Respeito a dor de cada um deles e de todos que consideravam Dito como pai. E peço que também respeitem a minha dor, que já dura mais de 20 anos. As vítimas de estupro possuem até 20 anos após a prática dos crimes para denunciarem o agressor. Ele, como babalorixá, me chamava de filha e usou sua força e autoridade dentro desse contexto pra escravizar minha mente e meu corpo", diz a cantora em seu texto.
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Dito d'Óxossi. (Foto: Marcelo Soares/Esp. DP) |
A artista conheceu o Ylê de Egbá em 1998, na Cantina Z4, colônia de pescadores em Olinda e passou a integrar o grupo. Nas reuniões espirituais, Dito incorporava as entidades Malunguinho, Ritinha, Mestre Paulo, Aninha e Malandrinho. "Nunca questionei se eram realmente entidades, tinha certeza que sim. Um dia toca meu telefone e é Malandrinho dizendo que está embaixo do prédio e quer subir. Achei muito estranho mas eu confiava em qualquer coisa vinda dessa entidade e também de Dito e concordei que subisse", relata.
No primeiro episódio de estupro, praticado em sua casa entre 2000 e 2001, Karina conta que ele a levou para o quarto, a colocou de joelhos no chão e agiu como se fosse começar uma sessão de conselho religioso. "Achei estranho o pedido pra ajoelhar mas fiz. Ele então abriu o cinto, abriu a calça e botou o pênis na minha boca. Tirei minha boca e ele disse que dessa forma eu não ia conseguir nada na vida, que eu conseguir fazer aquilo seria a prova de que eu era forte, que o pênis dele ficar duro era um sinal da minha força, que aquilo não era errado, as pessoas que viam dessa forma, que aquilo era a energia dele vindo pra mim. Em seguida, ele me botou de quatro, eu sem reação, e seguiu o estupro, dessa vez com penetração", conta a artista, que relatou em seu texto mais outros dois episódios de estupro.
"Estupros aconteceram 3 vezes e uma outra vez aconteceu algo que não sei como terminou, minha mente apagou. Estava na casa dele e seria um dia inteiro de rituais. Passei o dia todo ali preparando as coisas e convivendo com todos", lembra a cantora.
A artista também relata situações de coação e extorsão praticadas por Dito para que ela financiasse as obras da sede do Afoxé, manutenção de equipamentos, entre outros. "Eu pagava muitas coisas, do tecido pra fazer roupas do afoxé a material de construção pras reformas infindáveis da casa. Sempre tinha pedidos de entidades e eu teria que comprar colares e pulseiras de ouro, anel de pedra tal, chapéu original de tal marca, bengala da Nigéria… Chegou a um ponto em que eu doava todo e qualquer valor que me viesse pelo meu trabalho, embora eu trabalhasse cada vez menos. Eu não tinha a quantidade de dinheiro necessária pra bancar tudo aquilo então comecei fazer o que nunca tinha feito antes na vida, pedir emprestado freneticamente, bolar planos, enganar minha mãe e meu pai. E nada disso era pra mim", narra.
Ao longo do texto, Karina ressalta que o ocorrido não tem relação com os ritos do candomblé. "Que o que eu vou falar aqui não sirva de munição pra ninguém desvalorizar ou atacar candomblé e umbanda. O que vivi poderia ter acontecido num templo, numa igreja, qualquer outra casa religiosa", pondera.
De acordo com a promotora Henriqueta de Belli, a cantora foi até a 3ª Vara Criminal do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em Olinda, há um ano atrás, acompanhada de uma advogada da ONG Gestos e relatou, por horas, as violências sofridas. "Eu tive contato com os relatos pela primeira vez naquele dia, anotei e tenho tudo por escrito até hoje, mas fiquei aguardando o momento em que ela quisesse que eu desse segmento com o caso", relata Henriqueta.
De acordo com a promotora Henriqueta de Belli, a cantora foi até a 3ª Vara Criminal do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em Olinda, há um ano atrás, acompanhada de uma advogada da ONG Gestos e relatou, por horas, as violências sofridas. "Eu tive contato com os relatos pela primeira vez naquele dia, anotei e tenho tudo por escrito até hoje, mas fiquei aguardando o momento em que ela quisesse que eu desse segmento com o caso", relata Henriqueta.
Algum tempo depois, Karina voltou a procurar a promotora e disse que estava com medo de algo acontecer à mãe caso revelasse os episódios de violência. "Ela estava em São Paulo, onde mora, e a mãe no Recife. Então, ela optou por não dar andamento ao caso temendo que a mãe sofresse alguma retalização ou fosse vítima de algum delito. Mas agora, com a morte do agressor, o temor desaparece. Eu acho importante ela falar do que sofreu já que é uma artista e tem uma arte voltada a defesa dos direitos das mulheres", explica. As vítimas têm até 20 anos após a prática do estupro para denunciar o agressor. E, caso Karina tivesse optado por dar seguimento ao processo, Dito d'Oxóssi seria chamado para depor.
No fim da tarde desta segunda-feira (23), após um pedido de entrevista feito pelo Diario de Pernambuco a Karina Buhr, ela publicou esse post, na íntegra:
"O Diario de Pernambuco me procurou pra uma entrevista sobre o que aconteceu comigo mas não deu pra responder a tempo da matéria sair e ela já saiu.
Eu não queria dar entrevistas sobre isso, já tinha resolvido que não faria, porque o que eu tinha pra dizer disse no meu texto mas me deu vontade de responder por uma coisa específica que me foi perguntada e faço isso aqui.
A pergunta foi 'Você espera alguma posição da família dele sobre o assunto?'.
Ao que respondo: Da família dele só espero que encontrem paz no meio dessa tormenta.
Se algum conhecido deles quiser passar esse recado, obrigada".
Para ler a publicação da cantora Karina Buhr na íntegra, clique aqui.
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