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Música 'Deveríamos valorizar mais os artistas brasileiros', reclama Anitta, antes de show no Recife Artista apresenta turnê infantojuvenil neste domingo no Classic Hall. Leia entrevista

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/10/2017 10:38 Atualizado em:

Show das Poderosinhas reúne hits da carreira envoltos em figurino e cenário coloridos. Foto: André Passos/Divulgação
Show das Poderosinhas reúne hits da carreira envoltos em figurino e cenário coloridos. Foto: André Passos/Divulgação

A escalada de Anitta rumo à consolidação como estrela pop internacional se desenvolve em ritmo frenético e atípico para o brasileiro. Sob estratégias de marketing minuciosamente esquematizadas, ela subverte o fato de ter nascido na periferia carioca, ser mulher e surgir como funkeira para se firmar como ícone da música. Neste domingo, a turnê voltada para o público infantojuvenil desembarca pela primeira vez em Pernambuco (Classic Hall, 17h, com ingressos a partir de R$ 60) os principais hits embalados em figurino e cenários repletos de cores explosivas.

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Ela ainda desliza. A performance no Prêmio Multishow, em 24 de outubro, a mais esperada da noite, foi um ponto fora da curva de uma trajetória planejada em detalhes segundo decisões encabeçadas por ela própria. Com figurino aquém da importância da ocasião, acompanhada por milhões ao vivo e, depois, através da internet, ela penou para executar a coreografia enquanto tentava esconder os seios à mostra.

Mas os acertos são maiores e mais frequentes. O projeto CheckMate, através do qual se compromete a disparar um single por mês, supre as demandas urgentes da internet e dos fãs ávidos por novidades. As parcerias e amizades internacionais possibilitam a conquista de espectadores em todo o mundo e convites para além das fronteiras, como a participação no programa The tonight show starring Jimmy Fallon, em maio, para interpretar a música Switch, de Iggy Azalea, na qual fez participação.

Os elogios de nomes como Caetano Veloso, com quem cantou na abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro, com o também baiano Gilberto Gil, expurgaram boa parte das críticas contra ela. Os altíssimos investimentos em produção culminam em parcerias com astros como Diplo (Sua cara, com Pabllo Vittar), Poo Bear (Will I see you) e Alesso (Is that for me), clipes produzidos por grandes nomes dos bastidores, a exemplo de Giovanni Bianco, e um cotidiano no qual reuniões de negócios são intercalados com disputada agenda de shows.

Ficaram para trás a cantora-mirim de uma igreja católica no bairro pobre de Honório Gurgel e a promessa do funk do Furacão 2000, produtora com a qual assinou em 2007. O rebolado e a pegada pop de Show das poderosas, hit responsável por lançá-la meteoricamente aos holofotes da indústria musical, persistem, emoldurados por superproduções, centenas de profissionais e apoio financeiro e institucional de várias marcas de roupa e acessórios das quais é garota-propaganda ou pelas quais é patrocinada.

"Um dia, eu espero poder e conseguir mostrar para vocês o quanto é difícil trilhar este caminho que escolhi sendo mulher, jovem, transparente e favelada. Crescer onde cresci, sem grana, sem estrutura, sem oportunidades, começar cantando o ritmo que sofria preconceito por maior parte da população, ser sensual, ser solteira (ok, agora finalmente não mais), livre, estudiosa, esforçada, trabalhadora, dedicada, independente, 'pegadora' e plastificada assumida num país 'conservador'", disparou, após a polêmica do Prêmio Multishow, em um dos mais emblemáticos desabafos.

Anitta incorporou o discurso femininista (quem se lembra do fatídica aula dada por Pitty durante o Altas horas, da Globo?), exaltou o público LGBTT, escalou bailarinos plus size e com deficiências, fez tantas plásticas quantas quis, aumentou o decote, flertou até com a bossa nova, rebolou com roupas curtas em cada vez singular na qual subiu aos palcos e defende o funk com unhas e dentes. Dona da própria carreira carreira, é expoente burilado, maquiado e vendável da cultura que sai da periferia para sambar a elite intelectual do país - e desafiar a não dançar junto.

Entrevista // Anitta , cantora

"Padrão é algo que limita demais, né?"

Qual a diferença de cantar para crianças? A responsabilidade é maior? Toma algum cuidado com relação a uma possível sexualização de letras e/ou coreografias?
As crianças são muito animadas. Minha preocupação é fazer um show que traga alegria, seja uma experiência legal para eles. A maldade está muito mais nos olhos dos adultos do que nas crianças. Tenho um figurino especial para o show das poderosinhas, que é mais lúdico. A ideia é que crianças e pais possam usar esse momento para se divertirem juntos.

Você anunciou a inclusão de pessoas com síndrome de Down, com prótese e cadeirantes no seu balé. Antes, havia chamado a atenção com bailarinas plus size. Qual a importância de incluir pessoas que não seguem o padrão estético geralmente imposto à profissão?
Padrão é algo que limita demais, né? Não curto isso, de verdade. É preciso ter liberdade para ser quem você é. Ter essas pessoas comigo é uma honra, estou falando de pessoas talentosas. E não tem limite para o talento. Acho que é isso o que quero dizer. Falaram para mim que eu, uma menina simples de Honório Gurgel, não ia longe. Mas nunca acreditei nisso. E essas pessoas são exemplos de superação, de que é possível, sim, você realizar o seu sonho.

Você se firmou como uma das principais artistas do país e costuma falar das estratégias de gerenciamento da carreira. Continua à frente das negociações? O mercado musical brasileiro, em geral, carece de planejamento?
Eu gosto de participar de cada detalhe dos meus lançamentos, da minha carreira. Eu gerencio tudo, não tem nada de que eu não saiba. E vejo que está funcionando bem assim. É muito mais trabalho (risos), mas eu amo o que faço. Tenho uma equipe incrível comigo, que me ajuda no meu planejamento, mas estou ali à frente com eles. Os artistas precisam fazer seus trabalhos de acordo com sua verdade, com o que acreditam.

Você é a pessoa que mais usa Instagram Stories no mundo. Faz parte da sua estratégia profissional ou é por uma "mania" de usar redes sociais?
Eu gosto do Instagram. É uma ferramenta para eu divulgar o meu trabalho e estar próxima aos meus fãs. Acabo unindo o útil ao agradável.

Pelas redes sociais, temos a sensação de que você não para de trabalhar. Diminuiu o ritmo de shows diante de projetos como o CheckMate e as campanhas publicitárias? Pretende fazê-lo?
Meu ritmo segue intenso. Eu gosto de trabalhar, gosto do que faço. Tenho muito trabalho pela frente ainda.

Você tem feito parcerias com grandes nomes da produção musical no mundo. Você é uma pessoa perfeccionista?
Gosto de fazer o meu trabalho direito, tenho muito respeito pelos meus fãs e pela música. E levo isso em consideração quando faço algo. Se não for para fazer bem feito, eu prefiro nem fazer.

Seus últimos lançamentos foram em inglês, em parceria com artistas internacionais. Como você pretende intercalar singles em português e outras línguas?
Lancei Paradinha, em espanhol, e duas músicas em inglês, Will I see you e Is that for me. Tenho novidades vindo por aí, mas vocês precisam aguardar mais um pouquinho (risos).

Sua carreira tem agregado cada vez mais elementos do pop, embora sem se desligar do funk. Como enxerga essa incorporação nos próximos trabalhos?
Eu fiquei conhecida pelo funk, tenho muito orgulho disso e ele me fez chegar até aqui. Mas eu gosto de música, gosto de todos os gêneros. E minha essência está presente em tudo o que faço.

Você se disse desconfortável com o pedido do Rock in Rio de um show mais pop e sempre exalta o funk e reforça o valor do gênero como cultura. Ainda enfrenta resistência com o ritmo? A que associa o preconceito ainda destinado ao funk?
O preconceito existe. Mas é um gênero musical que faz parte da nossa cultura musical. Hoje, eu conquistei um lugar e vejo que as pessoas têm um outro olhar. Não é como ocorria lá no começo. Mas nós deveríamos valorizar mais nossos artistas brasileiros, nossas músicas, em especial o funk.

Depois de tantas conquistas, você consegue dizer "aonde quer chegar"?
Quero continuar trabalhando, fazendo o que faço. Sou privilegiada por viver do que eu amo, da minha arte. E o que eu almejo é continuar assim. Tenho muitas ideias e vou realizando. Vivo o meu presente. E estou feliz com o que conquistei.

SERVIÇO
Show das poderosinhas, com Anitta
Onde: Classic Hall (Centro de Convenções, Olinda)
Quando: 29 de outubro. Abertura dos portões às 17h
Quanto: a partir das R$ 60
Informações: 3427-7500

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