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Alessandra Leão e Kiko Dinucci expurgam as agonias metropolitanas juntos no Coquetel Molotov

Atrações do Palco Sonic, artistas se encontram em cena e correlacionam o caos urbanos do Recife e de São Paulo

Publicado em: 19/10/2017 17:46 | Atualizado em: 19/10/2017 17:47

Alessandra Leão e Kiko Dinucci dividem o palco no Coquetel Molotov. Fotos: Bia Varella/Divulgação e José de Holanda/Divulgação

Uma pernambucana radicada na capital paulista e um paulista sempre em diálogo com o Recife trazem dois importantes lançamentos para o Estado. Abordando temáticas inerentes às transformações provocadas pela vivência em grandes metrópoles, com seus caos e gritos de guerra, que ora pedem socorro e ora apontam novos caminhos, Alessandra Leão e Kiko Dinucci vão se encontrar em palco e garantem duas das apresentações mais pesadas do Palco Sonic, durante a 14ª edição do Festival No Ar Coquetel Molotov, que ocorre neste sábado (21), a partir das 13h, no Caxangá Golf & Country Club, no bairro da Várzea.

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Alessandra Leão traz para o Recife um apurado da trilogia de EPs que lançou dos últimos anos: Pedra de sal (2014), Aço (2015) e Língua (2015). "Como o show é menor do que a gente vêm fazendo, vamos fazer um pouco diferente em termos de repertório, mas mantendo os mesmos princípios. A trilogia tem um percurso, uma trajetória imagética, que parte de um mergulho. E a gente refaz esse mergulho no repertório do show", explica Alessandra, que sobe ao palco acompanhada de Caçapa (guitarra), Rafa Barreto (guitarra), Missionário José (baixo), Abuhl Júnior (percussão) e Gustavo Souza (bateria).

"Eu estou bem feliz com a repercussão desses trabalhos. Quando a gente começou a lançar os discos, soou como algo transitório para algumas pessoas por não se tratar de um álbum completo. Mas o formato de EP foi uma opção estética nossa e a gente não sabia muito como ia ser a repercussão disso e até onde essa imagem que estava se formando iria ficar clara para as pessoas", comenta a cantora.

Alessandra traz músicas de trilogia de EPs para show no Recife. Foto: Bia Varella/Divulgação


A apresentação conta ainda com a presença do músico paulista Kiko Dinucci (Metá Metá), parceiro de longa data, que apresenta show solo um pouco mais cedo, no mesmo palco. "Kiko é meu parceiro desde 2009, ele gravou no Dois cordões (2009) comigo, a gente também teve um show em duo por muito tempo. Brincamos sempre que ele é da banda, tanto que ele faz parte dos três capítulos, ou em parceria ou em participação mesmo", conta, lembrando que teve o primeiro contato com Dinucci através da rede social My Space, por onde começaram a trocar figurinhas sobre seus trabalhos". "Eu participei dos discos dela, ela participou do meu. Somos vizinhos aqui na Barra Funda, então é uma relação muito próxima. Ela não sabe ainda, mas vou convidá-la para o meu show também", revela Dinucci, em resposta à pernambucana.

"A expectativa de tocar no Recife é sempre grande, principalmente agora que eu estou aqui. Fiz outros shows no Recife nesse período, mas não com banda. Então rola aquela animação ansiosa de chegar com a faca nos dentes", conta Alessandra, traçando um paralelo de sua relação entre a cidade e o repertório. "Esse show tem muito a ver com Recife, principalmente com Pedra de sal, que é mais pesado e fala sobre esse meu caminho do Recife para São Paulo. Algumas pessoas me questionaram sobre eu ter me inspirado na metrópole paulista, mas minha inspiração principal é o Recife: ele é ruidoso, caótico e até mesmo violento."



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Cortes curtos

Um dos mais concorridos nomes da música contemporânea, com participação em mais de 30 discos apenas nos últimos cinco anos (entre eles, os elogiados Nó na orelha, de Criolo, e A mulher do fim do mundo, de Elza Soares), Kiko Dinucci apresenta no festival as canções que compõem o seu primeiro disco solo: Cortes curtos (2017). "Solo" no modo de falar, tanto no registro quanto na apresentação ele sobe ao palco com uma potente formação de "power trio", composta em conjunto com Marcelo Cabral, no baixo, e Sérgio Machado, na bateria. "A gente faz o show bem parecido com o disco, com as músicas meio emendadas, então é praticamente o show de uma música só", brinca, sobre a apresentação que garante vir ainda mais pesada que o mostrado no disco.

Apesar de ter saído apenas no início desse ano, o primeiro disco com a cara e assinatura do músico foi maquinado a passos lentos, em um processo de desapego e reconstrução que durou seis anos até chegar nos ouvidos dos fãs. "Eu comecei a pensar nesse álbum em 2011, escrevi as músicas e botei numa gaveta. Foram umas 40 micro músicas. Deixei ali parado e depois veio os trabalhos com a Metá Metá e com a Elza, acabei deixando pra depois. Mas achei bom porque, nesse processo, ele amadureceu e acabei jogando muitas dessas ideias fora", explica o músico.

Marcelo Cabral, Sérgio Machado e Kiko Dinucci lançam Cortes Curtos. Foto: José de Holanda/Divulgação


Com a agenda de shows corrida e dezenas de parcerias e participações em trabalhos de amigos, Cortes curtos só veio ser gravado no final de 2015 e ainda ganhou outro tempo de "molho" para ser lançado no início deste ano. "Mesmo gravado em 2015, esse trabalho me soa muito novo. Lógico que eu já estou pensando em fazer outras coisas, mas eu não fiquei mexendo muito nele nesse tempo. Então ele é super atual", observa.

A contemporaneidade se faz presente na imersão do caos urbanos das grandes metrópoles, de onde despontam questionamentos diversos. "Esse caos urbano é um tema que aparece em vários trabalhos meus, mas eu noto que desde 2011, em músicas como Crack pra ninar e Uma hora da manhã (presentes em Cortes curtos), eu já estava sentindo uma certa panela de pressão apitando. Se você pegar Uma hora da manhã, por exemplo, ela fala sobre homofobia. Já era um tema gritante mas era um problema que estava debaixo do tapete e que explodiu agora", recorda o artista. "A partir de 2012, os discos que eu comecei a fazer vieram mais espinhosos, como os do Metá Metá e da Elza, que é bastante sombrio. Isso é um reflexo do nosso tempo, e acho que Cortes curtos sintetiza isso".

Assim como o show de Alessandra Leão, para ele a apresentação no Recife também vem com gosto de estreia. "Estou super ansioso, super feliz. É um trabalho que não viajei muito e acho que meu grande sonho é tocar pelo Brasil mesmo, é quando a coisa faz sentido através da conversa com as pessoas", conta o músico, que se considera meio recifense. "Recife é uma cidade tão grande e urbana quanto São Paulo e acredito que as letras vão encaixar como luvas. Embora tenha a forte presença da água, esse atrativo natural fora do comum, do mangue e do Rio Capibaribe - uma relação com a natureza que São Paulo não possui -, eu sinto a mesma panela de pressão que pode explodir a qualquer momento."

Ouça Cortes curtos:



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