Seriado Futebol como trampolim para política marca nova fase de Club de Cuervos, da Netflix Terceira temporada da série estreia na plataforma de streaming

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/09/2017 15:51 Atualizado em: 04/10/2017 09:33

Irmãos disputam comando de time de futebol em Club de Cuervos. Foto: Netflix/Divulgação
Irmãos disputam comando de time de futebol em Club de Cuervos. Foto: Netflix/Divulgação

Cidade do México - Club de cuervos pode ser vista como uma série sobre os bastidores de um time de futebol. Os episódios transitam por estereótipos de jogadores, processo de contratação de atletas, rivalidade em campo, concentração durante campeonato, discussões nos vestiários. Com o avanço da produção cômica, a primeira latino-americana e falada em espanhol da Netflix, o seriado foge do reducionismo temático. O futebol aparece como pano de fundo na série que trata de poder, corrupção, machismo e conflitos familiares a partir da briga por herança, ou seja, da disputa pelo clube. A terceira temporada, cuja estreia ocorre na sexta-feira (29), destaca a relação política com o meio.

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Os dois primeiros anos do seriado mexicano retrataram a inserção da mulher no universo predominantemente masculino. No Brasil, por exemplo, ainda é minoria - ou quase exceção - clubes treinados ou presididos por mulheres. O pontapé inicial da série mexicana, lançada em 2015 na plataforma online, acompanhou a discórdia entre os irmãos Isabel, interpretada por Mariana Treviño, e Chava, vivido por Luis Gerardo Cacho, após a morte do pai, Salvador Iglesias. Os filhos herdaram o time de futebol Los Cuervos de Nuevo Toledo, o que gerou disputa interna pelo cargo de presidência do clube.

O conselho do clube elegeu Chava - filho irresponsável e nitidamente despreparado para o cargo - como presidente, sem considerar Isabel para o posto. Com a péssima gestão do herdeiro, o time entra em crise e cai para a segunda divisão. Já a segunda temporada acompanha Isabel à frente do clube, que busca a ascensão para a elite do futebol. Ao longo de dez episódios, ela enfrenta dificuldades financeiras e de relacionamento com os jogadores.

"Eu acho que a abordagem é um comentário social sobre a situação das mulheres. Acho que as mulheres estiveram batalhando em grande parte da história para ter um lugar, para ter uma voz própria. Serem capazes de proclamar um território dentro do padrão social, onde elas podem se expressar", disse Mariana Treviño ao Viver. Para ela, no processo em que as mulheres se esforçam para ter o melhor emprego e serem boas no que fazem, mesmo quando assumem cargo de poder, como o de presidente do clube, elas se deparam com obstáculos invisíveis. "Isabel incorpora bem essa luta, com a qual as mulheres têm lidado. Para não romantizar a questão, também usamos as suas habilidades de forma humana, expondo os defeitos. Você comete erros e isso também faz parte do personagem", diz.

Na terceira temporada, no entanto, os dois irmãos trabalham em conjunto. Após período desaparecido e retorno misterioso, Chava vislumbra candidatura política aproveitando a projeção conquistada com o clube - perfil semelhante a de políticos brasileiros que ascendem na política a partir da popularidade de um time de futebol. "Na primeira temporada, falávamos do que ocorre quando o poder cai em mãos equivocadas. O que pode ser mais grave que cair nas mãos de um político? É possível que Chava se lance a governador e isso nos permitiu abrir uma Caixa de Pandora para rir e criticar o universo patético em que estamos imersos no México e no mundo".

Mariana antecipa que a terceira temporada da série faz crítica social sobre as reais razões que movem os políticos. "Mostra o absurdo que às vezes sustenta o mundo da política. Quando você percebe que alguém quer ser governador e não tem história relacionada com a política e são apenas interesses pessoais", exemplifica. "Vemos o que se passa com as comitivas políticas: os assessores e o universo dos partidos, como funcionam e vão preparando o candidato", complementa Cacho. Agora, Chava começa a fazer política. "E Isabel, que lutava contra todos os obstáculos, ficou um pouco ilhada. E agora é como se eles estivessem tentando achar um caminho", conclui a atriz.

* A repórter viajou a convite da Netflix

Assista ao trailer da temporada:



Em detalhes

Novela mexicana
A série produzida pelo serviço de streaming se distancia do tom melodramático comum entre novelas mexicanas, mas preserva algumas características essenciais, como as cenas de brigas - sempre cômicas, vale salientar, como as discussões entre os irmãos - e a sede de vingança que alimentam os personagens da produção.

Machismo
A série faz uma sátira ao meio futebolístico, ironizando o gasto excessivo por parte de  jogadores milionários e o deslumbramento deles diante da fama. O discurso machista permeia o seriado, que também destaca o preconceito no segmento esportivo, a partir da imposição de que os jogadores devem se relacionar com muitas mulheres.

Humor atual
O cotidiano serve de matéria-prima tanto para diálogos quando para cenas cômicas da série. A internet é um personagem recorrente. Club de cuervos já mostrou como um vídeo pode viralizar e atrapalhar a reputação de uma pessoa pública - no caso, Chava foi "vítima" - ou como um tuíte pode provocar o afastamento de uma repórter esportiva.

Recuperação
Desde a estreia, há dois anos, a produção original da Netflix dividiu opiniões entre os telespectadores. Conquistou uma boa base de fãs, embora no Brasil não tenha gerado tanta repercussão. Parte disso se deve a uma suposta "descaracterização" sofrida pelo seriado na segunda temporada, acusada de ter se tornado caricata. O terceiro ano é uma chance para voltar aos trilhos.

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