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Heavy metal Sem Max e Iggor Cavalera, documentário narra trajetória e percalços de Sepultura No filme, a banda é mostrada tal qual um organismo vivo cercado de mística, cuja existência vai além da reunião dos integrantes

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 14/06/2017 08:44 Atualizado em: 15/06/2017 18:21

Andreas Kisser conduz boa parte da narrativa. Foto: O2Play/divulgação
Andreas Kisser conduz boa parte da narrativa. Foto: O2Play/divulgação


Nos fundos de uma garagem em Belo Horizonte, com pratos de bateria sustentados por cabos de vassoura e microfone preso a uma porta, uma das maiores bandas de heavy metal do mundo deu os primeiros passos, em meados dos anos 1980. A trajetória e os percalços enfrentados pelo grupo de metaleiros são retratados no documentário Sepultura endurance, exibido nesta quarta-feira (14) em sessões de pré-estreia. Na quinta-feira (15), o filme estreia no circuito comercial, em mais de 60 salas em todo o país - número expressivo se considerados o gênero cinematográfico e o gênero musical abordado.

Confira o horário dos filmes em cartaz no Divirta-se 

O longa-metragem é resultado de mais de 800 horas de material, entre gravações feitas pelo diretor paulista Otávio Juliano ao longo de seis anos acompanhando os músicos, além de imagens de arquivo. No corte de uma hora e quarenta minutos, a banda é mostrada tal qual um organismo vivo cercado de misticismo, cuja existência vai além da reunião dos integrantes. O aproveitamento de elementos de brasilidade para enriquecer a sonoridade do metal é um dos pontos ressaltados, desde a percussão com referências ao Nordeste, passando pela viola caipira do sertanejo, até a troca de experiências com tribos indígenas. 

Derrick Green teve a difícil tarefa de substituir Max Cavalera. Foto: O2Play/divulgação
Derrick Green teve a difícil tarefa de substituir Max Cavalera. Foto: O2Play/divulgação
As mudanças na formação da banda são um ponto nevrálgico do documentário, em especial a saída de dois fundadores, os irmãos Max (em 1997) e Iggor Cavalera (em 2006). Hoje integrantes do Cavalera Conspiracy, eles não somente se recusaram a gravar depoimentos para o filme, como proibiram a utilização de quaisquer imagens deles se apresentando ou de composições assinadas pela dupla. O filme resgata tanto o momento de crise com a ruptura quanto a reinvenção após a escolha de um novo vocalista, Derrick Green. 

Ausência dos Cavalera à parte, as lentes de Otávio Juliano captaram, por exemplo, a dificuldade do baterista Jean Dolabella (2006-2011) em se adaptar à puxada rotina de turnês. Abalado pela distância da família (problema comum a todos os integrantes), ele chega a levar um baita sermão do guitarrista Andreas Kisser sobre o compromisso com a carreira para, em seguida, deixar o grupo. Ele foi substituído por Eloy Casagrande, atual baterista do grupo. Esses conflitos, associados a outros tantos episódios de bastidores e a apresentações ao vivo muito bem capturadas em vídeo formam um curioso e instigante registro da trajetória da banda. 

Ensaios e processo criativo da banda são retratados. Foto: O2Play/divulgação
Ensaios e processo criativo da banda são retratados. Foto: O2Play/divulgação


ENTREVISTA // Otávio Juliano, diretor

Como surgiu o projeto de acompanhar a banda para a produção de um documentário e como ele mudou ao longo desses seis anos de gravações?
Começou com a ideia de fazer um documentário para marcar os 25 anos de Sepultura. Quando vimos, já passamos dos 30. Desde o início, tinha em mente fazer um cinema verité, ou seja, primeiro filmar e depois pensar no roteiro. Antes de tudo, precisava conhecer a banda. Acompanhei a gravação de dois álbuns, várias turnês, até reunir um material equivalente a mais de 800 horas. 

Tomada essa opção de gravar sem roteiro, foi difícil trabalhar com essas 800 horas para chegar até um corte final?
Enquanto eu filmava, já ia vendo para quais caminhos o filme estava me levando. Não sabia se seria um filme somente sobre a banda atual, sobre o que ela foi... Tanto, que só fui para Belo Horizonte, o berço do grupo, quando já estava bem maduro. Resolvi ir para lá e contar a história do começo. Isso porque, filmando a banda atual, percebi que o DNA é uma coisa que você não tira. Não dá para apagar a história. É que nem um filho. Você pode até renegá-lo, mas ele ainda vai existir. 

Como você contornou a ausência de Max e Iggor?
Após quatro anos, percebemos que eles realmente não iriam participar. Foi um desafio cinematográfico. Mas a essência da banda está ali, com o Paulo e o Andreas gravando nas ruas de Belo Horizonte. O filme foi feito pelo respeito que tenho pelo Sepultura. Não tem nada contra os irmãos Cavalera. Pelo contrário, o que eles fizeram é muito exaltado no filme, muito apreciado. 

Você conseguiu filmar momentos bastante íntimos da banda, como quando Andreas e Jean discutem no ônibus. Como foi estar presente nesses momentos de conflito sem invadir a privacidade do grupo?
Naquela cena eles não viram que eu estava filmando. É um grande momento, justifica todo o momento que passei com eles. Foi muito legal. Eles até se assustam quando veem a câmera. No geral, a banda foi muito aberta, nunca disse não filma isso, não filma aquilo... Se sentiram muito à vontade e eu estava aberto para captar tudo. Com o tempo eles relaxaram, era como se eu fizesse parte da equipe. Eles estão acostumados a viajar com muita gente. É uma coisa natural. 

O show dos 30 anos é uma espécie de apoteose do filme. Como foi registrá-lo? 
Usei 12 ou 14 câmeras para gravar. Estava tudo muito orgânico, pois eu já tinha acompanhado mais de 50 shows. Já tinha a confiança, pude colocar a câmera bem perto. A gente também colocou uma rampa para aproximar o público, porque o filme tem isso de aproximar. Queria que o espectador visse o que eu vi, além de mostrar o que foi a origem do Sepultura, em um mundo diferente, em que se mandava cartas e fita cassete para divulgar o trabalho. Queria mostrar como foi difícil. Foi uma coisa surreal eles estourarem lá fora sem estrutura, na garra, na vontade. 

+DEPOIMENTOS
“O Sepultura pegou a força do punk rock hardcore e o peso do Slayer e combinaram para criar um som único (…) É tribal, é algo que entra em você. Mesmo quando você não está acostumado com essa sonoridade, você sente que é parte de você. O Sepultura foi o primeiro a fazer isso” 
Corey Taylor, Slipknot

“Então o Sepultura surgiu e foi surpreendente. Foi um DNA totalmente diferente, um novo conjunto de estáticas e dinâmicas. Isso vem de um lugar diferente” 
Lars Ulrich, Metallica

“A sonoridade brasileira é única. Ela é copiada até nos dias de hoje por pessoas que foram influenciaras por ela. Mas Sepultura bbriu o caminho”
Phil Anselmo, Pantera, Down, Superjoint

“Eles fizeram algo diferente muito antes de todo mundo. Eles diminuíram o tom, cantando com uma voz sombria, pesada, quase um death metal”
David Ellefson, Megadeth



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