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Literatura Ariano Suassuna faz reflexão sobre a morte em manuscrito inédito Texto foi enviado ao jornalista Gerson Camarotti, que leu manuscrito durante Conversa com Bial

Publicado em: 17/06/2017 19:23 Atualizado em: 17/06/2017 19:31

"Acho que, na vida, até hoje, só houve, para mim, uma situação de sério risco de vida: eu vinha em avião que começou a pegar fogo", revelou escritor. Foto: Alexandre Gondim/DP
"Acho que, na vida, até hoje, só houve, para mim, uma situação de sério risco de vida: eu vinha em avião que começou a pegar fogo", revelou escritor. Foto: Alexandre Gondim/DP

Ariano Suassuna fez uma reflexão profunda sobre a morte em um manuscrito revelado pelo jornalista Gerson Camarotti durante o programa Conversa com Bial da sexta-feira (16), dia em que o dramaturgo completaria 90 anos. A carta foi enviada a ele depois de uma entrevista, realizada nos anos 1990, como resposta a uma pergunta feita por Gerson sobre o medo de morrer. "Queria saber se havia no escritor algum traço da personalidade de Chicó, do Auto da compadecida. Na peça, Chicó demonstra covardia diante da morte", afirmou o comunicador no seu blog. 

"Acho que, na vida, até hoje, só houve, para mim, uma situação de sério risco de vida: eu vinha em avião que começou a pegar fogo. Eu me portei bem, mas não sei se foi por coragem ou por ser uma pessoa que, por temperamento, sempre acha que tudo vai dar certo. Quer dizer: pode ter sido coragem, mas pode também ter sido otimismo imbecil", revelou Ariano no texto. Em vida, o poeta paraibano radicado em Pernambuco costumava se referir à morte como Caetana. 

Gerson esteve no talk show comandado por Pedro Bial na Globo para comentar a marca de 90 anos do nascimento de Ariano, celebrado com espetáculo, livros inéditos e filmes. Está programado para outubro o lançamento do livro inédito A ilumiara: Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores, resultado de mais de 30 anos de trabalho do dramaturgo e descrito como a "obra final" da sua vida. Nesta semana, estreou o musical Suassuna: O auto do reino do Sol, da companhia Barca dos Corações Partidos. 

A peça tem texto de Braulio Tavares, encenação de Luís Carlos Vasconcellos e músicas inéditas compostas por Chico César. No enredo, uma trupe de circo viaja a Taperoá, na Paraíba, para uma reverência ao "poeta Suassuna", que nunca tem o primeiro nome citado. "É uma forma mais poética, já que ele iniciou na poesia e a partir daí desenvolveu outras obras. Houve a decisão de chamá-lo de poeta em vez de dramaturgo ou escritor", detalha o ator Eduardo Rios, que vive Escaramuça no musical. 

Leia, na íntegra, o manuscrito de Ariano enviado a Gerson Camarotti:

Meu caro GERSON CAMAROTTI:

Você me fez uma pergunta sobre a covardia de Chicó, indagando se eu me pareço com ele nesse traço. Não sei. Acho que, na vida, até hoje, só houve, para mim, uma situação de sério risco de vida: eu vinha em avião que começou a pegar fogo. Eu me portei bem, mas não sei se foi por coragem ou por ser uma pessoa que, por temperamento, sempre acha que tudo vai dar certo. Quer dizer: pode ter sido coragem, mas pode também ter sido otimismo imbecil.

Por isso, acho que não sou covarde, como Chicó; mas também não posso afirmar que tenha coragem. Acho que só poderei saber isto se, no momento da morte – e caso minha agonia me dê tempo e condições para avaliar o que está acontecendo – eu olhar sem pavor a aproximação da Moça Caetana.

Um abraço de

Ariano Suassuna

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