Cinema Exibição de clássico de Hitchcock no Recife mantém vivo o legado do mestre do suspense Rebecca, de 1940, ganha sessão especial nesta terça-feira

Por: Eduarda Fernandes

Publicado em: 15/08/2016 21:07 Atualizado em: 17/08/2016 20:14

Longa-metragem do diretor britânico é estrelado por Joan Fontaine. Foto: YouTube/Reprodução
Longa-metragem do diretor britânico é estrelado por Joan Fontaine. Foto: YouTube/Reprodução

De Steven Spielbierg a Stanley Kubrick, de Brian de Palma a Martin Scorsese, é difícil encontrar um diretor que não cite Alfred Hitchcock como influência. Não é para menos: com mais de 50 longas no currículo, o cineasta britânico mudou definitivamente a maneira como se faz - e consome - cinema. O mestre do suspense ensinou muito mais do que apenas o susto ou a tensão - ensinou o romance, o sexo, o drama e até a comédia. Hitchcock é, indiscutivelmente, um dos mais importantes diretores da história do cinema.

Confira os horários dos filmes em cartaz no Divirta-se 

Em uma época na qual não existia internet ou canais de TV a cabo, Hitchcock conseguiu se manter vivo no imaginário do público cinematográfico, seja com estratégias de marketing - "Os Hitchcocks perdidos" foram cinco filmes retirados de circulação pelo próprio diretor nos anos 1960, para serem relançados somente após sua morte (Janela indiscreta, Um corpo que cai, O terceiro tiro, Festim diabólico e O homem que sabia demais) - seja pela capacidade de tornar a mais simples das histórias em longas inesquecíveis.

Não é surpresa, então, que o cineasta ainda seja tema de filmes, livros, festivais e mostras ao redor do mundo, 36 anos após sua morte. Em 2012, Anthony Hopkins viveu Hitchcock no filme homônimo, que ficcionalizou os bastidores de Psicose e o relacionamento do britânico com a esposa, Alma Reville, interpretada por Helen Mirren. No mesmo ano, a HBO produziu A garota, sobre a relação do diretor com a estrela de Os pássaros, Tippi Hedren. Em 2015, o Festival de Cinema de Cannes recebeu o documentário Hitchcock/Truffaut. Nele, David Fincher, Wes Anderson e outros diretores renomados comentam a famosa entrevista que Hitchcock concedeu ao cineasta francês François Truffaut, documentada em um livro, considerado a "bíblia" dos cinéfilos.

Anthony Hopkins e Toby Jones já interpretaram o diretor no cinema. Foto: Reprodução
Anthony Hopkins e Toby Jones já interpretaram o diretor no cinema. Foto: Reprodução

A influência de Hitchcock na literatura, embora menos conhecida, não é pequena. Além de inspirar milhares de textos e análises acadêmicas - entre eles, o famoso Prazer visual e cinema narrativo, artigo publicado pela crítica Laura Mulvey em 1975 que deu o pontapé inicial para a criação da teoria feminista do cinema -, o cinema de Hitchcock continua sendo tema de biografias e livros documentais, como o de Stephen Rebello, que deu origem ao filme de 2012. Escrito ao longo de mais de cinco anos, a obra conta com depoimentos de centenas de pessoas envolvidas com Psicose para desvendar o mistério do enorme sucesso do longa.

Rebello não foi o único a encontrar em Hitchcock um personagem intrigante: Donald Spoto, famoso biógrafo norte-americano, dedicou quatro de suas obras a desvendar os muitos aspectos da vida e trajetória artística do mestre do suspense. Além deles, escritores de ficção, como Stephen King e Neil Gaiman, já admitiram que se inspiram nas atmosferas carregadas de tensão que só Hitchcock conseguia reproduzir para criarem suas histórias. Tal influência é merecida para um diretor que tirou da literatura a fonte para muitos de seus filmes.

Em 1960, Hitchcock pediu a sua assistente que comprasse todos os exemplares que conseguisse encontrar de um livro escrito pelo até então desconhecido Robert Bloch - é que o romance seria a base para seu novo e ousado longa, e o diretor precisava manter em segredo a morte da personagem principal no chuveiro e a dupla personalidade do assassino. O livro foi relançado no Brasil em 2013.

Nos anos 1950, Hitchcock ficou furioso ao saber que não tinha sido o primeiro da fila para comprar os direitos do livro As diábolicas, da dupla Boileau-Narcejac. Henri-Georges Clouzot o transformou no filme homônimo, e o sucesso foi tanto que chegaram a chamar o diretor francês de o novo mestre do suspense. Ao saber da vontade de Hitchcock de adaptar o livro, a dupla escreveu D’entre les morts, especificamente para que o cineasta o comprasse. A estratégia funcionou, e a história serviu de base para Um corpo que cai, lançado em 1958 e eleito o melhor filme de todos os tempos pelo Instituto Britânico de Cinema em 2012, desbancando Cidadão Kane, que ocupava a posição desde 1962.

D’entre les morts, lançado no Brasil com o título Vertigo, é um dos dois livros que a Editora Vestígio lançou em junho deste ano. Com um histórico de lançamentos relacionados ao cinema – a editora foi responsável pela publicação do livro que originou Spotlight, ganhador do Oscar de melhor filme em 2016 -, a editora conta ainda com o romance A dama oculta, de Ethel Lina White, cujo filme é considerado o auge da carreira britânica de Hitchcock. Os livros, ambos em capa dura e acabamento de luxo, fazem parte da Coleção Hitchcock, que a editora pretende ampliar no futuro. Afinal, não são poucos os longas do diretor que tiveram início em livros.

O diretor tirou da literatura a fonte para muitos de seus filmes. Foto: Reprodução
O diretor tirou da literatura a fonte para muitos de seus filmes. Foto: Reprodução

A lista é longa: Janela indiscreta é originalmente um conto de Cornell Woolrich; Pacto sinistro, um livro de Patricia Highsmith; Os pássaros, outro clássico do cineasta, veio de um conto de Daphne du Maurier, de quem Hitchcock era fã - du Maurier foi responsável também pela história de Rebecca, a mulher inesquecível, que marcou a estreia do britânico no cinema hollywoodiano, em 1940. O longa ganhou dois prêmios Oscar e consagrou Hitchcock mundialmente – até então, o burburinho que ele criava se restringia ao solo europeu. 


Uma versão remasterizada de Rebecca chega aos cinemas recifenses nesta quinta-feira (18). A oferta e a demanda por produtos que celebrem ou expliquem Hitchcock ajuda a manter viva no imaginário popular a importância do diretor – legado esse que não deve nunca ser menosprezado. A própria Hollywood entende, tanto é que, nos Estados Unidos, todo dia 12 de março é comemorado o Dia Nacional de Hitchcock. E, se tem um diretor que merece um dia nacional, é o britânico de origem humilde que se consagrou como um dos mais inovadores cineastas da história do cinema. Afinal, mestre é mestre. 

 

Confira os horários de exibição de Rebecca no Recife:

Cinema São Luiz

18/08: 17h30

19/08: 19h30

21/08: 17h30

23/08: 17h30

Cinema do Museu

18/08: 18h

19/08: 20h

20/08: 16h30

21/08: 18h

Conheça o mestre


O ícone do suspense nasceu na Inglaterra em 1899 e sonhava em ser engenheiro. O gosto pelo cinema se deu ao começar a trabalhar com a afiliada britânica da produtora Paramount Pictures, onde ele desenhava os cartões de intertítulo para filmes mudos. Sua ascensão para diretor levou cinco anos, durante os quais ele trabalhou como roteirista, diretor de arte e assistente de direção. Seu primeiro longa, The pleasure garden, lançado em 1926, já mostrava a predileção de Hitchcock pelas louras – segundo ele, elas são mais misteriosas e passionais que as morenas e dão ótimas protagonistas de suspense. A loura mais famosa de Hitchcock foi Grace Kelly, com quem o diretor trabalhou em três filmes: Ladrão de casaca, Disque M para matar e Janela indiscreta. Rebecca, que marcou a mudança do cineasta para Hollywood, foi um dos poucos longas famosos protagonizado por uma morena, Joan Fontaine. Não menos importante são as colaborações de Hitchcock com Ingrid Bergman, em Quando fala o coração, Interlúdio e Sob o signo de capricórnio.

Mas nem só de suspense vive o mestre: Hitchcock dirigiu, em 1941, uma comédia romântica. Um casal do barulho é protagonizado pela rainha da comédia maluca, a atriz Carole Lombard. Apesar do sucesso de público e crítica que aproveitou durante toda sua carreira, o diretor nunca foi agraciado com a honraria maior do cinema: um prêmio Oscar. Recebeu, no entanto, um honorário pelo conjunto da obra, em 1968.
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