DIA DAS MÃES

As narrativas de ser mãe

Projeto 'Matrilinhas: literatura e maternidade' utiliza a literatura para propor oficinas e rodas de conversa em três cidades pernambucanas, buscando ouvir e compartilhar diferentes experiências com o tema

Publicado em: 11/05/2024 06:00 | Atualizado em: 11/05/2024 11:40

 (Karuna de Paula, à direita, em uma das rodas de conversa realizadas pelo projeto 'Matrilinhas: Literatura e maternidade'. Foto: Bruno Carvalho Vieira.)
Karuna de Paula, à direita, em uma das rodas de conversa realizadas pelo projeto 'Matrilinhas: Literatura e maternidade'. Foto: Bruno Carvalho Vieira.
Ao final das trocas, será produzido um material em formato de e-book a ser publicado ainda este ano
Com a intenção de inspirar reflexões sobre diferentes formas de representação da maternidade na literatura, especificamente no tocante às múltiplas formas de vivenciar o 'ser mãe', a pesquisadora e produtora cultural Karuna de Paula iniciou o projeto 'Matrilinhas: literatura e maternidades', que busca discutir a partir de rodas de leitura e oficinas afetos e problemáticas que permeiam a vida das mães. Recife, Olinda e Caruaru são as cidades pernambucanas onde as trocas serão realizadas, entre maio e junho, contando também com atividades remotas e a construção de um trabalho de narrativas com as experiências das participantes - o que, mais adiante, se transformará em uma publicação em formato de e-book, com previsão de lançamento para o segundo semestre deste ano.

Em 2021, o projeto começou a ser desenhado por Karuna, doutoranda em História pela UFPE e que atualmente pesquisa movimentos femininas da década de 1980 no Recife. Motivada pela sua própria maternidade, ela passou a ler autoras voltadas à temática, sobretudo de origem africana - uma série de leituras que a levou a novas ideias a respeito das distintas experiências e culturas de ‘maternagem’, marcadas por tradições e contextos sociais. E em abril deste ano, começaram algumas das atividades, como o encontro da poeta Regilda Simões com as mães de crianças atípicas, em Caruaru, e a discussão sobre maternidade e paternidade com alunos do núcleo do Projovem da Escola Mário Melo, no Recife.

Hoje e no dia 25 de maio, além dos dias 8 e 15 de junho, o projeto traz a oficina online gratuita 'Maternidades: literatura, escrita e potencialidades', com discussões sobre obras literárias produzidas por mulheres, conduzida pela professora Suelany Ribeiro, com a colaboração de Karuna. Já no dia 14 de maio, as mulheres do Coletivo Sol, no Alto do Sol Nascente, em Olinda, irão realizar um das rodas de conversa do projeto, que terá também o encontro com pessoas atendidas pela Amotrans-PE (Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco), no dia 22, na sede da instituição, no bairro da Boa Vista, no Recife. São explorados trechos de livros de Conceição Evaristo, Odailta Alves, Germana Acioly, Suelany Ribeiro, Guadalupe Nettel, Aline Bei, Priscila Obaci, Bell Puã, Ezter Liu e Cida Pedrosa, mulheres que vivenciaram esse processo, que mexe com os corpos femininos com útero, não apenas em uma esfera biológica, mas também psicossocial.

Ao Viver, Karuna explicou as origens do trabalho e destacou a importância da literatura e das artes na conscientização das mulheres sobre as diferentes formas de maternidade. "Fui atrás de estudar sobre a maternidade numa perspectiva história e foi assim que cheguei no livro da autora francesa Elisabeth Badinter chamado O mito do amor materno, uma leitura bastante provocadora que dava conta de comentar e desconstruir todo o modelo de maternidade incentivado pelo pela construção de uma moral social. Continuei estudando o assunto em outras obras e ouvindo outras mulheres para transformar isso em um projeto maior, em que eu pudesse com isso me sentir acolhida e propiciasse às mães e não-mães um momento de fala e de escuta", comentou a pesquisadora. "A literatura é uma ferramenta de transformação social, em que a gente pode trabalhar sentimentos e questões pessoais numa chave universal. Através da literatura, podemos nos reconhecer nas narrativas de outras mulheres e outras pessoas. Por isso que um dos nossos principais objetivos é produzir um material de narrativas escritas dentro do campo da literatura sobre cada uma das interessadas a compartilhar suas memórias".

Karuna relatou ainda como a experiência pessoal dela como mãe foi fundamental no processo criativo e profissional da sua carreira. "A maternidade mexeu criativamente e profissionalmente de modo muito profundo comigo. Trouxe uma força de ação para mim que fez com que me redescobrisse desde o parto, quando achei que não tinha mais força nenhuma e veio uma força de dentro que me fez conseguir terminar de parir minha filha. Muitas vezes a vida nos faz achar que não temos mais forças e é aí onde eu lembro desse momento do parto e percebo que tenho dentro de mim", completou.
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