Música Rádio Frei Caneca deve ter 90 minutos de jornalismo diário e pelo menos 30% de músicas locais Emissora pública está em fase de testes

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/08/2016 13:30 Atualizado em: 29/08/2016 12:12

Rádio propõe o mínimo de 30% da programação dedicada à música local, além de conteúdo educativo e programação voltada ao público infanto-juvenil. Foto: Arte de Greg sobre foto de Teresa Maia/DP
Rádio propõe o mínimo de 30% da programação dedicada à música local, além de conteúdo educativo e programação voltada ao público infanto-juvenil. Foto: Arte de Greg sobre foto de Teresa Maia/DP

Em fase de transmissão experimental, a Rádio Frei Caneca FM vem ganhando forma, diretrizes, voz. Enquanto estabelece identidade própria com boa repercussão entre os ouvintes, aguarda visita de concessão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) - à qual já foram remetidos convite e relatórios formais - para operar formalmente.

O documento com as propostas de trabalho da emissora pública, formulado há dois anos e submetido na última semana a ajustes ortográficos, deve ser homologado nos próximos dias. A produção de 90 minutos diários de conteúdo jornalístico, sendo metade do tempo dedicado a temas locais, três horas semanais de programação voltada ao público infantil e infanto-juvenil e a garantia de pelo menos 30% de artistas pernambucanos na grade de programação musical estão entre as principais proposições.

A emissora, idealizada pelo ex-vereador Liberato Costa Junior e aprovada em 1960, opera desde o dia 30 de junho na frequência 101,5 FM. Antena, torre e transmissor estão instalados no Compaz do Alto Santa Terezinha, na Zona Norte do Recife, distante aproximadamente três quilômetros da equipe de quatro funcionários - que será reforçada, nas próximas semanas, por outros três colaboradores - responsável pelo desenvolvimento da programação, instalada provisoriamente no Paço do Frevo, no Bairro do Recife.

Hoje, quem sintoniza a frequência ouve não somente músicas pernambucanas, mas nacionais e estrangeiras. Além dos locais Johnny Hooker, Otto, Di Melo, Mundo Livre, Nação Zumbi e Academia da Berlinda, entre outros conterrâneos, soam as vozes de Elis Regina, Elza Soares, Céu e Gal Costa, além de hits dos Rolling Stones, The Strokes, The White Stripes.

Patrick Torquato, gerente de Música da Prefeitura do Recife, foi curador do repertório da fase experimental. Foto: Jedson Nobre/Divulgação
Patrick Torquato, gerente de Música da Prefeitura do Recife, foi curador do repertório da fase experimental. Foto: Jedson Nobre/Divulgação
“Uma das propostas é quebrar o paradigma anglo-americano: as rádios tocam somente artistas norteamericanos cantando em inglês. Nós contemplamos outros idiomas, como o francês e espanhol”, diz Patrick Torquato, gerente de Música da Prefeitura do Recife, à qual a emissora é subordinada através da Fundação de Cultura da Cidade do Recife.

Quanto às composições locais, ele explica: “Todos os gêneros musicais pernambucanos serão contemplados, sem elitismo. Claro que, como ferramenta educativa, a emissora não vai propagar músicas que objetifiquem a mulher ou incentivem a sexualização infantil, por exemplo. A grade será definida por equipe de programação, sob orientação democrática da sociedade. Será plural, diversa, representativa.” A cada 100 músicas dos 96 blocos (15 minutos cada) entre os quais se divide a programação atual, 50 pertencem ao gênero pop, 35 ao frevo e 15 a ritmos da cultura popular pernambucana, como forró, coco, ciranda, maracatu.

Para Cesar Cronenbold, presidente estadual da Central Única de Favelas em Pernambuco (Cufa - PE), a ativação da Frei Caneca revigora rádios comunitárias e abre novas portas à produção musical das periferias. “Ao contrário dos computadores, os smartphones são realidade nas favelas, e é através deles que os moradores ouvem rádio. Essas pessoas, mais da metade da população da cidade, precisam se sentir representadas. Agora, terão essa chance. O povo pernambucano quer ouvir frevo, forró, maracatu, mas também quer ouvir brega, bregafunk, punk rock. As periferias do Recife produzem tudo isso”, diz Cronenbold, que coordena as atividades da Cufa em 80 comunidades da RMR.

O projeto de estruturação da emissora prevê, além da ocupação de sede própria, a contratação de funcionários através de concurso público e a formação de um conselho gestor (sendo seis representantes da sociedade civil, um representante dos servidores da emissora e quatro representantes do governo) com funções fiscalizadoras e propositivas. “São anos de luta, vários participantes na construção simbólica da rádio. Para ser uma emissora realmente pública, precisamos de uma gestão compartilhada. Vamos acompanhar o processo final de implementação, se o formato atende aos anseios da comunidade cultural”, garante Eduardo de Matos, representante do Sindicato dos Músicos do estado.

>> GESTÃO

Para a validação das propostas da sociedade civil, foram convocados o Conselho Municipal de Políticas Culturais, FOPECOM , FNDC/PE, Centro Luiz Freire, CUT, CUFA, Centro Acadêmico de Comunicação Social da UFPE, Sindicado dos Radialistas de Pernambuco, Sindicado dos Jornalistas de Pernambuco, Fórum da Música de Pernambuco, Sindicato dos Músicos, Quilombo Malunguinho, entre outras entidades civis.

A partir delas, será formado o colegiado responsável por escolher membros da sociedade - inscritos voluntariamente como candidatos postulantes aos cargos - aptos a compor o conselho gestor da Rádio Frei Caneca. O mesmo colegiado elegerá, entre um mínimo de oito nomes indicados pelo governo, quatro representantes do poder público para a gestão. Até o fim do primeiro ano de funcionamento da rádio, um concurso público deve ser efetivado, a fim de que pelo menos 40% do efetivo da emissora seja contratado até o 13º mês de atividades.

>> PROPOSTAS

Produzir, no mínimo, 90 minutos diários de jornalismo (radiojornalismo; radiodocumentário; jornal noticioso; boletins de notícias; revista generalista, desde que possua reportagens e entrevistas), sendo um mínimo de 50% deste conteúdo local, independente da veiculação da Voz do Brasil.

Garantir o mínimo de três horas semanais de programas voltados para o público infantil e infanto-juvenil, com ênfase de conteúdos locais e regionais.

Incentivar e promover rotas e bens turísticos da Região Metropolitana do Recife.

Promover conteúdos educativos que contemplem literatura, música, geografia, história, ecologia, saúde, meio ambiente, matemática, filosofia, introdução às artes e outras áreas do saber, espalhados na programação como inter-programas curtos e em programas específicos semanais.

Realizar eventos culturais com cobrança de ingressos com a finalidade de estimular o mercado cultural da cidade, para eventos de público espontâneo pagante.

Desenvolver parcerias com emissoras de rádio comunitárias.

Gerir loja física ou virtual para venda de produtos ligados à emissora (discos, lembranças, souvenires) com produtos oriundos de SIC/Municipal, Funcultura e outros meios de incentivo.

Produzir coletâneas musicais, como a gravação de músicas instrumentais executadas por instrumentistas pernambucanas, dada a escassez de material gravado por mulheres no segmento.

Promover campanhas de combate à homofobia, ao machismo, ao preconceito.

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