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Show no Recife Nando Reis diz que há preconceito no Brasil: 'Sempre houve, não seria diferente com a área musical' Cantor volta à capital pernambucana para uma apresentação na Arcádia Apipucos, a partir das 22h

Por: Augusto Freitas

Publicado em: 15/07/2016 10:00 Atualizado em: 14/07/2016 19:02

Ex-Titãs, Nando Reis volta ao Recife para uma nova apresentação e promete vários sucessos no setlist. Foto: Leo Aversa/Divulgação
Ex-Titãs, Nando Reis volta ao Recife para uma nova apresentação e promete vários sucessos no setlist. Foto: Leo Aversa/Divulgação


Com a carreira solo consolidada ao longo dos últimos 15 anos, quando deixou definitivamente os Titãs, Nando Reis retorna ao Recife, nesta sexta-feira (15), para um novo show. A apresentação ocorre quase cinco meses depois de ele ter trazido à capital pernambucana a turnê Voz e Violão, em março. Agora, é a vez  de se apresentar no evento Luau, que segundo ele ainda é baseado na turnê Sei.

Letrista que se destacou compondo hits em parceria com os amigos da banda paulista e também outros artistas, sendo gravado, inclusive, por nomes como Cássia Eller, Skank, Marisa Monte, Jota Quest e Cidade Negra, Nando Reis lançou seu primeiro álbum solo em 1995, chamado 12 de Janeiro, mostrando a forte veia compositora e o talento como intérprete. 

Este ano, além das apresentações pelo Brasil, o paulista foi convidado para participar de um projeto internacional ao lado de Mike McCready, guitarrista da banda Pearl Jam, Duff McKagan, baixista do Guns n' Roses, e Barett Martin, ex-baterista do Screaming Trees. No show desta noite, a partir das 22h, na Arcádia Apipucos, ele terá a companhia de Os Infernais, banda que o acompanha há alguns anos. 

Em uma entrevista concedida por e-mail ao Diario, Nando Reis falou um pouco da carreira, rock, preconceito na música e o repertório do show desta noite, que terá sucessos como Do seu lado, O segundo Sol, Relicário, Sou dela, N e All Star, entre outros pontos. O cantor, inclusive, confirmou que nos próximos meses lançará um novo álbum com canções inéditas. Confira:

Você é um artista que vem ao Recife com certa frequência para shows, o que demonstra a empatia que o público local tem com o seu trabalho. Como você enxerga a renovação do público onde se apresenta? 

NR - Em geral, sou chamado e contratado para me apresentar nos locais onde há gente que se interessa pelo meu trabalho, caso do Recife. Quando me desliguei dos Titãs, 15 anos atrás, havia uma certa resistência dos produtores locais em me chamar por causa dessa ideia preconceituosa de que o Nordeste não gostava de rock. Isso também é uma ideia equivocada, em relação à diversidade do gosto do público. O meu é bastante eclético e abrangente. Vejo crianças, adolescentes, jovens, pessoas da minha geração... E isso é ótimo. A renovação do público atesta que minha música tem relevância para as novas gerações.

Você prefere shows mais intimistas ou apresentações para um número mais elevado de pessoas?

NR - Apresentações intimistas não necessitam ser lights. Eu faço shows tanto com banda como apenas acompanhado do meu violão. São totalmente distintos. Ambos me satisfazem.

O show que você traz ao Recife nesta noite tem uma atmosfera mais romântica? O Nando Reis romântico é diferente do Nando Reis rockeiro ou eles se completam? Como será o repertório?

NR - O show está sendo anunciado como Luau porque é o nome do evento. Não é do disco Luau, e sim o final da turnê Sei. Não existe separação entre o Nando Reis rockeiro e o romântico, sou um só. O repertório abrange músicas de todos os discos.

Este ano, o rock brasileiro celebra 30 anos de álbuns clássicos que surgiram em 1986, como Cabeça Dinossauro, dos Titãs, do qual você participou. Acha que naquele ano o rock brasileiro amadureceu? Qual a sua análise deste período?

NR - Não gosto muito dessa ideia de "amadurecimento" associado à qualidade de produção. Há bandas que nascem fazendo grandes discos. O rock brasileiro talvez tenha se consolidado dentro do rádio e do mercado nessa época. Embora o Cabeça Dinossauro seja um disco aclamado pela crítica e pelo público, eu acho o disco Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas genial.

Que outros álbuns criados em 1986, além de Cabeça Dinossauro, você destacaria como fundamentais para a estória do rock nacional?

NR - Legião Urbana (Dois), Paralamas do Sucesso (Selvagem?), Barão Vermelho (Declare Guerra) e Kid Abelha (Ao vivo) lançaram grandes discos, assim com Lulu Santos (Lulu).

Existe preconceito musical no Brasil? Há uma suposta elite que dita os rumos do mercado fonográfico?

NR - Sempre houve preconceito no Brasil. Não seria diferente com a área musical. Há uma ideia distorcida de que tudo que faz sucesso não tem qualidade nem integridade artística. Bobagem! Não faz o menor sentido essa afirmação de elite. O mercado fonográfico entrou em colapso há anos.

Você é um dos artistas que mais arrecada em direitos autorais no Brasil. Na sua opinião, o que poderia mudar para que os artistas não perdessem tanto com a pirataria, ainda um grave problema?

NR - O maior problema não é mais a pirataria, mas a falta de regulamentação na área digital. É um absurdo a ideia de que o "conteúdo" deva ser gratuito. Eu vivo disso. E esses portais ganham cifras milionárias com anunciantes.

Que análise você faz de sua carreira solo, iniciada em 1995, ainda nos Titãs? O que mudou no Nando Reis compositor e intérprete desde então e como é a relação do cantor e pai com os filhos, também artistas?

NR - Lancei meu primeiro disco, 12 de Janeiro, em 1995. Saí dos Titãs justamente para ter mais tempo para me dedicar ao meu trabalho, não ficar vinculado apenas aos buracos da agenda da banda. E aí sim, tive tempo e possibilidade para dar continuidade ao que queria fazer, gravar discos e fazer shows. Daí, naturalmente minha linguagem foi se desenvolvendo, se sofisticando. E trabalhei muito nesses anos. A relação com meus filhos é ótima. São talentosos e estão trilhando seu próprio caminho.

Quando os fãs do Nando Reis vão conhecer um novo trabalho?

NR - Lanço um disco novo, gravado em estúdio com 12 músicas de minha autoria, inéditas, em novembro, produzido por Barrett Martin e Jack Endino, e gravado em São Paulo e Seattle (EUA). Chama-se Jardim-pomar.


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