Música Turnê de 'preto com gay' de Ana Carolina e Seu Jorge mistura bossa, pagode e axé às músicas deles Show da dupla, 11 anos após álbum lançado em conjunto, será apresentado em Pernambuco em 22 de abril

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 04/04/2016 07:58 Atualizado em: 04/04/2016 15:45

Estreia do projeto foi neste fim de semana, em São Paulo. Fotos: Manuela Scarpa/Brasil News
Estreia do projeto foi neste fim de semana, em São Paulo. Fotos: Manuela Scarpa/Brasil News

São Paulo - Ana Carolina e Seu Jorge estrearam no fim de semana, em São Paulo, a turnê conjunta com a qual resgatam o projeto em dupla iniciado com o álbum Ana & Jorge, de 2005. Repertório eclético e roteiro amarrado, com poucas palavras, conduzem o show, com direção artística assinada por eles. Apesar da pouca interação com o público, a empolgação da dupla em palco fica nítida no gingado, pedido de palmas compassadas e até gritinhos dela, na inserção da versão internacional de Dindi, clássico de Tom Jobim interpretado por Frank Sinatra, por ele, e nas brincadeiras - e até gesto - de cunho sexual de ambos.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

Os amigos cumprimentam o público, após a quinta canção, apenas, com texto ensaiado no qual exaltam o fato de ele ser um negro nascido no subúrbio carioca e ela, gay. "A criança já tem 11 anos, é filha de preto com gay e é super bem-sucedida", reflete Ana. As frases marcam a passagem de tempo, com fatos históricos como a primeira presidente mulher do Brasil, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e o primeiro papa sulamericano (muito fofo, diz Ana), mas também lembram que, "naquela época, era legal usar Crocs e o mosquito da dengue só passava dengue", além de ironizarem a tomada de três pinos do país, a massacrante derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo e Xuxa ter trocado a Globo pela Record. "Eu tirei os quatro cisos”, solta Seu Jorge. "Eu peguei um monte de gente", provoca Ana. "E agora a gente está aqui, né?", finaliza ele.

Donos de vozes poderosas, os cantores e compositores espremem 30 músicas em aproximadamente duas horas de repertório. Na maior parte do tempo, estão juntos. Seu Jorge toca violão e baixo. Ana, guitarra, violão e pandeiro, instrumento com o qual se solta. Eles dividem o palco com o músico Rodrigo Tavares e o produtor e DJ Mikael Mutti, responsáveis pelos samplers e efeitos sonoros feitos nas músicas. A ausência de outros instrumentos (como bateria) pode incomodar alguns fãs acostumados ao CD da dupla e às trajetórias artísticas deles. A escolha estética pela música eletrônica é clara do início ao fim, à exceção de algumas versões acústicas ao violão mais próximas ao primeiro encontro, em 2005.



O repertório, definitivamente, não é preso ao disco Ana & Jorge: resgata, com novas roupagens, canções registradas no projeto como É isso aí, Comparsas/O pequeno burguês, Garganta e Carolina (uma das músicas pelas quais ele é processado na Justiça pelo brasiliense Rodrigo Freitas, sob acusação de plágio) e outras das carreiras solo de ambos os artistas. Pole dance, Rosas e Elevador, dela, e Mina do condomínio, Quem não quer sou eu e Burguesinha, dele, foram escolhidas para a turnê já confirmada em 11 cidades até junho. O diferencial, na verdade, está na seleção de trabalhos de outros artistas. O passeio por gêneros musicais geralmente sem comunicação escancara a curtição dos dois sobre o palco, cerca de 10 anos após o rompimento sem muitas explicações sobre as razões que levaram à ruptura.

Coleção, sucesso na voz da cantora baiana Ivete Sangalo, foi a primeira preferência inesperada, com direito a um "eu amo você" cantado por Seu Jorge em direção a Ana Carolina. "Esta é dessas músicas populares que a gente não tem muita oportunidade de cantar, mas eu queria", introduz a mineira, sozinha no palco, antes de Mal acostumado, do Araketu. Talismã, composta pelo recifense Michael Sullivan e Paulo Massadas e gravada pelo grupo de pagode Raça Negra e pela dupla sertaneja Leandro e Leonardo, também pode causar estranheza aos desavisados. Cantada apenas por ele, a canção foi definida por ele como música que marcou época e precedida pela versão gringa de Dindi. Da MPB, foram pinçadas ainda ainda Tiro ao Álvaro, de Adoniran Barbosa e Osvaldo Molles, e Chiclete com banana, de Jackson do Pandeiro.

Aliada à opção pelos samplers eletrônicos, a iluminação bem trabalhada e em tons escuros e de azul reforçam o roteiro "bem amarradinho" da noite. Ao fim, após bis com o recente single Mais uma vez – composto por Ana em parceria com o pernambucano Dudu Falcão, Gabriel Moura, Pretinho da Serrinha e Leandro Fab com pegada de sertanejo pop -, lançado neste mês, e Beat da beata, os dois dançam ao som da música eletrônica. Ana Carolina e Seu Jorge Encerram a noite como se estivessem na boate proposta por eles próprios durante todo o show.


Pernambuco será o quarto estado a receber a turnê, no dia 22 de abril, no Classic Hall (Olinda), após São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. Os ingressos custam R$ 120 e R$ 60 (meia), para pista, R$ 240 e R$ 120 (meia), para área VIP, R$ 1,3 mil (mesas VIP para quatro pessoas), R$ 1,6 mil (mesas premium para quatro pessoas) e R$ 1,5 mil a R$ 2,1 mil (camarotes para dez pessoas). Informações: 3207-7500.

Repertório

Tanta saudade
Pole dance
Mina do condomínio
Cantinho
Chatterton
É isso aí
Quem não quer sou eu
Não diga nada
Coleção
Sábado e domingo
Vox Populi
Comparsas/O pequenez e o pit bull
Tiro ao Álvaro
Chiclete com banana
Mal acostumado (Ana Carolina)
Pra rua me levar
Talismã (Seu Jorge)
Dindi (Seu Jorge)
Carolina
Sinais de fogo
Amiga da minha mulher
Rosas
Salve Jorge
Elevador
Burguesinha
Garganta

BIS
Mais uma vez
Beat da beata

* A jornalista viajou a convite dos organizadores da turnê


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