Arte Saraus estimulam apresentações e leitura coletiva, movimentando cena cultural pernambucana Além de grupos que se reúnem com regularidade, neste mês o movimento renova fôlego com a realização do Circuito de Saraus e Batalhas da Fundação Nacional de Artes

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 18/04/2016 13:15 Atualizado em:


Entre as iniciativas mais recentes, está o coletivo Controverso Urbano, que realiza encontros há cerca de um ano e meio. Foto: Paulo Paiva/DP
Entre as iniciativas mais recentes, está o coletivo Controverso Urbano, que realiza encontros há cerca de um ano e meio. Foto: Paulo Paiva/DP

Ler é, em essência, uma atividade solitária, mas muitos encontram prazer na leitura compartilhada. E, mais do que isso, enxergam na atividade em grupo um canal para a troca de experiências e, no caso de autores, uma maneira de apresentar o trabalho a novos leitores. Para isso, o ambiente dos saraus parece ideal: reúne artistas dispostos a se mostrar e um público aberto a novidades.

O termo pode soar pouco familiar ou anacrônico, mas o evento com apresentações espontâneas de artistas ganha espaço e representatividade no Recife. Além de grupos que se reúnem com regularidade, neste mês o movimento renova fôlego com a realização do Circuito de Saraus e Batalhas da Fundação Nacional de Artes, que tem início no dia 22, na Torre Malakoff (Praça do Arsenal da Marinha, Bairro do Recife).

Um dos grupos mais assíduos - e que está na grade do circuito - é o Sarau das Artes, que há sete anos promove encontros quinzenais na cidade. Além de poesia, as reuniões costumam ser marcadas por apresentações musicais, de dança, teatro e, até mesmo, comédia stand up, explica Oséas Borba Neto, diretor teatral e responsável pelo coletivo. A proximidade com as artes cênicas é, até mesmo, física: o grupo costuma promover os saraus em um bar ao lado do Teatro Barreto Júnior, no Pina.

“Acredito que o movimento dos saraus tem ressurgido por conta da falta de espaços para artistas locais mostrarem os seus trabalhos”, diz Borba Neto, que considera o formato ideal para a troca de vivências entre autores e o público. Entre as iniciativas mais recentes, está o coletivo Controverso Urbano, que realiza encontros há cerca de um ano e meio. A ideia, segundo Tacio Russo, um dos organizadores do movimento, é “reunir poetas e amantes da literatura para reacender a chama da vanguarda literária da cidade”. O grupo promove saraus periódicos no Parque 13 de Maio - o próximo será no dia 23 - e abre espaço para artistas apresentarem os trabalhos, bastando para isso comparecer ao local. “As coisas fluem de forma orgânica. Cada um escolhe o tempo, a forma de expor, de se mostrar para o mundo”, diz Russo.

Patrícia Naia, outra das poetas à frente do Controverso, considera como um dos pontos fortes do movimento dos saraus a possibilidade de interação e integração de diversos grupos: “No fim das contas, todo mundo acaba se conhecendo e contribuindo para dar espaço a autores que costumam ficar de fora dos holofotes”, afirma. Os eventos não só investem na promoção de novos artistas como também no resgate de autores pernambucanos: os saraus costumam contar com recitais e rodas de diálogo abordando obras de poetas locais já consagrados.

O poeta Felipe Roberto é um dos que tomaram gosto pelos saraus, tanto que, de frequentador, passou a realizador. “Comecei como participante do Sarau das Artes, em 2014, por incentivo de amigos que gostavam dos meus primeiros poemas e achavam que eu deveria mostrar para mais pessoas”, explica. No ano seguinte, após participar de outros eventos, realizou o primeiro sarau, junto a outros poetas iniciantes, na Praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista, na frente do casarão onde viveu Clarice Lispector. Atualmente, toca o projeto JaboArt, a cada dois meses na Praça Dantas Barreto, em Jaboatão dos Guararapes, com apresentações musicais e recitais de poesia. Para ele, é um jeito de levar arte a um público mais amplo e que, às vezes, descobre o evento por acaso, ao circular pela rua.

Intercâmbio

Outra ação que deve movimentar a cena literária da cidade nos próximos dias é a 2ª edição do Estados em Poesia, projeto colaborativo realizado por poetas, coletivos e saraus de Pernambuco e outros estados. O encontro, no dia 23, às 13h, no Vapor Comedoria e Bar (Rua Rocha Pita, 108, em Santo Amaro), vai reunir, além de pernambucanos, autores do Rio de Janeiro, da Bahia, de Sergipe e da Paraiba, numa programação com recitais, performances e roda de poesia. O evento tem curadoria e organização dos poetas locais Luna Vitrolira, Fred Caju, Giuseppe Mascena e Gleison Nascimento.

Os saraus

O que são
Encontros nos quais artistas (poetas, músicos, atores) se apresentam de maneira informal e espontânea ao público. Em geral, são apresentações gratuitas e abertas.

Como participar
Habitualmente, não exigem inscrições prévias, embora alguns grupos prefiram definir uma programação fechada por evento. O mais comum é que os interessados em mostrar trabalhos expressem a intenção e peçam espaço na hora para uma apresentação, geralmente curta.

 
Quem frequenta
Os organizadores consideram todos bem-vindos, inclusive para participar de maneira mais ativa, opinando sobre as performances e interagindo com quem está se apresentando.

Na agenda


Circuito Saraus e Batalhas da Funarte, dias 22, 23 e 27 de abril, 4, 5, 6, 11, 12, 13, 18, 19 e 20 de maio, 2 e 3 de junho. Sempre das 19h às 22h, na Torre Malakoff (Praça do Arsenal, Bairro do Recife)

 
Sarau Tropicália, dia 23 de abril, às 15h. No Parque 13 de Maio (Rua do Hospício, 671)

Sarau Poético-Musical de Biblioteconomia, dia 6 de maio, às 17h (Hall do Centro de Artes e Comunicações da UFPE, 123)


Grupos

Sarau das Artes
Encontros quinzenais no Bar Kibe Lanches - Av. Herculano Bandeira, 241, Pina (ao lado do Teatro Barreto Júnior) - facebook.com/saraudasartes

JaboArt
Evento bimestral
na Praça Dantas Barreto,
em Jaboatão Centro -facebook.com/JaboArte



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