Visuais Exposição de arte faz o público pensar sobre a necessidade de esperar Museu Murillo La Greca reúne obras de oito artistas que trabalham com noções de expectativa

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/02/2016 17:10 Atualizado em: 06/03/2016 20:41

Pinturas da artista Ana Sario retratam momento de transição antes da revelação das fotos Polaroid. Foto: Malu Cavalcanti/ DP (Malu Cavalcanti/ DP)
Pinturas da artista Ana Sario retratam momento de transição antes da revelação das fotos Polaroid. Foto: Malu Cavalcanti/ DP
 
Aquilo que está prestes a acontecer já pode ser considerado um acontecimento em si? Uma foto ainda não revelada já existe? Créditos de abertura podem funcionar sem um filme? Espaços vazios podem ter tanto conteúdo quanto a matéria? Questões em torno do sentimento de expectativa são transmitidas pelas obras da exposição coletiva Em espera, em cartaz no Museu Murillo La Greca, em Parnamirim.

Na parede de entrada, o público encontra uma ampulheta com formas harmoniosas e ao mesmo tempo irregulares. O objeto parece desprovido da função de cronometrar o tempo, já que não demonstra nenhum tipo de simetria ou rigor necessário para fazer a areia descer em velocidades constantes. Trata-se de uma escultura, elaborada pela artista Laura Vinci, que funciona como metáfora para a exposição como um todo.

Os oito artistas participantes (de quatro estados do Brasil) foram selecionados pelo pesquisador Douglas de Freitas (um dos curadores do Museu da Cidade de São Paulo), que aprovou o projeto no Murillo La Greca por meio do edital Amplificadores, voltado para exposições coletivas. Além de Laura (SP), também participam Amanda Melo da Mota (PE), Bruno Faria (PE), Tatiana Blass (SP), Ana Sario (SP), Marina Weffort (SP), Martinho Patrício (PB) e Guilherme Portela (RJ).


Bruno Faria projeta um vídeo formado por créditos de abertura e de encerramento de 100 filmes clássicos, sem mostrar nenhuma "cena" deles. Marina apresenta quadros vazados, feitos com tecidos desfiados, que parecem estar sempre em movimento (qualquer mínimo movimento de ar na sala faz as linhas balançarem, como se eles fossem movidos por forças invisíveis dos espaços aparentemente vazios). Portela produz enigmáticas imagens geométricas abstratas ao cobrir com tinta preta as figuras de um livro de História da Arte. Martinho simplesmente dobra pedaços de pano ornamentados e cria esculturas que podem ser associadas a rituais fictícios.

O tema da coletiva é aberto a interpretações tanto em relação às obras expostas quanto a questões mais gerais de caráter artístico ou político, já que o Brasil continua a ser eternamente "o país do futuro" (segundo a expressão criada pelo escritor alemão Stefan Zweig), onde o gesto de esperar pode ser considerado praticamente uma arte.

TRÊS OBRAS:

Amanda Melo da Mota (PE)
A artista participa da exposição com uma fotografia que a retrata deitada sobre um enorme boi da raça nelore. A imagem transmite harmonia e paz, apesar da referência às touradas. No lugar de estarem em ação, a mulher e o animal encontram-se em um delicado estado de relaxamento. Nos sentimentos do público, entretanto, a paz pode romper-se a qualquer momento.

 (Amanda Melo/ Divulgação)

Tatiana Blass (SP)
Em um teatro vazio, um pianista tenta tocar peças de Chopin, só que é impedido porque baldes de cera são derramados no interior do instrumento, na parte onde ficam as cordas e os martelos. O resultado é uma música que começa a ser ouvida, mas nunca se completa. A ação, produzida pela artista para a Bienal de São Paulo de 2010, é apresentada em um vídeo no Murillo La Greca.

 (Everton Ballardin/ Divulgação)

Ana Sario (SP)
As pequenas pinturas da artista parecem com fotografias Polaroid, só que aparentemente não há imagens nelas. No lugar de figuras, retratos ou paisagens, o que aparece são superfícies homogêneas de cor cinza. Ela representa aquele momento de transição anterior ao surgimento das fotos em si no processo de revelação instantânea. O resultado, portanto, está na própria expectativa.

 (Ana Sario/ Divulgação)

SAIBA MAIS - MURILLO LA GRECA:
Em espera é a primeira exposição da programação de 2016 do Murillo La Greca. As próximas são as individuais dos artistas Carlos Mélo (A palavra vista por dentro) e Isabela Stampanoni (Orquestra fantasia) e a coletiva Um firme e vibrante "Não" (com curadoria de Leonardo Azevedo). Todas foram aprovadas e serão patrocinadas por meio de editais públicos da Prefeitura do Recife, responsável pelo museu.

SERVIÇO
Exposição coletiva Em espera
Quando: Em cartaz até 28 de março, de terça a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h
Onde: Museu Murillo La Greca (Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, 366, Parnamirim, por trás do Plaza Shopping)
Quanto: Entrada grátis
Informações: 3355-3126

 (Malu Cavalcanti/ DP)


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