Música
Naná Vasconcelos contra o câncer: bom humor, projeto novo e tributo musical dos parceiros
Percussionista pernambucano deve receber alta hospitalar na manhã deste sábado
Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco
Publicado em: 12/09/2015 07:30 Atualizado em: 11/09/2015 20:19
Naná retorna aos palcos no fim do mês, em Maceió. Foto: João Rogério Filho/Divulgação |
Com o bom humor e a risada grossa que lhe são peculiares, Naná Vasconcelos explica não estar internado, mas “hospedado” no Hospital da Unimed, desde o dia 18 de agosto. Ele receberá alta hoje pela manhã, após conversa com jornalistas para detalhar as próximas etapas do tratamento contra o câncer no pulmão, diagnosticado após passar mal durante um show no Rio de Janeiro.
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O processo de compor não para. O título da matéria de um jornalista argentino - Um budista afro - inspirou uma música. "Estou com ela na cabeça e só pode ser escrita por Egberto. Ele entende a minha linguagem, os meus caminhos. Nós conversamos e ele queria vir, mas disse para esperar eu chegar em casa. Estou compondo aqui, claro". Também escreveu poemas e, em um caderno, passagens vividas no hospital.
O próximo gol será voltar aos palcos, no Festival Internacional de Teatro de Objetos, em Maceió, em 25, 26 e 27 de setembro. Hoje e amanhã, ele fica em casa, com a família. Na segunda-feira, retorna às caminhadas matinais e diárias no Parque da Jaqueira. "São vários grupos e ele faz parte de todos", conta a esposa e produtora, Patrícia Vasconcelos, sobre o vício saudável do músico.
Paulo Lepetit, Naná Vasconcelos e Zeca Baleiro compuseram as canções a distância. Foto: Matthieu Rougé/Divulgação |
O Café no bule (Sesc, R$ 30) surgiu como consequência desse primeiro trabalho. "Eu tinha uns grooves de Naná e sugeri um disco dele com Zeca. O Zeca acabou me promovendo a artista, compositor. Acabou criando uma 'triceria' muito boa. As composições, os arranjos, a produção do CD são dos três', recorda Lepetit.
Compostas a distância, por telefone e e-mail, e em encontros em São Paulo, as 10 faixas mesclam referências de vários ritmos, como jazz, afoxé, samba, maracatu e jazz. Entre elas, três vinhetas, espécie de "gole d’água ou de vinho", ideia de Naná, que gosta de brincar com construções onomatopaicas.
O pernambucano não esteve nos primeiros shows do disco, em Varginha, interior de São Paulo, no início do mês. Foi representado pela gravação realizada em estúdio e foi homenageado com uma música composta pelos outros dois. "Quando Zeca chegou para o ensaio, eu estava com um ukelele, que não é meu instrumento, e comecei a fazer uma melodia para Naná. Ele fez imediatamente a letra, pequena, singela", conta. Canção de Naná foi inserida no bis do repertório do projeto Café no bule, cuja reestreia, em breve, pode ser no Recife.
Confira a letra de Canção de Naná:
Quer te saudar
Te acalentar
Nana, Naná
Dorme que a manhã virá
Descansar pra guerrear
O sol já vem lá
Vai clarear
Anda Naná
Traz teu maná
Vem cantar teu lalaiá
Africadeus, saravá
ENTREVISTA // NANÁ VASCONCELOS
Naná, o que você vai fazer quando sair do hospital?
Eu vou para casa e continuar trabalhando, normal, compondo. Vou continuar o tratamento. Esse início foi bom porque aqui tinha tudo, anti-inflamatório, isso, aquilo outo. Passou essa fase, meu corpo está limpo para enfrentar tudo. Eu quero rodar. Vou fazer o Fito, em Alagoas. Estou pronto, louco pra tocar. Música ajuda a cura. Fiz um a zero. Tocando, vai ser dois a zero. Meu cabelo não caiu nem vai. É como falei, pensamento positivo, de pessoas de diferentes religiões, seitas. O ponto é a fé. De toda parte do mundo, Índia, Noruega, Escandinávia. É maravilhoso, porque recebi visitas ilustres, do vice-governador, vice-prefeito. O Maestro Forró liga todo dia e canta. Zé da flauta, J Michiles, Milton (Nascimento), Egberto (Gismonti) telefonaram. Estou cercado de vibrações boas. Tenho essas pessoas, vejo neles cultura. E eles veem em mim cultura, que eu procuro propagar no mundo. Faço com dignidade e de corpo e alma. Quando você faz algo diferente, é difícil de vender. Essa junção com Paulinho e Zeca me levou prum lado mais popularesco, mas sem pretensão de fazer hit e tudo.
Você diz que a música é importante para a cura. O que tem ouvido?
Quando foi começar o tratamento, eram 17h. Trouxe uma caixa de Villa-Lobos, com três CDs. Aí botei e fiquei ouvindo as coisas incríveis dele, o surrealista, romântico, poético, lírico, popularesco, folclórico. O tempo foi passando e eu fiquei pensando. O pessoal pensa que vai vomitar, ter náusea, aí tem. Eu tenho levado assim. Programo a minha cabeça para ficar bem. Não tenho efeito colateral, pois não vou permitir.
E o livro que você está escrevendo, como está?
Mas não tem nada de livro. Eu pedi um caderno para escrever essas histórias aqui, que acontecem comigo, esse processo. O hospital é maravilhoso, tem uma vista linda. Já que estou hospedado aqui, fiz meu retiro espiritual. Escrevo o que passa aqui. Um dia me ofereceram um remédio para depressão. “Tá louco?”. Ou então “olha um remediozinho para dormir”. Não estou sentindo dor, nada.
O que achou de Canção para Naná?
Eu não pude ir para o show, e depois tive uma grande surpresa: eles mandaram a música que fizeram para mim, uma espécie de mantra. É carinho, declaração sincera de carinho, de força. Estamos aqui. É um mantra, uma coisa linda, o pessoal cantando. No primeiro show, ele usou umas coisas minhas, daqui pra lá, de lá pra cá. No outro, cantou a música para mim.
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