Cinema Geneton Moraes Neto lança filme no Recife e afirma: Jornalista participa de debate e sessão de Cordilheiras do Mar, com entrevistas inéditas de Francisco Julião e Miguel Arraes

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 28/09/2015 09:10 Atualizado em: 23/04/2016 11:28


Geneton trabalhou como repórter do Diario nos anos 1970. Foto: Canal Brasil/Rastros Produções/Divulgação
Geneton trabalhou como repórter do Diario nos anos 1970. Foto: Canal Brasil/Rastros Produções/Divulgação

Dois personagens essenciais para a história política de Pernambuco, em particular, e do Brasil, de maneira mais ampla, ficaram diante das lentes de um jovem aspirante a cineasta, há 30 anos, para conceder depoimentos em vídeo. Eram Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, e Miguel Arraes, naquela época deputado federal e futuro governador do estado. Nenhum deles poderia imaginar àquela altura, em 1985, mas as imagens permaneceriam inéditas e muito bem guardadas por longas três décadas até o jornalista Geneton Moraes Neto dar continuidade ao projeto. Nesta segunda-feira (28), às 19h30, as raras gravações são exibidas no Recife junto a outras 18 entrevistas, todas inseridas no documentário Cordilheiras no mar: A fúria do fogo bárbaro.

O filme parte do apoio dado pelo cineasta Glauber Rocha ao projeto de abertura política do general Ernesto Geisel, no período final da ditadura militar, para fazer crítica ao patrulhamento ideológico. Após a sessão gratuita, no Cinema do Museu (Avenida 17 de agosto, 2187, Casa Forte), Geneton debate o assunto com Jomard Muniz de Brito, Celso Marconi, Amin Stepple e Paulo Cunha.

“O projeto do filme começou em Paris, em 1981. Tive um contato com Glauber Rocha muito marcante. Para um brasileiro que queria fazer cinema, ele era um ídolo. Estava com um amigo em uma sessão privê de A idade da Terra, quando Glauber nos viu, apontou para a gente e ficou dizendo: ‘Aqui é a juventude brasileira estudando cinema! Isso me interessa! Quero saber o que vocês vão achar do filme’. Você pode imaginar o impacto que teve sobre a gente”, relembra Geneton. A princípio, a ideia era fazer uma tese sobre cinema e desenvolvimento (“Um país subdesenvolvido poderia fazer um cinema desenvolvido esteticamente?”), mas por falta de vocação acadêmica, ele desistiu.

As gravações com Miguel Arraes e Francisco Julião foram sobre o contato de ambos com Glauber Rocha durante o exílio. “O material ficou guardado por mil motivos. No ano passado, resolvi que precisava fazer algo com isso, pois é uma dívida pessoal minha com o próprio Glauber, pelo que ele significou, e também uma dívida com o Brasil. Se o filme servir para chamar a atenção dessa geração mais nova para o que significou Glauber Rocha na cultura brasileira, estou satisfeito. Ele foi vítima de um patrulhamento ideológico que, hoje, parece estar voltando. Por isso, o filme ganha uma atualidade dramática”, completa o cineasta. Em 2014 e neste ano, foram gravados depoimentos com figuras como Carlos Heitor Cony, Carlos Diegues, Arnaldo Jabor, Zuenir Ventura, Fernando Gabeira, Caetano Veloso, Jards Macalé e Raimundo Fagner.

Ganhador do Prêmio do Júri no Festival Ibero-americano, no Ceará, o filme busca mostrar, segundo Geneton, a necessidade de pensar o Brasil com grandeza e ambição, para além das brigas “medíocres” entre partidos políticos. Em janeiro do próximo ano, deve ser exibido no Canal Brasil. Os detalhes ainda não foram divulgados.

Entrevista >> Geneton Moraes Neto

Que mensagem busca passar com o documentário?
Queria que o filme fosse um comício contra a intolerância, a patrulhagem ideológica e a estreiteza política. O tom das falas é meio exaltado, meio glauberiano, mesmo. Porque não se pode fazer um filme sobre Glauber sussurrando. A ideia é chamar atenção, não interessa se for para 10, 20 ou 30 mil espectadores. Quero mostrar que o Brasil é maior do que essa briguinha medíocre entre partidos. Mostrar a necessidade de pensar o Brasil com grandeza, com ambição, apostar na originalidade, essas coisas que parecem esquecidas.

Como foi pensado o momento do debate, a começar pela escolha dos convidados?
Além de amigos, são pessoas importantes no cenário cinematográfico de Pernambuco. São amigos da Geração Super 8, da qual participei no final dos anos 1970 e começo dos 1980. Fiz filmes com Amin, com Paulo Cunha. É um reencontro com gente que respeito, admiro e por quem tenho amizade.

O documentário foi premiado em festival no Ceará. Como avalia a recepção até agora?
Tem sido elogiado, mas também criticado. Alguns acharam um produto meramente televisivo. Acho isso ótimo. Cinema existe para provocar polêmica. Acho ridícula essa vaidade de “não me toque”. Tem mais é que esculhambar, mesmo. Claro, ao fazer um filme desses sobre Glauber Rocha, você corre o risco de pensarem que você está defendendo a ditadura, mas não é nada disso. É sobre Glauber, mas não trata de cinema, não é biográfico. Fala de política. Discute o Brasil. Como me disse o Cacá Diegues, está na hora de voltar a falar sobre o Brasil, ou então vai logo todo mundo para Miami comprar sapato, xampu, perfume, o escambau.

Serviço
Exibição de Cordilheira do mar: a fúria do fogo bárbaro e debate com Geneton Moraes Neto, Jomard Muniz de Brito, Celso Marconi, Amin Stepple e Paulo Cunha.
Onde: Cinema do Museu (Avenida 17 de agosto, 2187, Casa Forte)
Quando: segunda-feira (28), às 19h30
Quanto: gratuito
Informações: 3073-6340

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