Cultura Com cores fortes em muros e objetos resgatados do lixo, Flávio Barra se expressa através da arte urbana Apresentador amplia o grupo de artistas que colorem as ruas

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 06/07/2015 10:03 Atualizado em: 06/07/2015 11:12

Trabalho transforma muros em grandes pinturas. Foto: Instagram/Reprodução
Trabalho transforma muros em grandes pinturas. Foto: Instagram/Reprodução

Ao abrir a porta de casa, em Maria Farinha, Litoral Norte de Pernambuco, um aposentado se deparou com o apresentador do programa Agora é hora, da TV Clube/Record, Flávio Barra, pedindo permissão para colorir o muro branco da residência. Estranhou, mas permitiu. Além de todo o aparato necessário àquela intervenção, Barra tinha em mãos o celular, usado para exibir trabalhos anteriores, quase todos publicados nas redes sociais. O perfil no Instagram (@santofortenasruas) serviu como portfólio e convenceu o dono da casa.

O resultado, ao fim de um dia de trabalho, foi a transformação da frente da casa em um grande painel. Um dos preferidos do artista, que aderiu à grafitagem em outubro passado. Fora dos estúdios, Flávio Barra é chamado de Santo Forte – nome dado pelo amigo Rafa Mattos, também conhecido por colorir as ruas da cidade com os corações e regadores da campanha Plante amor e colha o bem – e já reformou muros no Recife, em Olinda, Paulista, Ipojuca, Fernando de Noronha e no Rio de Janeiro.

Um workshop na capital carioca foi a única formação profissional de Flávio Barra – que se inscreveu no curso neste ano, após dezenas de pinturas concluídas. As figuras são autorais e as técnicas, na maioria, intuitivas. “Minha filha Maria é a inspiração principal. Há uma personagem recorrente em meus grafites, uma menina sem nome, que remete a ela”, conta. Os testes são feitos, a princípio, em muros de amigos e familiares. Ou no próprio apartamento, onde Barra coloriu a primeira parede interna. Pretendia “medir” a bagunça provocada dentro de casa, do cheiro das tintas à sujeira sobre os móveis. Deu certo.










Além dos tijolos e concreto, o “personagem” Santo Forte também imprime a marca em tábuas de madeira abandonadas, objetos jogados no lixo – de computadores fora de uso a pranchas de surf descartadas no processo de produção – e devolve os itens às ruas, já reformados. “Descarto tudo em ruas aleatórias, aviso aos meus seguidores nas redes sociais e eles vão buscar os objetos”, explica. O que começou como um hobbie vem ganhando contornos profissionais, com direito a contratos e participação em ações de arte de rua realizadas durante shows. Além de muros mais coloridos, ele indiretamente oferece aos donos das casas uma proteção contra pichadores. “Há um acordo silencioso que faz com que os mais experientes não pichem muros grafitados”, comenta, apontando o fato como um dos principais motivos para que, ao bater às portas pedindo concessão das fachadas, sempre receba um sim.

Arte na rua

Ariel Fernando

Em 2000, o irmão de Ariel estava matriculado numa oficina sobre o tema, mas se recusou a ir e ele assumiu a vaga. Passou, então, a colorir muros no Recife, em Olinda e especialmente Paulista, onde mora. Recolhe banners no lixo, além de lonas plásticas rasgadas e placas de MDF. As cores e estampas mudam de acordo com o humor e as inspirações, mas costumam exibir flores e tonalidades alegres. Uma figura com grandes olhos expressivos, de cílios compridos, presta homenagem à filha Lorena.

Rafa Mattos

Carioca radicado no Recife, desenhou pela primeira vez o regador - marca registrada - entre rabiscos, associando o símbolo à ideia de colher o que se planta. Em 2012, levou a versão final do “regador de amor” às ruas. Caixas de sapato abandonadas na calçada foram os primeiros objetos reformados com canetas marcadoras pelo designer. Usou o papelão para escrever mensagens de afeto aos colegas e decidiu espalhar frases de amor e incentivo pela cidade. Surgiu a frase “plante amor e colha o bem”.

Jeff Alan

Começou a desenhar ainda criança, com ajuda da mãe, e, em 2004, passou a se dedicar exclusivamente à arte. Os primeiros grafites vieram em 2008. Desde então, desenvolve um estilo abstrato em paredes internas, ruas, shoppings e galerias. A maior inspiração é a natureza, especialmente o movimento das folhas. Além do grafite, assina um acervo de máscaras tribais inspiradas no Egito e pinta garrafas achadas no lixo. Estuda arquitetura e sonha em levar todo o poder da arte urbana às galerias de arte.

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