Reconhecimento "Foi o que faltava para me respeitarem. A música é muito machista", dispara Johnny Hooker após vencer Prêmio da Música Cantor recifense, que tem música na trilha sonora de "Babilônia", conquistou o troféu de Melhor Cantor de Canção Popular

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/06/2015 21:06 Atualizado em: 11/12/2015 18:26

Artista fará show no Baile Perfumado no dia 10 de julho. Foto: Facebook/Reprodução
Artista fará show no Baile Perfumado no dia 10 de julho. Foto: Facebook/Reprodução

Conquistar um troféu no Prêmio da Música Brasileira e ser elogiado por Maria Bethânia, Caetano Veloso e Alcione após interpretar Lama na cerimônia de entrega da premiação, em homenagem aos 50 anos de Abelha Rainha, nesta segunda-feira, era o impulso que faltava para a carreira, considera o recifense Johnny Hooker. “É uma resposta avassaladora, comemora, ainda sob efeito da celebração da noite anterior.

Clique e confira a lista completa de vencedores, que tem Alceu Valença, Gilberto Gil, Luiz Melodia, Fernanda Takai, Monica Salmaso, Marisa Monte e Paralamas do Sucesso conquistaram

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“Foi o que faltava para as pessoas me respeitarem. A música é muito machista e controlada pelo produto, por coisas que dão dinheiro. As pessoas que chegam com apresentação forte, maquiagem, brincadeira com gênero, com personagens, às vezes são recebidas com muita falta de respeito”, dispara o performático Hooker, que conquistou o troféu de Melhor Cantor de Canção Popular pelo disco Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!.

Durante a performance, na qual dividiu o palco com Alcione e Letícia Sabatella, ele trajou botas, calça colada e camisa com transparência em tons de preto, além de um maxi colar e olhos bem marcados por delineador preto. O visual e as letras homoeróticas já foram alvo de preconceito. Mas o pernambucano não arrefece. “O mundo está mudando e sempre vai ter essa primeira reação de quem quer empurrar a roda da história para trás. Mas a roda vem com tudo e eu venho com ela”.

Ele comemora ainda ter sido indicado na mesma categoria de José Augusto (Quantas luas) e Luiz Caldas (Além da porta). Entre as mulheres, a melhor cantora de Canção Popular eleita foi Roberta Miranda (Roberta canta Roberto), cuja mão beijou em cima do palco. “Não faço música para gente rica, pobre, faço para gente. A canção popular está associada ao romântico, brega, axé, e estou muito feliz de estar associado a isso. Eu sou isso. Sou brasileiro. Não vou tocar jazz nem fazer voz e violão pra agradar quem quer que seja. Sou latino: coração e grito”, crava.

A cerimônia de entrega de troféus do Prêmio da Música Brasileira contou ainda com participação de Lenine, Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes e Chico César, Roque Ferreira e Fabiana Cozza, Renata Sorrah, Zélia Duncan, Nana e Dori Caymmi, Caetano Veloso, Mônica Salmaso e Jackson Antunes, Mariene de Castro e Elisa Lucinda. O pernambucano Alceu Valença, Fernanda Takai, Zezé di Camargo e Luciano, Gilberto Gil e Monica Salmaso foram alguns dos premiados.

Entrevista // Johnny Hooker

Como foi seu dia depois do prêmio?
Estou respirando por aparelhos, morto de ressaca, porque a premiação terminou muito tarde e teve uma recepção depois, no Jockey, na Lagoa. Para baixar a adrenalina de ter ganhado e cantado, foi muito tempo. Não foi pouca cachaça necessária. Quando saí, estava com toda a sede do mundo. Como diz a música (Boato), "Dizem por aí que ando com álcool a me envenenar/ Mas é que existem coisas aqui em mim que preciso matar".

Alcione, Letícia Sabatella e Johnny Hooker prestaram homenagem a Maria Bethânia. Foto: Prêmio da Música Brasileira/Divulgação
Alcione, Letícia Sabatella e Johnny Hooker prestaram homenagem a Maria Bethânia. Foto: Prêmio da Música Brasileira/Divulgação

O que você acha que o prêmio pode mudar na sua carreira?

Acho que é o último impulso que faltava: ganhar um prêmio desse enquanto tenho uma música na novela das nove (Amor marginal, em Babilônia) e já tive na novela das sete (Alma sebosa, em Geração Brasil). É uma construção. É uma resposta avassaladora, muito forte, afetiva. Quem ouve o disco parece que defende. Vira uma coisa pessoal, uma questão de honra. Acho que vem para somar. As pessoas têm uma visão distorcida do que é popular ou mainstream. Achei importante ganhar na canção popular porque eu não sou underground. As pessoas têm que parar de confundir isso. Eu canto canção popular. Foi o que faltava para as pessoas me respeitarem. A música é muito machista e controlada pelo produto, por coisas que dão dinheiro. As pessoas que chegam com apresentação forte, maquiagem, brincadeira com gênero, com personagens, às vezes são recebidas com muita falta de respeito. Mas o prêmio chega como comprovação. O júri é formado por pessoas que fazem música, então, pra mim, foi a maior prova de respeito.

Você já sofreu muito preconceito?
Com certeza. O meio da música é muito machista. Você só encontra mulheres como cantoras. É difícil encontrar em outras funções ou instrumentos. Estou muito inspirado também pelo tema, porque fui assistir a Mad Max e estou apaixonado por Furiosa. O mundo está mudando e sempre vai ter essa primeira reação de quem quer empurrar a roda da história para trás. Mas a roda vem com tudo e eu venho com ela. Esse prêmio também é um sinal de bem-vindo da própria galera da música: “a gente está o vendo e gosta de você”.

Você venceu em Canção Popular, que é geralmente associada ao brega, romantismo. Roberta Miranda conquistou o troféu de Melhor Cantora, e você beijou a mão dela. O que acha de ter sido premiado nessa categoria?
Adoro Roberta Miranda. O brasileiro acha que é americano. Ele não é. Não fala inglês. Não gosta de Roberta Miranda, mas de country. É elitista, não gosta de ouvir a mesma coisa que o pobre. Acho importante por isso. A música de Roberta toca na rádio, novela, em todo lugar. E todo mundo, seja da classe social que for, vai ouvir e se emocionar. É isso que quero fazer com minha música. Não faço música para gente rica, pobre, faço para gente. A canção popular está associada ao romântico, brega, axé, e estou muito feliz de estar associado a isso. Eu sou isso. Sou brasileiro. Não vou tocar jazz nem fazer voz e violão pra agradar quem quer que seja. Sou latino: coração e grito.


Você se sentiu acolhido, então?
Muito acolhido, em ter chegado lá, cantado, recebido elogios de Bethânia, Caetano, Alcione. Foi muito positivo porque eles apostaram em mim e ficaram felizes com o resultado. Eu cumpri as expectativas e mais ainda. Todo convite vem com responsabilidade de ser bom e ser grande.

Como foi o encontro com Maria Bethânia?
Ela falou que adorou, que achou mágico e necessário. Ela é muito sucinta, mas é muito certeira. Eu recebi essa bênção dela e de Caetano. Me senti abraçado pela música brasileira.

Quais familiares e amigos estavam lá?
Meus avós vieram especialmente do Recife para ver. Eles ficaram muito felizes. Na verdade, eu tenho uma relação de pais com eles, porque meus pais me tiveram muito cedo, aos 21 anos, ainda estavam saindo da adolescência. Meus avós sempre me apoiaram, estiveram do lado, investindo. Senti como se meus pais estivessem comigo. Estava com meu namorado e o baterista da banda.

Quais outros encontros nos bastidores mexeram contigo?
Adorei conhecer Chico César, que acho um compositor maravilhoso. Estou apaixonado pelo single novo dele, Da taça. acho um compositor genial. E nordestino quando se encontra, acabou-se. Também não conhecia a Gaby Amarantos e ela contou algo interessante. Nós dois somos crias de Denise Saraceni. Ela viu Tatuagem (filme de Hilton Lacerda com participação de Johnny Hooker) no Recife. Denise tem esse poder: ela olha para quem está à margem e coloca no centro.

Já existe um próximo disco em gestação?
Tem, mas é porque eu me planejo com muita antecedência. O próximo só sai em 2017. No próximo ano, vamos rodar com o show. Acho que vai ter turnê europeia. O disco está fazendo muito sucesso em Portugal. Estão rolando convites em Portugal e a gente tá armando uma turnê.

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