HQ Problemas do mundo contemporâneo viram inspiração para novas HQ's Narrativas exploram viés político e tarzem histórias mais adultas

Por: Rebeca Oliveira - Estado de Minas

Publicado em: 27/04/2015 09:35 Atualizado em:


"O árabe do futuro" é um olhar recente sobre as mudanças no mundo oriental. Crédito: Sattouf/Divulgação
"O árabe do futuro" é um olhar recente sobre as mudanças no mundo oriental. Crédito: Sattouf/Divulgação

Uma folha, um lápis e infinitas possibilidades. Quadrinistas têm, cada vez mais, explorado temáticas que ultrapassam os já conhecidos personagens com superpoderes. Nos últimos dois meses, chegaram às livrarias pelo menos cinco obras que comprovam a versatilidade das tirinhas.

A mais recente delas foi O árabe do futuro, uma autobiografia do quadrinista Riad Sattouf, que viveu entre a França, Líbia e Síria nas décadas de 1970 e 1980. Com viés político, mas sem abandonar o humor e a ironia, o premiado livro do ex-colaborador do Charlie Hebdo surge no mercado ao mesmo tempo em que versões de romances consagrados, como o clássico Dois irmãos, de Milton Hatoum, passam a ocupar as prateleiras de HQs. Prova de que os quadrinhos, definitivamente, servem a vários nichos e temáticas.

Para o especialista Ivan Freitas da Costa, sócio da Comic Con Experience (CCXP), o mercado vive um momento de expansão tanto nos temas quanto nas vendas. Curiosamente, o fôlego vem de outra área: o cinema, com produções inspiradas na linguagem das tirinhas. “As maiores bilheterias do cinema remetem à temática de super-heróis. Até filmes bíblicos, como Noé e Exodus, têm ganhado contornos heroicos, linguagem que teve origem nos quadrinhos”, explica. Segundo ele, esse contato do público com o mundo das HQs possibilitou uma ampliação na produção, ainda que indiretamente. Como prega a já conhecida lógica de mercado, o aumento na procura ocasionou uma oferta ampla e diversa de títulos.

Atentas a esse movimento, grandes editoras como a Companhia das Letras e o Grupo Autêntica criaram a Quadrinhos na Cia. e a Nemo, respectivamente, selos exclusivos para as tirinhas. “Essa versatilidade sempre existiu. Ela aparece mais claramente hoje por haver um maior número de lançamentos”, acredita Arnaud Vin, editor da Nemo, criada há quatro anos. Neste ano, a Nemo lançou O mundo de Aisha, uma reportagem em HQ que narra a delicada situação feminina no Iêmen. Até o final de 2015, promete outros 30 títulos novos no mercado. “As editoras abriram mais espaço para os quadrinhos percebendo o interesse crescente dos leitores. Temos exemplo de editoras que antes publicavam apenas livros convencionais e que estão começando a publicar também quadrinhos”, comenta Vin.

Ivan Freitas vê no mercado francês e belga um importante movimento no qual os artistas brasileiros têm se inspirado. “São histórias experimentais, romances, HQs com temática LGBT, novelas, algumas sem começo, meio e fim. É um mercado gigantesco em volume de produção”, pontua. Em terras tupiniquins, garante que o cenário não tem sido diferente. “Na Comic Con, vi desde histórias de zumbis a relatos de guerrilha urbana. A produção brasileira atual é diversa”, acredita.

Estante

Cianeto & Felicidade
Kris Wilson, Rob DebBleyker, Matt Melvin e Dave McElfatrick. Leya, 160 páginas. Preço médio: R$ 39,90.
Tem como protagonistas bonecos paulistas, como se desenhados por crianças. Sucesso na internet:  no Facebook, 10 milhões de fãs. Cem tirinhas de teor venenoso chegaram às livrarias. Piadas politicamente incorretas vão de doenças a homossexualidade.. 


Dois irmãos
Fábio Moon e Gabriel Bá. Quadrinhos na Cia., 232 páginas. Preço: R$ 39,90.
Adaptação da obra homônima de Milton Hatoum, leva a assinatura dos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá. A dupla confere contornos dramáticos ao clássico. O enredo narra a estória dos irmãos Omar e Yaqub, descendentes de libaneses vivendo em Manaus, e foi dividido em três atos. 


O mundo de Aisha – A revolução silenciosa das mulheres no Iêmen
Ugo Bertotti, Nemo, 144 páginas. Preço : R$ 44,90.
É relato real da condição feminina no Iêmen, país fundamentalista. Montanari entrevistou cerca de 30 mulheres que lhe contaram o desejo de abandonar o véu (ou niqab) para ter autonomia sobre a própria imagem e a própria vida. 


Gata garota
Fefê Torquatto. Nemo, 158 páginas. Preço médio: R$ 27,90.
Lançada como uma webcomic, a HQ da catarinense Fefê Torquatto narra as aventuras de Gigi, jovem metade humana e metade gato. O mais “belo, destemido e implacável habitante noturno” inspira a personalidade da personagem. Em preto e branco, é para o público jovem, com linguagem leve. 


O árabe do futuro –
Uma juventude do Oriente Médio (1978-1984)
Riad Sattouf. Intrínseca, 160 páginas. Preço médio: R$ 33,90.
A infância entre a França, a Síria e a Líbia moldou a história do quadrinista Riad Sattouf. É uma empolgante e politicamente engajada HQ. Fatos históricos se mesclam a recordações pessoais no primeiro volume da obra.



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