Solidariedade

Celebração reúne ex-moradores do Holiday

Publicado em: 17/06/2019 10:19 | Atualizado em: 17/06/2019 10:27

Prédio foi desocupado após ordem judicial. Foto: Tarciso Augusto/Esp. DP.
Ex-moradores do Edifício Holiday participaram de uma missa celebrada na manhã de ontem pelo pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Boa Viagem, Luciano Brito, em frente ao prédio localizado naquele bairro, na Zona Sul do Recife. A cerimônia foi marcada pelo sentimento de solidariedade e empatia ao próximo, e serviu para interceder pelos quase três mil moradores que abandonaram as suas residências após uma ordem expedida pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco em 22 de março deste ano. Parte destas famílias foi pega de surpresa e teve que sair às pressas do edifício.

De acordo com o padre Luciano Brito, a situação atual das famílias que moravam no Holiday é preocupante. Segundo ele, a igreja abraçou a causa junto a outros órgãos. “A desocupação foi muito rápida. Não deram nenhuma satisfação, ao menos para estas pessoas. Elas ficaram sem reação. O silêncio da Justiça nos incomoda”, disse o pároco, mencionando também o caso de pessoas que estão vivendo em situações de extrema precariedade.

Marlene Aparecida da Silva Januário, 56, morava no Holiday desde o ano de 1991. Ela não tem família. Ficou viúva do marido, ainda enquanto residia no edifício. Atualmente vive em um vão, na comunidade Entra Apulso, também em Boa Viagem. “Eles expulsaram a gente sem direito a nada. Lá, vivo com os ratos que circulam até pela minha cama enquanto durmo”, conta Marlene Aparecida.

História
O prédio de 17 andares foi construído em 1956. Foto: Museu da Cidade do Recife/Reprodução.
O prédio de 17 andares, construído em 1956, apresenta vários riscos estruturais e graves problemas nas instalações elétricas. "O Holiday é um dos exemplares de um conjunto de edifícios que foram construídos no Recife do início dos anos 1950 até meados da década de 1960. São edifícios de habitação, de uso misto. Há de particular nesse conjunto o fato de ocupar uma quadra inteira, de forma triangular e também uma solução arquitetônica para viabilizar moradias em pequenas dimensões", pontua o arquiteto e urbanista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Luiz Amorim. 

Segundo Amorim, outro fato que marca o Holiday é a introdução da construção de moradias coletivas em larga escala na cidade. "Representou uma alteração nos moldes de morar no Recife, onde, como em outras cidades brasileiras, a introdução do morar coletivo se deu lentamente. Essa modalidade se consolidou apenas nos anos 1970", afirma. "Faz-se necessário repensar os regimes condominiais. Não no sentido de mudá-los radicalmente do ponto de vista legal, mas imaginar como o poder público pode acompanhar as gestões condominiais , oferecendo oportunidades de melhorias de suas condições", completa.

O Holiday era, nos anos 1960, um dos prédios mais procurados de Boa Viagem. Na edição de 10 de janeiro de 1960, o Diario de Pernambuco publicou um anúncio onde são oferecidos apartamentos no edifício. "Apartamentos no Edifício Holiday, o mais imponente prédio de Boa Viagem, para entrega no próximo ano. Pequena entrada e mensais de 6 mil cruzeiros", informava o texto na seção pequenos anúncios.      

Na década de 1980, porém, o jornal já publicava matérias sobre a degradação do edifício. Em 9 de maio de 1980, noticiou o assassinato do músico Edvar Lemoini Silva, o "Bamba", ocorrido em um dos apartamentos do Holiday. "Durante o dia de ontem, o ambiente do Edifício Holiday era de total tristeza. Todas as pessoas que ali residem se negaram a falar sobre a morte do pianista", veiculou o Diario.

Em 22 de fevereiro de 1981, uma morte por overdose foi noticiada pelo jornal, que noticiou a intenção de transformar o residencial em hotel. "A estudante Maria Marta da Silva, 21 anos, no banheiro do apartamento número 110 do edifício Holiday, em Boa Viagem, morreu devido à dose excessiva (de entorpecente) que tomou." Na matéria, o Diario informa que "o edifício Holiday foi palco de outros homicídios que causaram escândalo na sociedade pernambucana. Atualmente, o mencionado edifício vem sendo estudado para ser transformado em hotel".  

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