CIRCO
Quando o picadeiro é coisa de gente pequena
Por: Patrícia Monteiro
Publicado em: 13/05/2019 08:30 | Atualizado em: 13/05/2019 09:30
Mirian conta que Flayzinho quis fazer palhaçada igual ao pai. “Passei um esquete bem simples e ele decorou. Diminuí o tamanho por conta da idade dele, mas quando chegou ao picadeiro fez no formato integral, sem cortar nada”, revela. Assim, Flayzinho incrementou, aos poucos, o repertório que hoje tem dez números. Ele dispõe de três figurinos para apresentá-los. Flayzinho é o mais jovem integrante do Circo do Charmozinho - assim mesmo, escrito com z -, comandado pelos seus pais, desde 15 de novembro de 2010. Divide o picadeiro também com a irmã, Rhyllare, 13 anos, contorcionista e acrobata. Em 2017, a família começou a dar aulas de circo para crianças e adolescentes da Bahia, mas, atualmente, enfrenta uma séria dificuldade. “Mantivemos a escola sem nenhuma ajuda de custo até que, depois de um ano, o vento destruiu nossa lona. Agora, estamos na luta para reerguer nosso picadeiro”, conclui a mãe.
Deste núcleo familiar, originalmente de acrobatas, Reyzinho é o primeiro palhaço, seguindo os passos de um tio, o palhaço Geleia. Ele é palhaço desde os quatro anos de idade. “Meu pai era equilibrista. Minha mãe, malabarista. Reyzinho via meu tio e os outros palhaços com o rosto pintado e pedia para ser maquiado, para colocar roupa e sapatinho do figurino. Então, começou a ir ao palco. No início, só andava, depois passou a ter falas, brincadeiras próprias”, relata Renally. O pai, Roginaldo, complementa: “Até me surpreendi porque eu, por exemplo, não tenho o dom da palhaçaria. Se me colocarem no palco, sou incapaz de fazer alguém rir. Já ele, depois de tantos anos, já está tarimbado, criando as próprias palhaçadas, dando sugestões”.
O processo de aprendizado até chegar a este ponto foi gradativo. “No início, fazia pouca coisa. Depois, comecei a entrar, falando. Aos 10, passei a fazer números solo”, relata. Sobre os motivos de ser palhaço, paixão é a palavra-chave. “Nasci no circo e pretendo morrer nele. Sou apaixonado por tudo: da lona à iluminação. As pessoas falam que este é o meu dom e gosto que falem isso porque amo fazer o povo rir”, conta. Faz rir ainda que precise vivenciar situações nem sempre tão agradáveis. “Às vezes, trocar sempre de cidade, a cada dois ou três meses, é um pouco difícil porque quando a gente vai embora, sente falta dos amigos que fez”, lamenta.
Os pequenos palhaços cultivam as amizades, muitas vezes, na sala de aula. Reyzinho, por exemplo, apesar da itinerância estuda regularmente e está no sexto ano do ensino fundamental. Há uma lei, de novembro de 2012, que garante vagas para os filhos de profissionais que exerçam atividades artísticas itinerantes, como os artistas de circo, em escolas públicas e privadas. Outra lei, de 1978, garantia vaga apenas em escolas públicas. Mas nem sempre foi assim. “No meu tempo não existia esta determinação, então eu estudava em casa, com a minha mãe. Era um tempo mais difícil”, relembra Roginaldo.
Além da formação tradicional, estudos circenses não faltam a Reyzinho. O pequeno palhaço ensaia, durante duas a três horas por dia, outras modalidades como a tranca (malabarismo com os pés), esperando estrear nos palcos com este número daqui a aproximadamente um ano. “Além disso, quero fazer globo da morte e trapézio. Quando crescer mais um pouco, e tiver uns 14 anos, estarei pronto para me apresentar com estes números”, adianta.
Lei
Desde novembro de 2012, existe uma lei que obriga as escolas públicas e particulares a garantirem vagas aos filhos de profissionais que exerçam atividades artísticas itinerantes, como os artistas de circo. O Projeto de Lei 3543/12 foi de autoria do deputado Tiririca (PR-SP) e vale para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos de idade. A Lei 6.533/78 já garantia este direito nas escolas públicas.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL
MAIS LIDAS
ÚLTIMAS