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Iniciativa prioriza contratação de mulheres

Profissionais quebram paradigmas ao ocupar cargos que ocupados em sua maioria por homens

Publicado em: 08/03/2019 07:52 | Atualizado em: 08/03/2019 08:42

Homens duvidavam da capacidade de Wedja Silva ser eletricista de prontidão, função que ela exerce há dois anos.
Foto: Mandy Oliver/DP Foto. (Homens duvidavam da capacidade de Wedja Silva ser eletricista de prontidão, função que ela exerce há dois anos.
Foto: Mandy Oliver/DP Foto.)
Homens duvidavam da capacidade de Wedja Silva ser eletricista de prontidão, função que ela exerce há dois anos. Foto: Mandy Oliver/DP Foto. (Homens duvidavam da capacidade de Wedja Silva ser eletricista de prontidão, função que ela exerce há dois anos. Foto: Mandy Oliver/DP Foto.)

Algumas empresas têm colocado como diretrizes institucionais a reparação histórica no âmbito do trabalho para as mulheres. Há cerca de três anos, a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) decidiu que integraria ao quadro mais profissionais do sexo feminino em vagas que, até então, eram classificadas e ocupadas somente por homens. Caso dos eletricistas. “Internamente, já conseguimos romper os paradigmas, mas percebemos que também é preciso romper na sociedade. Muita gente ainda não acredita que uma mulher pode ser eletricista”, afirmou a gerente de recursos humanos da Celpe, Daniela Motta.

De acordo com ela, a companhia começou a especificar nas vagas para eletricistas que também aceitava mulheres. Assim como nas vagas disponíveis para a escola de formação do grupo. “Buscamos formar pessoas de qualquer área para fazer os cursos. São vagas abertas. Porém, somente 10% da procura é por mulheres. Nossa meta era até o fim do ano ter pelo menos 10 mulheres eletricistas, mas só conseguimos oito. Agora, para 2019, é termos 20”, explicou. Em 2016, para se ter um ideia, a Celpe tinha apenas duas eletricistas. Neste ano, no curso de eletricista promovido pela empresa, dos 22 alunos, cinco são mulheres.
 
A Celpe decidiu colocar mulheres em funções vistas como masculinas, afirma Daniela.
Foto: Mandy Oliver/DP Foto. (A Celpe decidiu colocar mulheres em funções vistas como masculinas, afirma Daniela.
Foto: Mandy Oliver/DP Foto.)
A Celpe decidiu colocar mulheres em funções vistas como masculinas, afirma Daniela. Foto: Mandy Oliver/DP Foto. (A Celpe decidiu colocar mulheres em funções vistas como masculinas, afirma Daniela. Foto: Mandy Oliver/DP Foto.)

A primeira eletricista

“É você que vai fechar a chave?” Quando chegou ao local da ocorrência, este foi um dos primeiros questionamentos que um cliente fez para Wedja Silva. A eletricista de 23 anos não hesitou em responder sim. Pegou os equipamentos e foi fazer o trabalho. Não era a primeira vez que haviam duvidado da capacidade dela e nem seria a última. Wedja tira forças dos questionamentos para se impor diante da função de eletricista da Celpe. 

Ela foi a primeira mulher a assumir a função de eletricista de prontidão da equipe da Região Metropolitana, há dois anos. Agora é referência para outras mulheres que querem ocupar o mesmo posto.Ser eletricista não era a primeira opção profissional de Wedja, que sequer cogitava a possibilidade até descobrir na instituição, onde fazia um curso técnico em edificações, a seleção para o cargo. 

Logo depois que passou e fez o curso preparatório, ela descobriu na prática os desafios da função. Subir em postes, carregar escadas, ligar e desligar redes de energia em situações de emergência. Parte dos colegas, homens, dizia que não queria ir para as ocorrências com ela, duvidando da capacidade de Wedja de executar os serviços.

“Quando cheguei, não conseguia levantar os equipamentos. Então, todo dia fazia marinheiro antes de iniciar o serviço.Para tudo que era dificuldade, aprendi a dar meu jeito. A gente não tem que ligar para o que colocam na cabeça da gente. Não tem que abaixar a cabeça. Me superei e comecei a acreditar em mim”, conta. Wedja mora em Itapissuma e sai de casa todos os dias às 5h. 

Depois de um ano no serviço, começou a dirigir os caminhões da Celpe. Agora, acaba de ganhar um subsídio da empresa para fazer um curso superior de engenharia elétrica. Já tem todos os planos profissionais. “Quando entrei aqui só havia homens. Eu não tinha referências. Agora que percebi que é possível, que posso fazer, ampliei meus sonhos”, diz.

Persistência que levou ao emprego

Os maiores trunfos da controladora Paroline Santos, 29 anos, são a insistência e a sinceridade. De família carente em Carpina, na Mata Norte, ela tentou dezenas de vezes uma vaga para atuar na empresa onde havia estagiado antes de conseguir o cargo. Em algumas seleções, chegou a ouvir que a ocupação era melhor para homens. 

Seguiu tentando, apesar das barreiras impostas, até o dia em que ficou impossível ir para a seleção de emprego. Ela não tinha R$ 20 para pagar as passagens de ida e volta ao Recife. “Mandei um e-mail explicando e justificando a minha ausência. Não tinha sequer comida direito em casa. Foi quando me ligaram e insistiram. À noite, chegou um envelope na minha casa com R$ 100 para pagar as passagens”, lembra.

Paroline tentou conquistar vaga por diversas vezes.
Foto: Mandy Oliver/DP Foto. (Paroline tentou conquistar vaga por diversas vezes.
Foto: Mandy Oliver/DP Foto.)
Paroline tentou conquistar vaga por diversas vezes. Foto: Mandy Oliver/DP Foto. (Paroline tentou conquistar vaga por diversas vezes. Foto: Mandy Oliver/DP Foto.)

De início, o sonho de Paroline era apenas ajudar a família. Depois de garantir a vaga, ela descobriu por meio do emprego um mundo de possibilidades. “Antes eu não podia sequer sonhar com um celular, com comida boa todo dia no prato. Agora, penso em possibilidades de viajar, de assumir até cargo de presidência”, explica Paroline. Ela é uma das oito mulheres que trabalham no centro de controle da Celpe, no Recife. Por causa do emprego, Paroline deixou Carpina para trás e se mudou para a capital. 

Todos os dias, senta em frente a uma mesa com quatro telas de computador e uma de um telefone. Costuma coordenar durante um expediente cerca de 20 equipes ao mesmo tempo, ajudando na prevenção de acidentes, ligando e desligando redes de energia, monitorando ocorrência de queda de energia. 

Como Wedja, também enfrentou dúvidas sobre as próprias capacidades. “Fui a segunda mulher na função, quando cheguei aqui. A expectativa é sempre que a gente não dê certo no trabalho. Mas hoje em dia não há nada que uma mulher não possa fazer. A gente faz e faz até melhor.”
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