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Medicamento anticoagulante em falta na Farmácia de Pernambuco

Publicado em: 19/01/2019 09:00 | Atualizado em: 22/01/2019 16:51

Pacientes reclamam que endoxaparina sódica está em falta há cerca de um mês. Crédito: Peu Ricardo/DP

A vendedora Maiara*, 29 anos, está com atenção redobrada e mantendo todos os cuidados com a gestação. Em sua segunda gravidez, ela descobriu que tem trombofilia, uma condição que altera a coagulação sanguínea e favorece a formação de trombos. Para amenizar riscos como o de entupimento das veias e o bloqueio da chegada de nutrientes para o bebê, ela precisa aplicar todos os dias no corpo uma injeção de enoxaparina sódica, conhecida comercialmente como clexane. A medicação é fornecida pelo Estado, mas está em falta na farmácia há, pelo menos, um mês, deixando muitas pessoas desesperadas.

A substância age como anticoagulante e impede a formação dos trombos. Em uma grávida, como Maiara, isso pode significar em casos extremos a própria vida dela e a do bebê. Isso porque o sangue espesso pode entupir as veias e levar a um descolamento de placenta, favorecer a prematuridade, assim como uma embolia pulmonar na mulher. Nas farmácias privadas, uma caixa com 10 injeções chega a custar R$ 600. Se vendidas individualmente, podem chegar a R$ 90. “Estive na segunda quinzena na farmácia do estado e não tinha. Fiquei desnorteada e comecei a tentar ver outras formas de obter as ampolas”, contou Maiara. De acordo com ela, que já ligou desde então mais de 10 vezes para o órgão, a informação é de que não há previsão de chegada.

A liberação da substância acontece mediante prescrição médica e, em geral, é renovada a cada três meses. No segundo mês de uso, Maiara descobriu que não teria a medicação. “A gente fica à mercê deles. Não é um favor que estão nos fazendo. Eu não tenho condições de tirar do meu salário R$ 1,8 mil todo mês, então preciso desse suporte. Sem contar que não é uma medicação banal, não procurei o estado para não comprometer minha renda, é porque é algo essencial para a minha vida e da minha filha”, afirmou ela, que precisa da injeção desde a 12ª semana de gestação e está conseguindo por meio de doações.

A injeção de enoxaparina sódica também serve para outros casos, como a prevenção da formação de trombos em pessoas que vão se submeter a determinados tipos de cirurgias ou quem tem outras doenças que favorecem a trombose. A mãe da técnica de enfermagem Dione Rios, 53 anos, tem 81 anos e é outra paciente que necessita da injeção. Ela tem uma doença autoimune rara, a síndrome do anticorpo antifosfolipidio (SAF), e precisou da medicação depois de levar uma queda, fraturar um osso da perna e ficar acamada.

A família deu entrada no pedido há cerca de 20 dias, mas até agora não conseguiu as ampolas. “Me disseram que haveria uma informação por e-mail quando chegasse, mas até agora não recebi nada. Minha mãe está sem tomar, pois não temos condições de comprar. Ela é doméstica, meu pai é aposentado, só ganha um salário mínimo. A gente fica preocupada, mas não tem o que fazer. Imagina todo dia dar R$ 90 reais? Não tem como. Fico olhando o e-mail todo dia”, conta.

Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) afirmou em nota que a Farmácia de Pernambuco tem atuado com determinação para fazer o reabastecimento do medicamento enoxaparina sódica. O fármaco é disponibilizado em duas apresentações. A de 40 mg está com a entrega atrasada pelo fornecedor, que já foi notificado. Além disso, uma nova licitação deu deserta, ou seja, não apareceram empresas para fornecimento. Um outro processo de compra já está em curso para aquisição do remédio para sete meses. Em relação ao de 60 mg, está sendo finalizado o processo de compra, também para sete meses. 

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