TENTATIVA DE FEMINICÍDIO

Manicure se recupera escondida e sargento PM segue solto

Militar da reserva da PMPE, Erivaldo Santos afirmara que "medida protetiva é só um papel" antes de tentar matar Renata Sérgio por não aceitar o fim do relacionamento.

Publicado em: 02/10/2018 10:04 | Atualizado em: 02/10/2018 23:03

Mãe de Renata, a dona de casa Ana Vicência Sérgio Inojosa diz que Polícia não manteve contato com a filha, enquanto PM reformado permanece foragido. Foto: Marina Curcio/ESP. DP
“Eu não sei dizer se ela está segura. Isso está nas mãos de Deus”, disse nesta terça-feira à noite Ana Vicência Sérgio de Inojosa, mãe da manicure Renata Sérgio da Silva, 30 anos, vítima de tentativa de feminicídio a tiros praticada pelo sargento reformado da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) Erivaldo Gomes dos Santos, 57. Depois de receber alta do Hospital da Restauração (HR), no Derby, aproximadamente às 15h dessa segunda-feira, Renata foi levada para uma casa em local não informado, sem nenhum posicionamento da Polícia sobre sua segurança. Erivaldo continua solto e armado. “Eu estou segura. Pode ficar tranquila!”, Renata para a mãe. 

Renata falou ao Diario de Pernambuco e contou um pouco do momento em que foi alvejada pelo sargento reformado da PMPE, que invadiu seu local de trabalho, no Parnamirim, Região Noroeste do Recife, aproximadamente às 15h do dia 27/9. “Ele chegou  no salão  e perguntou ‘Cadê  Renata?’ Aí a menina que trabalha  comigo fez ‘O que é isso, Erivaldo?’ Aí ele entrou e foi  até onde eu tava e atirou  em  mim”, relatou, acrescentando que ele chegou com a arma na mão. Diante da pergunta se Erivaldo disse algo antes de efetuar os disparos, contou: “Só  fez  ‘Cadê  os móveis meus? Eu quero! Ouviu?’ E atirou”. “Calma, Erivaldo! Calma! Calma! Calma!” teriam sido as últimas palavras antes de a manicure ser alvejada e tombar no chão, segundo relato que sua mãe contou ter ouvido.

Segundo Ana Vicência, antes da tentativa de feminicídio, após Renata ter decidido romper o relacionamento com o sargento reformado da PMPE, ele passou a exigir que ela devolvesse tudo que havia comprado. “Ela disse que não ia dar, que tinha passado 11 anos (de relacionamento), que tinha uma filha com ele (hoje com 10 anos), e que se ele quisesse mesmo colocasse na Justiça”, contou a mãe. O relacionamento conturbado do casal terminou há quatro meses, segundo a mãe.

Ainda segundo a mãe de Renata, desde o momento anterior à alta do HR até a noite desta terça-feira ninguém da Polícia manteve contato com a filha. A última informação da Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) sobre o caso é de que trabalhava para localizar e prender Erivaldo por ter tentado matar Renata com três disparos de arma de fogo. 

Ana Vicência disse que a filha acredita que não foi alvejada por três tiros, como diz a Polícia. “Ela disse que feriu o rosto quando caiu e bateu com o rosto na pia do salão”, relatou, mas acredita que pode ter sido um ferimento a bala, de raspão. Ainda segundo ela, uma bala atingiu o ombro direito de Renata e transfixou para a costa e outro, atingiu o abdômen e precisou ser retirada. “Graças a Deus, ela fez a cirurgia e está bem”, disse.

Feminicídios - A PCPE registrou 48 casos de mulheres vítimas de feminicídios até agosto, uma média de seis vítimas por mês. Não raramente casos em que homens não aceitam o fim do relacionamento e recorrem à violência. Segundo relatou Ana Vicência, Renata descobriu que o sargento reformado da PMPE Erivaldo Gomes dos Santos era casado após iniciarem o relacionamento, mas tentou formalizar a união, enquanto ele se esquivava com variadas alegações. Há cerca de sete anos, Renata se desgostou e decidiu encerrar o relacionamento. Começaram os problemas. Ela deixou a casa da casa da mãe, mudou várias vezes de endereço, fraturou o pé esquerdo numa fuga e chegou a escapar de uma tentativa de esganamento há dois anos, quando decidiu denunciar o caso.

Segundo a PCPE, no dia 13 de agosto ela solicitou medida protetiva. No dia em que foi alvejada, o namorado dela, de nome não informado, recorreu à Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), registrando que se sentia em risco porque o sargento reformado sabia onde ele trabalhava. Ana Vicência contou que por várias vezes o sargento reformado afirmara que se o relacionamento terminasse mataria Renata e depois se mataria. Também afirmara que "medida protetiva é só um papel". Ignorando a medida protetiva, ele efetuou os disparos contra Renata. A delegada Lídia Barci, da delegacia de Casa Amarela, está à frente da investigação e a PCPE avisou que só se pronunciará ao final do procedimento policial.
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