Otimismo

Pernambucano que levou choque e perdeu braço e pernas tenta voltar a estudar e a trabalhar

Rildomar Nascimento de França, que sofreu uma descarga elétrica de 13 mil volts, precisa de ajuda para obter próteses

Publicado em: 19/03/2018 07:50 | Atualizado em: 19/03/2018 08:53

Rildomar sofreu uma descarga elétrica em fios de alta tensão quando estava na laje da casa dos pais, colocando uma calha de alumínio no telhado. Foto: Peu Ricardo/DP

Quando amputaram o antebraço direito de Rildomar Nascimento de França, aos 21 anos, ele dormia anestesiado em um hospital. Os pais autorizaram a cirurgia diante de um filho incapaz de decidir naquele momento. Ao acordar, Rildomar se enxergou diferente. Se continuasse com o membro, teria infecção generalizada. Oito dias depois, perdeu as pernas. Nos quase dois meses no Hospital da Restauração, se transformou em um conselheiro de outros pacientes submetidos a amputações. Os próprios médicos indicavam a escuta de Rildomar. Havia naquele homem um otimismo incomum.

Rildomar sofreu uma descarga elétrica de 13 mil volts quando estava na laje da casa dos pais, colocando uma calha de alumínio no telhado, preparando o espaço onde iria morar após passar 17 anos em São Paulo. Fios de alta tensão próximos teriam atraído a calha, diz o jovem, hoje com 23 anos. Colado à calha e estático, pediu a Deus para não morrer. Sobreviveu graças a um desconhecido. O homem chegou a tempo de afastar a peça com uma madeira e libertá-lo. As queimaduras só começaram a machucar minutos depois, a caminho do HR, junto com dores lancinantes.

O choque aconteceu em 21 de março de 2016. Rildomar ainda mora no mesmo bairro, Cajueiro Seco, Jaboatão, em uma casa vizinha à dos pais. Casou-se com a namorada oito meses após o acidente. Juntos, têm uma menina de cinco meses. Ainda sente dores nas duas pernas. As próteses, uma doada pela AACD e outra comprada por R$ 8 mil depois de uma cota de familiares, machucam. Ele precisa de outras, mais confortáveis. Rildomar sobrevive com o dinheiro da aposentadoria por invalidez, e alimenta planos de voltar a estudar. Deixou a faculdade de análise de desenvolvimento de sistemas, em São Paulo, por falta de dinheiro. A vida estava difícil no Sudeste e pagar a faculdade tornou-se inviável. Demitido do cargo de auxiliar de vendas, voltou para Pernambuco. Aqui, foi surpreendido pelo acidente. 

No início de 2018, quase dois anos após o choque, acionou a Justiça contra a Celpe. Segundo ele, a empresa nunca prestou qualquer tipo de assistência. “A Celpe me deve a liberdade. Me sinto preso. Me tornei limitado. Era uma pessoa pró-ativa”, lamenta. Os advogados dele entraram com ação indenizatória contra a empresa por danos morais e materiais, sendo Rildomar o autor da ação e os pais dele coautores, diante da dor que sentiram ao verem o filho perder as pernas e um dos braços.

“O caso dele mostra o quanto estamos passíveis de acidentes. A Celpe chegou a alegar que o fio está na altura das normas, mas Rildomar estava no telhado e recebeu a descarga elétrica”, pontuou o advogado Luís Gustavo Japiá Mota, que está no caso com o advogado Antônio Barros. Na opinião de Rildomar, a cidade cresceu e a empresa de energia precisa acompanhar o processo. “O fio precisava estar mais afastado da casa”, ressaltou.

Para o advogado Luís Gustavo, o caso fez repensar sobre a própria vida. "A história dele me tocou muito. O ímpeto pela vida que ele tem me chama a atenção. As pessoas se abatem com coisas menores e ele não se abateu. Ele não reclama da vida". Doações podem ser feitas para ajudar Rildomar a comprar próteses. O contato é (81) 99978-0731.

Celpe diz que imóvel era irregular

Em nota, a Celpe informou que Rildomar entrou, acidentalmente, em contato com a rede elétrica. Afirmou, ainda, que o imóvel foi construído irregularmente, avançou sobre a calçada e não respeitou a distância regulamentar da fiação. "Técnicos enviados ao local constataram que a rede elétrica foi instalada devidamente, conforme os padrões da Associação Brasileira de Normas Técnicas", diz o comunicado.

Segundo a empresa de energia elétrica, as obras de construção civil próximas da rede são uma das principais causas de acidentes. "Em Pernambuco, a Celpe promove ações regulares de conscientização em comunidades e campanhas em veículos de comunicação, orientando sobre os perigos de construir ou reformar próximo à fiação elétrica. A empresa também realiza ações educativas específicas em canteiros de obras e armazéns de material de construção", disse a nota oficial. Segundo a empresa, entre os anos de 2015 e 2017, foram registradas 58 ocorrências com eletricidade, sendo nove fatais, no estado.
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