Delegacia da Mulher

Polícia Civil investiga se médico da UPA estuprou mais mulheres

Até o momento duas vítimas denunciam traumatologista por estupros cometidos dentro da UPA . Médico foi afastado, mas não teve nome revelado

Publicado em: 23/02/2018 07:20 | Atualizado em: 23/02/2018 07:34

Caso foi registrado na 1ª Delegacia de Polícia de Prevenção e Repressão aos Crimes Contra a Mulher.Foto: Bruna Monteiro/ DP

A polícia investiga se o médico acusado por duas pacientes de tê-las estuprado dentro da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife, abusou de ainda mais vítimas. O traumatologista, que não teve nome nem idade divulgados oficialmene, está sendo acusado de violentar uma mulher de 18 anos e outra de 33, durante consultas no centro de atendimento. Imagens das câmeras de segurança da UPA já foram solicitadas para comprovar as queixas. O profissional foi afastado na manhã de ontem pela Secretaria Estadual de Saúde. O Conselho Regional de Medicina em Pernambuco abriu sindicância para apurar o caso.

A vítima de 18 anos, que fez a primeira denúncia contra o médico, procurou atendimento no setor de traumatologia da unidade por volta das 9h da quarta-feira, após sofrer um acidente em casa. Segundo a mulher, o especialista solicitou alguns exames e, quando ela retornou para entregá-los, terminou sofrendo o abuso sexual no consultório.

Assustada, a paciente deixou a unidade sem dizer nada. Somente às 21h, após ser encorajada pela mãe, procurou o plantão da 1ª Delegacia de Polícia de Prevenção e Repressão aos Crimes Contra a Mulher, no bairro de Santo Amaro, onde foi registrado um boletim de ocorrência por estupro. Ainda na noite da quarta-feira, a jovem realizou exame traumatológico e sexológico no Instituto de Medicina Legal (IML). Ela também foi encaminhada ao Serviço de Apoio à Mulher Wilma Lessa, que funciona no Hospital Agamenon Magalhães. Lá, recebeu medicações profiláticas contra infecções sexualmente transmissíveis (IST) e gravidez indesejada.

Ontem, no fim da manhã, a coordenação da UPA encaminhou nota comunicado o afastamento do profissional e informando que a direção tomará medidas cabíveis, além de se colocar à disposição da polícia para apoiar a apuração do caso. A gestora do Departamento de Polícia da Mulher, a delegada Gleide Ângelo, explicou que o suspeito, já identificado pela SES, não podia mais ser preso em flagrante. Agora, a investigação busca provas robustas para sustentar o pedido de prisão preventiva à Justiça. “Esse inquérito é rápido. Mas temos que aguardar resultado da perícia sexológica que sairá em dez dias. As provas técnicas são importantes, mas a palavra da vítima tem valor probatório muito forte”, declarou Gleide Ângelo.

Gleide nomeou a delegada Ana Elisa Sobreira para acompanhar o caso. Ontem pela manhã, a vítima de 18 anos foi ouvida novamente porque na noite da quarta-feira ela ainda estava em estado de choque. Em seu primeiro depoimento ao delegado de plantão Jorge Ferreira, a paciente contou que ao retornar com os exames solicitados, o médico pediu para ela baixar o short, para examiná-la, lhe apalpou, esfregou o corpo dele contra o dela e ejaculou.

Segunda vítima tomou coragem após repercussão na imprensa

Após ver a divulgação do estupro sofrido pela jovem de 18 anos na imprensa, a vítima de 33 anos tomou coragem e foi denunciar o abuso sexual contra o mesmo médico, ontem à tarde. A vítima informou que o crime ocorreu no dia 15 de fevereiro. Segundo a Polícia Civil, a mulher chegou a levar o receituário com o nome e o carimbo do médico para a delegacia, como prova do atendimento.

A secretária da Mulher de Pernambuco, Silvia Cordeiro, lembrou que novas denúncias podem ser feitas no 08002818187 da Ouvidoria da Mulher. Ela acrescentou que o órgão está acompanhando o desfecho da apuração e dará todo o apoio psicológico às vítimas. Segundo Silvia, as pacientes serão atendidas no Centro de Referência à Mulher Vítima de Violência Clarice Lispector.

“Esse é um crime que não pode ficar impune. É o crime mais covarde que existe. Independentemente da profissão do acusado, ele é homem e cometeu um estupro. É preciso que fique bem claro que ele não é um doente. É um agressor que precisa ser punido”, ressaltou.

Sindicância
Paralelamente ao inquérito policial, o Conselho Regional de Medicina em Pernambuco (Cremepe) determinou a abertura de sindicância interna para apurar o caso. O procedimento é considerado de praxe pela categoria. Se forem encontradas irregularidades, o processo administrativo prossegue, e pode terminar na cassação do registro. Por questão de sigilo ético profissional, o Cremepe não divulgou detalhes a respeito do que já havia apurado nem sobre os antecedentes do profissional investigado.

Casos semelhantes de abuso assustaram a sociedade

Outros casos de estupro envolvendo profissionais de medicina já assustaram a população e a comunidade médica. Considerado um dos principais especialistas em fertilização no país, e conhecido por atender pacientes de classe alta e celebridades, Roger Abdelmassih (hoje com 74 anos) foi preso em Assunção, Paraguai, em 19 de agosto de 2014. Ele permaneceu foragido da Justiça brasileira por três anos e meio. O médico, que hoje tem 74 anos, cumpre pena de 180 anos de prisão. Para a polícia, ele abusou de 74 mulheres em sua clínica em São Paulo.

Em outubro de 2017, o cardiologista Claumir Simões foi preso preventivamente enquanto prestava esclarecimentos sobre um estupro do qual era suspeito de ter cometido contra uma paciente dentro do consultório de um posto de saúde em Imperatriz (MA).

Em julho do ano passado, um ginecologista de 67 anos que não teve o nome divulgado foi preso por suspeita de estuprar uma paciente durante um atendimento em um posto de saúde de Janaúba, no Norte de Minas gerais. Segundo a Polícia Civil, a vítima disse que foi trancada no consultório e, depois de tirar a roupa para um exame, o profissional de saúde teria acariciado suas partes íntimas e a obrigado a fazer sexo oral.

Em 2016, Ricardo Aranha Magalhães, 35, foi preso pelo crime de estupro de vulnerável em Governador Valadares (MG). Ele é suspeito de abusar de cinco vítimas, sendo que as primeiras denúncias são do ano de 2014. Em 2012, o médico Francisco Martins de Castro, 58, foi condenado a 24 anos e três meses de prisão pela Justiça em Rio Grande (RS). O réu foi considerado culpado por estuprar quatro pacientes.
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