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Você sabe o novo nome do Hospital das Clínicas?

Vinte anos depois de sua morte, Romero Marques foi homenageado em prédio que ajudou a erguer

Publicado em: 05/01/2018 07:13

Foto: Arquivo pessoal
O médico Romero Marques teve uma vida longa. Contava 94 anos quando morreu de insuficiência respiratória em função da própria idade avançada. Na semana passada, o nome dele passou a constar oficialmente no prédio público que ajudou a erguer. A construção fincada na Avenida Professor Moraes Rego, na Cidade Universitária, no Recife, agora se chama Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE) - Professor Romero Marques. A homenagem chega vinte anos após sua morte. Mas é interpretada pela família como uma chance para as pessoas reconhecerem o pioneirismo do profissional na história da cirurgia vascular do país e na formação de especialistas na área.

Quando foi fundada, a faculdade de medicina da UFPE não tinha a disciplina de angiologia e cirurgia vascular, criada por Romero Marques depois de estudar a fundo o assunto na França. O médico também foi presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e chegou a ganhar o título de Doutor Honoris Causa, da Universidade Louis Pasteur, na França. Integrou, ainda, a Academia Pernambucana de Medicina, foi diretor do Hospital Pedro II e do Pronto Socorro do Recife. Na UFPE, fez concurso para profesor catedrático em 1937 e aposentou-se em 1973.

A ideia da homenagem surgiu quatro anos após a morte do médico, em 2001, através de projeto de lei do ex-deputado federal José Chaves. Mesmo sancionado pela presidência da época, demorou para sair do papel. Na solenidade do último dia 28 de dezembro no HC, o reitor da UFPE, Anísio Brasileiro, fez a aposição da placa com o novo nome da unidade, cujo atendimento ambulatorial chega a 800 pacientes/dia. “A universidade tem caminhos próprios, formas próprias de tomar decisões. Elas jamais são pessoais, são colegiadas. Não são caminhos errados, mas são sinuosos, precisamos ter ampla maioria”, comentou um dos filhos, o cirurgião e professor universitário Sílvio Marques, em relação à demora na mudança de nome da unidade.

No mesmo dia da aposição da placa, foi lançado o livro Romero Marques - um pioneiro, escrito por Silvio. A obra faz parte da coleção Cirurgiões Acadêmicos, do Departamento de Cirurgia da UFPE, e traz uma seleção de documentos, fotografias, cartas e textos que destacam a importância do médico. A homenagem aconteceu em meio às comemorações pelos 70 anos da UFPE, entre 11 de agosto de 2016 e dezembro de 2017.

Segundo uma velha história contada entre os membros da família Marques, Romero, que era neto e filho de homens negros, certa vez recusou um convite para trabalhar nos Estados Unidos. Era década de 1950 e a atuação do médico como pioneiro da cirurgia vascular no Brasil ganhava repercussão internacional. Na época, teria dito: “Não vou. Sou homem de cor e não gostaria de me expor às mesmas dificuldades que os negros vivem nos Estados Unidos”.

Na época, Romero Marques escolheu construir seu legado no lugar onde nasceu: um Brasil também racista, onde, só para citar um exemplo, a “recente” política de cotas para acesso de negros a universidades ainda sofre ataques nos dias de hoje. Como se centenas de anos acumulados de racismo não fossem suficientes para provar que determinada cor da pele tem o seu significado.
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