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Unesco O Futuro de um Tesouro Trinta e cinco anos após o título de Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade, Olinda se esforça para seguir como um ícone

Por: Rosália Vasconcelos

Publicado em: 17/12/2017 11:50 Atualizado em: 17/12/2017 14:17

 (Ricardo Fernandes/DP/DA Press)

No ano em que se comemoram os 35 anos que o sítio histórico de Olinda recebeu o título de Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a prefeitura preparou uma série de ações pontuais e continuadas que começaram a partir da última semana e se estenderão por 2018. O momento também é propício para estimular um debate mais aprofundado sobre os caminhos que podem ser trilhados para que Olinda não perca ao longo dos anos as referências arquitetônicas e paisagísticas que deram a ela o status de cidade mundial.

Desafios para manter a relevância do Sítio Histórico
Ataques ao casario põem legado em risco
Durante este mês, a administração da cidade está promovendo exposições, lançamentos de livros, palestras, inauguração de um escritório técnico e de um Guia de Zeladoria para nortear os moradores no cuidado com as fachadas dos imóveis. Segundo o secretário de Patrimônio e Cultura (Sepac) de Olinda, Gilberto Sobral, o escritório será permanente e objetiva oferecer à população o apoio de engenheiros e arquitetos especializados em patrimônio para balizar a elaboração de
projetos de reforma dos imóveis do sítio histórico, dentro dos parâmetros definidos para as áreas tombadas. “O serviço já está disponível no número 28 da Rua do Amparo, em frente ao escritório do Instituto de Patrimônio Histórico e Arquitetônico (Iphan) em Olinda”, afirma Sobral.

Outra ação com mote nos 35 anos será a elaboração de um inventário das fachadas dos 1500 imóveis que estão localizados dentro do perímetro tombado, que soma uma área de 1,2km2. O último inventário realizado pela prefeitura foi na década de 1980, quando Olinda foi intitulada Patrimônio da Humanidade. “Vamos comparar o novo documento com o executado na década de 1980 para avaliar o estado de degradação e descaracterização dessas fachadas. Já iniciamos o diagnóstico das dez primeiras casas através do projeto de zeladoria, uma parceria entre a prefeitura e os moradores do sítio histórico. Mas já estimamos que cerca de 15% dos imóveis perderam sua identidade ao longos desses 35 anos”, adianta o assessor técnico da Sepac, Clodomir Barros. O serviço está previsto para começar em março do próximo ano.

Também em 2018 será implantada uma sementeira voltada para o sítio histórico, além de ações de educação ambiental e plantio de vegetação nativa adaptada e adequada para os quintais dos casarios. “Sabemos que o conjunto arquitetônico não estão tão conservado quanto é necessário. Os quintais das casas, que são tombados, tiveram sua vegetação suprimida por conta de construções irregulares e houve muito aterramento de mangue desde a década de 1990. Esse assunto vem sendo discutido no Núcleo de Educação Patrimonial de Olinda (Nepo), na Câmara de Legislação e Tombamento (CLT) e no Conselho de Preservação da cidade”, completa Clodomir.

De acordo com a Prefeitura de Olinda, durante esses 35 anos, cerca de 20% da cobertura vegetal da Cidade Alta foi suprimida devido sobretudo a ocupações ilegais, principalmente dentro dos terrenos de imóveis particulares. “A legislação protege não apenas o casario, mas as árvores, o mar, o equilíbrio paisagístico como um todo. Olinda foi tombada e reconhecida mundialmente pelo cenário diferenciado, composto pelo verde dos quintais, pelas casas, pelo mar, pela configuração das ruas”, ressalta o técnico do Iphan, Frederico Almeida.

Para além da pedra e do cal, o mérito pela aquisição do título passa também pela representatividade do patrimônio imaterial, como a própria diversidade cultural, mas também pela memória coletiva de seus moradores. “A população se apropriou do status que a cidade tem, se orgulha por isso e é ela que ajuda a segurar o título de Patrimônio da Humanidade”, avalia Frederico.

Segundo o técnico do Iphan, Olinda se destaca entre outras cidades Patrimônio da Humanidade justamente por conta de seus moradores, que dão vida e pujança ao sítio histórico e, durante décadas, têm se posicionado como verdadeiros guardiões do patrimônio material, além de multiplicadores da cultura. “Para quem mora na Cidade Alta, Olinda é o centro do mundo. Não há uma casa sequer aqui que não tenha uma pintura da cidade, um retrato ou alguma referência artística sobre Olinda”, declara o artista plástico Luciano Pinheiro, que reside no sítio
histórico desde a década de 1960.

HOMENAGEM - A data é momento também para homenagear o artista plástico Aloísio Magalhães, que estaria completando 90 anos em 2017, e foi a pessoa diretamente responsável pela obtenção do título Patrimônio da Humanidade. Aloisio fez a defesa do título na Unesco, em Paris (França), com apoio imagético das litografias da Cidade Alta de Olinda.


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