Ato Ciclistas pedem fim da violência no trânsito Acidentes fatais com vítimas usuárias de bike têm subido, na contramão da média geral de mortes

Por: Rosália Rangel - Diario de Pernambuco

Publicado em: 16/11/2017 07:52 Atualizado em: 16/11/2017 07:59

O aumento do número de ciclistas mortos em acidentes em Pernambuco tem ido na contramão das estatísticas de mortes provocadas por outros tipos de colisões. Segundo os dados mais recentes da Secretaria de Saúde, entre 2013 e 2015, o percentual cresceu 32%. Nesse mesmo período, o total de pessoas que perderam a vida no trânsito caiu 6,3%, com redução de 24% do número de pedestres atropelados e 3,5% no percentual de motociclistas atingidos fatalmente. O Dia Mundial em Memória às Vítimas do Trânsito será lembrado no domingo para chamar atenção à necessidade de políticas como redução da velocidade nas vias e construção de infraestrutura cicloviária.

Na semana passada, a cicloativista Lígia Lima foi atropelada por um motorista enquanto trafegava dentro da ciclofaixa da Estrada do Encanamento, no Parnamirim, Zona Norte do Recife. Ela chegou a perder a consciência, foi hospitalizada e só não entrou nas estatísticas de casos fatais porque o condutor que invadiu a ciclofaixa trafegava em baixa velocidade. Em março deste ano, dois ciclistas foram mortos - um em frente ao Hospital Oswaldo Cruz, em Santo Amaro, e o outro na Avenida Getúlio Vargas, em Olinda, enquanto atravessava uma faixa de pedestres que sinalizava que ele podia fazer a travessia.

“De novembro de 2016 a maio deste ano, já fizemos quatro ghost bikes (bicicletas brancas colocadas em locais de acidentes em homenagem aos mortos)”, lembrou um dos coordenadores da Associação Metropolitana dos Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo), Daniel Valença.

Ontem, a Ameciclo mobilizou uma ação na ciclofaixa da Estrada do Encanamento para chamar a atenção da sociedade sobre a necessidade de vias adequadas. “Temos ruas com faixas largas de rolamento, quando o Manual de Sinalização Horizontal do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) orienta que elas meçam três metros, cada faixa, quando passar ônibus por ela. Enquanto isso, foi feita essa ciclofaixa (do Encanamento) com trechos de 1,08m e outros 1,20m, nunca 1,50, que é largura indicada para ciclofaixas unidirecionais”, disse o cicloativista Guilherme Jordão.
Para as ciclofaixas bidirecionais, a largura indicada é de 2,20m. Durante a ação de ontem, os militantes fizeram uma barreira humana “alargando” a ciclofaixa para mostrar que, mesmo com a largura ideal, o tráfego de veículos motorizados tem boa fluência.

O estudante de engenheira Edivaldo Júnior, 23 anos, pedala todos os dias entre o bairro de Dois Irmãos e o Centro do Recife “Para todo lugar eu vou de bicicleta desde os 14 anos. Até para a Praia de Maracaípe (Litoral Sul do estado). Acho que o pior é a falta de respeito de quem está no carro, que esquece que quem está em cima da bicicleta é um ser humano. Se ele encosta o carro na bicicleta pode quebrar um osso de quem está pedalando ou até matar. A maioria dos acidentes que sofri foi pela falta de paciência de quem está conduzindo o carro”, contou o ciclista.

Eixo estruturador entra no 2º trecho

A Secretaria estadual de Turismo, Esportes e Lazer (Seturel) assumiu os projetos do Plano Diretor Cicloviário (PDC) de Pernambuco. Na última terça-feira, o órgão anunciou que o trecho 2 do Eixo Estruturador Cicloviário, que totaliza 2,9 quilômetros, entrou em execução, com prazo de conclusão em fevereiro de 2018.

O trecho 2 ligará a Fábrica do Tacaruna à Praça do Varadouro, em Olinda. Quando concluído, se conectará ao trecho 1, entre a Fábrica Tacaruna e o Marco Zero, que tem um percurso de 5,1km. “Pelo PDC, 2016 e 2017 foram colocados com metas a médio prazo, o que era já para estar sendo concluído 264km de ciclovias em todo o estado”, afirmou um dos coordenadores da Associação Metropolitana do Grande Recife (Ameciclo), Daniel Valença.
Já a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) informou que no Recife já foram implantados 49km de rotas cicláveis, entre ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. “A CTTU também realiza campanhas educativas com foco na conscientização dos condutores no respeito às leis de trânsito e na proteção dos ciclistas e pedestres, principalmente em campanhas dentro das escolas públicas e privadas do município, uma vez que as crianças e adolescentes são considerados agentes multiplicadores”, disse a autarquia, em nota.

Segundo Daniel Valença, as ações de conscientização entre a Ameciclo e as empresas de ônibus foram interrompidas desde 2014. “Temos feito trabalhos com empresas particulares, lançamos o site bastademortesnotransito.com.br e temos discutido o Plano de Mobilidade do Recife. Todas as nossas atividades focam na redução de mortes no trânsito e estamos pedindo uma política setorial de segurança no trânsito, como a redução de velocidade e a priorização dos modos ativos de transporte”, citou o cicloativista.

Em nota, a Urbana-PE reiterou seu compromisso “em estimular a continuada capacitação dos profissionais do sistema de transporte público por ônibus na Região Metropolitana do Recife, visando a melhoria do serviço”.
O órgão que representa as empresas acrescentou que os investimentos em treinamentos e campanhas educativas são constantes, já que todos os motoristas do setor passam por capacitações e reciclagens periódicas sobre diversos temas, como direção defensiva, atendimento aos clientes e cidadania nos transportes.

“Em 2014 agrupamos uma série de iniciativas para melhorar o convívio com ciclistas durante a operação e, com o apoio da Secretaria das Cidades, iniciamos capacitação específica com todas as empresas operadoras. O tema foi incorporado pelas empresas e integra a matriz de treinamentos do sistema”, diz a nota.

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