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EMPODERAMENTO Tire Seu Bairro do Armário ganha as ruas na luta contra a 'cura gay' Movimento protesta contra a decisão do juiz que autoriza o tratamento de reversão da homossexualidade

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 22/09/2017 17:52 Atualizado em: 22/09/2017 18:14

O coletivo Tire Seu Bairro do Armário foi às ruas, na tarde desta sexta-feira, no ato público intitulado "Não Somos Doentes!". O protesto vai contra a decisão de um juiz que abriu precedente para terapias de reversão da homossexualidade no procedimento chamado de "cura gay". A concentração teve início às 16h, na Praça do Derby, no Recife.

Evandro Farias, um dos organizadores do ato, considera a autorização do juiz mais uma repressão aos direitos LGBTs. Foto: Eduarda França/Esp. DP (Evandro Farias, um dos organizadores do ato, considera a autorização do juiz mais uma repressão aos direitos LGBTs. Foto: Eduarda França/Esp. DP)
Evandro Farias, um dos organizadores do ato, considera a autorização do juiz mais uma repressão aos direitos LGBTs. Foto: Eduarda França/Esp. DP
Evandro Farias, de 17 anos, faz parte do Movimento Rua e é um dos organizadores da mobilização. Para ele, que se reconhece como bissexual, a importância do ato é combater a decisão do juiz que reafirma a opressão contra os LGBTs. "É importante defender a parte periférica da comunidade LGBT, onde há uma forte concentração de igrejas evangélicas que podem querer obrigar membros a se submeterem a terapia de reversão sexual", denunciou o jovem. "Por ter trejeitos femininos, sempre fui chamado de bichinha e de viado. Desde que eu era mais novo, sempre sofri homofobia. A doença que os homossexuais adquirem vem do preconceito e não de nós. Muitos deles cometem suicidio por causa das coisas que precisam enfrentar", desabafou.

A advogada e professora universitária Manoela Alves, de 33 anos, também questiona. "A decisão é incoerente e desrespeitosa aos direitos humanos. Fez com que nós regredíssemos 27 anos em uma semana. As pessoas estão falando como se homossexualidade fosse opção. Autorizar o tratamento estigmatiza a comunidade LGBT, que já é tão marginalizada. Mas ainda temos confiança de que, em maiores instâncias, irão barrar essa decisão. O ato de hoje demarca uma luta que qualquer pessoa pode e deve ocupar, porque essa luta é uma luta por respeito e por igualdade de direitos. É uma forma de dizer que não vamos tolerar nenhum tipo de discriminação", ponderou.

A realidade marcada por conflitos daqueles que conseguem ir além dos armários não pode ser ignorada. Participante do movimento, o olindense Lucas  Vinicius da Silva, de 20 anos, pede que a orientação sexual não seja tratada como doença e lembra as consequências do preconceito que já enfrentou. "Eu sofri homofobia dentro de casa. Me assumi com 14 anos e foi muito difícil. Meu irmão me agrediu e fui expulso. Depois, ainda apanhei na rua", contou.

Cássia Lima lembra que a comunidade só quer amar e ser amada. Foto: Eduarda França/Esp. DP (Cássia Lima lembra que a comunidade só quer amar e ser amada. Foto: Eduarda França/Esp. DP)
Cássia Lima lembra que a comunidade só quer amar e ser amada. Foto: Eduarda França/Esp. DP
"A decisão do juiz é um desrespeito ao movimento LGBT, que tem uma história de lutas pela cidadania. É um grande retrocesso", opinou o estudante de odontologia Marjory Williams, 19. "Uma vez, em uma festa em Caruaru, dentro de uma balada LGBT, eu saí para tomar ar quando jogaram uma garrafa de vodka no meu rosto e me chamaram de viado. Depois disso, acordei no hospital", disse. "Esse ato significa um marco do período pós-golpe para o movimento LGBT. É um dos primeiros contra uma pauta exclusivamente LGBT contra os retrocessos", destacou o jovem.

Outra manifestante, Cássia Lima, 20, lembra que a comunidade LGBT só quer amar e ser amada. "Eu digo muito que a gente não tem cura nem pra AIDS, quem dirá pra homossexualidade?", brincou a jovem que se reconhece como pansexual. "Sou ativista e dentro da minha casa sofro homofobia. Já sofri diversas agressões físicas e psicológicas. O ato é importante pra mostrar a todos que a gente quer ser livre para amar. Vamos legalizar o amor".

Com informações da repórter Eduarda França


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