Sem teto Famílias protestam contra desocupação de túnel em Boa Viagem Pneus e pedaços de madeira queimados interditam o tráfego na Rua Ernesto de Paula Santos, na descida do viaduto Tancredo Neves

Publicado em: 14/09/2017 07:42 Atualizado em: 14/09/2017 12:22

Famílias protestam contra desocupação de túnel em Boa Viagem. Foto: Reprodução/ WhatsApp
Famílias protestam contra desocupação de túnel em Boa Viagem. Foto: Reprodução/ WhatsApp

As famílias que ocupam o Túnel Augusto Lucena, em Boa Viagem realizam, na manhã desta quinta-feira, um protesto no local contra a ação de desocupação. A manifestação aconteceu na descida do túnel. Pneus e pedaços de madeira queimados interditaram o tráfego na Rua Ernesto de Paula Santos, na descida do viaduto Tancredo Neves. O ato foi encerrado antes das 8h.

Termina hoje o prazo dado pela Justiça para que a Comunidade Pocotó deixe o local. As 40 famílias ainda não sabem para onde ir e temem viver na rua. Esta manhã, os moradores alegaram que, após o protesto, a prefeitura teria negociado a transferência das famílias para uma área ao lado o Rio Jordão, onde dunciona uma sementeira. Dois barracos chegaram a ser levantados no local. No entanto, com a chegada da equipe, os imóveis foram derrubados, assim como a casa do dono da sementeira. O homem disse que morava no local há oito anos e adiantou que estaria sendo removido para um terreno nas imediações da avenida Barão de Souza Leão. Dois representantes da ocupação devem se reunir no final da manhã com a prefeitura.


Retirada dos moradores começou a ser feita esta manhã. Foto: Julio Jacobina/ DP
Retirada dos moradores começou a ser feita esta manhã. Foto: Julio Jacobina/ DP


A Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (Dircon) informou, por meio de nota, que realizou a retirada de  uma nova invasão na Avenida Desembargador José Neves, ao lado do Túnel Augusto Lucena onde funcionava a Sementeira de Seu Biu. Segundo a assessoria de comunicação, não houve nenhum encaminhamento por parte da Prefeitura do Recife para que os moradores da Comunidade do Pocotó se mudassem para o local. Foram retirados quatro barracos de madeira e algumas demarcações, com o apoio da Polícia Militar. Ainda não se pronunciaram sobre a sementeira se mudar para outro endereço.

"Um funcionário da prefeitura foi na comunidade e disse que iam mover eles para cá. Eu tive que ir lá na prefeitura saber o que ia acontecer comigo. Estou aqui há oito anos, organizei o terreno todinho, que era só mato e lixo, plantei árvores e tudo mais. Agora querem me mudar pra outro lugar. Não podem fazer isso nem comigo nem com os moradores do Pocotó", reivindicou Severino José de Barros, 62 anos, dono da sementeira.


Helena Ferreira, 51 anos, foi uma das moradoras que recebeu a ordem de despejo. "A situação está complicada demais. A prefeitura mandou que nós vinhéssemos para esse terreno, alguns já começaram a montar os barracos e agora eles chegam e simplesmente destroem tudo, sem dar nenhuma explicação. Como pode isso?", questiona a agricultora.

O coordenador estadual do Movimento de Trabalhadores Sem Teto, Tibério Gouveia, informou que acionou advogados populares assim que soube do caso da comunidade. A empregada doméstica Jarmelina Lindalva, 46, exibe olheiras de noites mal dormidas. Ela veio de Lagoa de Itaenga e, com um salário mínimo, construiu sua casa de alvenaria no local por R$ 8 mil. Naquele pequeno espaço, mora com os quatro netos. “Não tem sossego. Para onde formos, é irregular. Vão sempre nos retirar e nós vamos viver nos mudando”, reclamou.

Luciana Maria Barbosa, 26, disse que não sai. “Se sairmos, perdemos todos os nossos direitos”, protestou. Ela mora no local há 19 anos e, para construir a casa onde vive com os dois filhos, usou o dinheiro que ganha da venda de cachorro quente e hambúrguer na comunidade.

A orientação do MTST é que resistam, mas os que têm mínimas condições procuram um plano B. Jarmelina atravessou o túnel e o Viaduto Tancredo Neves à procura de um terreno. Demarcado com estacas de madeira e plantas, o quadrado de terra será o ponto de partida se não houver outro jeito. “Não vou desistir. Mas não posso deixar meus netos na rua”. A retirada foi pedida à Justiça pelo município, pois a presença das casas pode representar riscos ao túnel. A Secretaria de Infraestrutura e Habitação e a Secretaria de Saneamento do Recife executam, atualmente, obras de conclusão de 1.293 moradias em 10 conjuntos habitacionais com novo padrão de qualidade, nas zonas Norte, Sul e Oeste, além da região central. Na atual gestão foram entregues 12 conjuntos com 1.346 unidades.



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