RECONHECIMENTO Fotógrafo do Diario entre os melhores do país por registro de crianças leitoras no lixão de Rio Doce Peu Ricardo tem 32 anos e também ganhou o Cristina Tavares, principal prêmio de jornalismo do estado

Por: Adaíra Sene

Publicado em: 12/07/2017 23:05 Atualizado em: 12/07/2017 23:20

As crianças leitoras do lixão de Rio Doce, em Olinda. Foto: Peu Ricardo/DP (As crianças leitoras do lixão de Rio Doce, em Olinda. Foto: Peu Ricardo/DP)
As crianças leitoras do lixão de Rio Doce, em Olinda. Foto: Peu Ricardo/DP
Da imundície do pátio, entre os detritos, o bicho homem engolia com voracidade o que era deixado para trás nos versos sem rima de Manoel Bandeira. Numa tarde de sol a pino, no lixão de Rio Doce, crianças caçam dos entulhos restos de esperança. Quando a vida transcende a arte, somente um olhar sensível é capaz de traduzir as metáforas do cotidiano. E foi com o registro de As crianças leitoras do lixão de Rio Doce, em Olinda, que o fotojornalista Peu Ricado, 32, da equipe do Diario de Pernambuco, se consagrou como um dos melhores do país. O reconhecimento veio na última semana, quando sua foto foi selecionada para a edição 2017 do livro O Melhor do Fotojornalismo Brasileiro. Ao lado dele, o fotógrafo Paulo Paiva também figura entre os destaques do ano.

A pauta nada tinha a ver com poesia ou fé na vida. Peu Ricardo estava em Rio Doce, em meados de janeiro do ano passado, para fotografar as obras inacabadas na cidade, incluindo o Estádio Grito da República. No entanto, ao passar pelo aterro, os ponteiros do relógio confundiram passado e presente, e ele parou. "Fui menino naquela comunidade. Brinquei no lixo que fica acumulado, como eles estavam brincando. Depois de quase 30 anos, nada mudou", desabafou o fotógrafo. "Reparei que tinham cinco crianças por lá. Quatro meninos e uma menina. Fiz a minha denúncia e, quando voltei, eles ainda estavam lá. Brincavam com livros. Querendo ou não, com toda a dificuldade de morar na comunidade, eles estavam ali tentando ler, querendo aprender alguma coisa. Isso me fez refletir mais sobre a minha vida e a minha história. Foi forte, mas fiquei muito feliz", desaguou. Peu Ricardo ainda ganhou o Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo, na última segunda, com a foto Gaivotas da Rua Azul. A imagem retrata o cotidiano de crianças e adolescentes da Favela do Papelão, no bairro de São José

As crianças leitoras do lixão de Rio Doce, em Olinda está entre os trabalhos de 116 fotojornalistas, profissionais de revistas, jornais, portais e agências de notícias de todas as regiões do Brasil presentes no Melhor do Fotojornalismo Brasileiro, da Editora Europa. Foram selecionadas 242 imagens, entre as 700 que foram enviadas para a seleção. O material foi garimpado meticulosamente e destaca a prisão de políticos e marqueteiros com o desdobramento da Operação Lava Jato, o impeachment da presidente Dilma Rousseff, os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, o acidente aéreo que matou quase todo o time de futebol da Chapecoense (além de importantes jornalistas esportivos), as várias manifestações sociais país afora e outros fatos importantes de 2016. Outro fotógrafo do Diario que está entre os destaques do livro é Paulo Paiva. Ele registrou a torcida rubro-negra antes de uma partida do Brasileirão. Recompensado por não desistir mostra uma criança voando nos braços do pai durante o tradicional Cazá, Cazá

Atualmente, o Melhor do Fotojornalismo Brasileiro é o único livro nacional dedicado, exclusivamente, ao fotojornalismo. A obra ambiciona reunir uma coletânea das fotos mais marcantes do ano anterior e, assim, criar um documento da história contemporânea através das imagens. A pré-venda da obra deve começar no dia 25 de julho, através do site da editora, ao custo de R$ 99,90.



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL