Educação Alunos pernambucanos levam o nome do estado para o mundo São alunos e alunas que levam o nome do estado para o exterior e conquistaram destaque internacional

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 22/07/2017 15:30 Atualizado em: 31/07/2017 20:41

Jonas já foi para os Estados Unidos e China. Agora, embarca para Londres. Foto: Thalyta Tavares/Esp.DP.
Jonas já foi para os Estados Unidos e China. Agora, embarca para Londres. Foto: Thalyta Tavares/Esp.DP.
Eduarda está no Japão. Vinícius, nos Estados Unidos. Victor se prepara para embarcar para Atlanta, e Jonas está fazendo as malas para ir a Londres. Gabriel e seus colegas de classe conheceram Boston. Nessa época Raíza e Matheos estavam em Tóquio. Alguns moram em bairros periféricos e frequentam instituições públicas. Outros vivem em bairros nobres e estudam em algumas das escolas privadas mais conceituadas do estado. Um elo une as histórias desses estudantes pernambucanos: o bom desempenho escolar. São alunos e alunas que levam o nome do estado para o exterior e conquistaram destaque internacional. 

Morador do Ibura, Jonas Tavares é um desses estudantes que fazem professores e pais se orgulharem. Quando estudava na Escola Estadual Dom Sebastião Leme, viajou para os EUA pelo programa Ganhe o Mundo. Lá, fez uma seleção e ganhou uma bolsa para estudar em Xangai. De volta ao Brasil, recebeu outra boa notícia: foi selecionado para o programa da ONU World Merit 360. Ele vai para Londres em agosto. “Sempre estudei em escola pública e não desisto dos meus sonhos. Quero ser diplomata”, diz Jonas.

Já o estudante Vinícius Freitas, 17, representa Pernambuco nos Estados Unidos. Uma das melhores universidades do mundo, a Yale University selecionou o aluno do Colégio Damas para um curso de verão. Ele concorreu com estudantes de 150 países. “Acredito que somos cidadãos globais, logo, o país em que o indivíduo nasce ou é criado não deveria limitar as suas oportunidades.”

Apesar de os destaques surgirem em todas as redes e classes sociais, a presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, ressalta que as oportunidades para os estudantes são desiguais no país. “Numa analogia com uma corrida, é como se o aluno de nível socioeconômico maior começasse a prova com 40 metros de vantagem e o da escola pública no ponto zero. Não porque a escola particular é necessariamente melhor, mas porque as oportunidades foram diferentes”, pontua.

Aos pais e professores que querem ajudar no processo de aprendizagem:

Dar aulas ou falar sobre habilidades socioemocionais para que crianças e adolescentes aprendam a ter persistência, garra e autoconfiança não são o suficiente para que estudantes desenvolvam essas e outras competências. Mais do mencionar esses assuntos, as escolas e as famílias devem se preocupar em proporcionar ambientes com clima favorável ao desenvolvimento dos aprendizes. Essa é a ideia defendida pelo jornalista e escritor canadense Paul Tough, em Como ajudar as crianças a aprenderem: o que funciona, o que não funciona e por quê, lançado neste mês no Brasil. O livro apresenta resultados de pesquisas internacionais que investigaram como práticas que levam o ambiente em conta ajudam alunos de diferentes faixas etárias, contribuindo para o processo de aprendizagem.

Confira algumas ideias do autor em dez pontos:
 
1. Estratégias - Histórias, projetos e programas-modelo não devem ser reproduzidos sem levar em conta características individuais e cada realidade. “Nenhum programa ou escola é perfeito, porém cada intervenção bem-sucedida contém algumas pistas sobre como e por que funciona, e tais pistas podem fornecer informações importantes para o restante do campo.”

2. Habilidades - Falar para os filhos ou alunos sobre atributos como garra e perseverança não necessariamente fará com que eles aprendam essas competências. “Certas técnicas pedagógicas que funcionam em matemática ou história são ineficazes quando se trata de qualidades não cognitivas. Nenhuma criança aprendeu criatividade preenchendo folhas de trabalho sobre criatividade.”

3. Ambiente - Os estímulos e ambiente no qual as crianças estão inseridas são importantes para o seu desenvolvimento. “Pais com mais recursos costumam fornecer mais livros e brinquedos educativos para seus filhos na primeira infância; já os pais de baixa renda têm menor probabilidade de morar em bairros com boas bibliotecas, museus e outras oportunidades de aprimoramento.”

4. Estresse - Uma das principais formas negativas de o ambiente influenciar o desenvolvimento da criança é o estresse. “A adversidade, especialmente na primeira infância (seis primeiros anos), tem um poderoso efeito no desenvolvimento da intricada rede de resposta ao estresse que cada um de nós possui.”

5. Família - O primeiro e mais essencial ambiente para que as crianças desenvolvam capacidades emocionais, psicológicas e cognitivas é o lar e, mais especificamente, a família. “Começando na infância, elas dependem de respostas dos pais para interpretar o mundo.”

6. Trauma - Da mesma forma que o ambiente doméstico pode ter impacto positivo na formação de crianças, pode fazer o oposto. “Sabemos que, quando as crianças experimentam o estresse tóxico, principalmente se são muito jovens, isso pode prejudicar seu desenvolvimento de maneiras profundas, comprometendo seu sistema imune, suas funções executivas e sua saúde mental.”

7. Negligência - Uma das ameaças mais sérias à formação saudável de uma criança é a negligência, isto é, a ausência de interesse por parte dos pais e cuidadores. “Quando as crianças são negligenciadas, especialmente bebês, seu sistema nervoso interpreta isso como uma séria ameaça ao seu bem-estar. A negligência pode fazer mais mal a uma criança do que os maus-tratos físicos.”

8. Intervenção precoce - Para ajudar a melhorar a vida de crianças desfavorecidas, é preciso procurar oportunidades para intervir positivamente desde cedo. “Há evidências esmagadoras de que a primeira infância é um período extraordinário tanto em oportunidades quanto em perigo potencial para o desenvolvimento.”

9. Apego - O vínculo entre pais e filhos ajuda a criar nas crianças as sensações de segurança e autoconfiança. “Essa confiança e independência têm implicações práticas no mundo real: bebês que com um ano mostravam sinais de apego seguro às mães tornavam-se crianças mais atentas e envolvidas na pré-escola, mais curiosas e resilientes no ensino fundamental e com uma probabilidade maior de terminar o ensino médio.”

10. Disciplina - Punições severas se mostraram ineficazes para motivar jovens com problemas a serem bem-sucedidos. “Programas de disciplina escolar poderiam ser mais eficazes caso se concentrassem menos em impor punições e mais em criar um ambiente no qual os estudantes sem capacidades autorregulatórias pudessem encontrar as ferramentas e o contexto necessários para desenvolvê-las.”

Fonte: Livro “Como ajudar as crianças a aprenderem” (Paul Tough), Editora Intrínseca, 2017.

Aos estudantes que querem se desafiar:

Nos ensinos fundamental e médio

Olimpíada de Matemática do Ensino Médio da Universidade de Harvard-MIT
As provas se dividem em Individual Tests, Team Round e Guts Round. Cada Individual Test tem 10 questões com duração total de 50 minutos.
Site: www.hmmt.co

Olimpíada Brasileira de Física das Escolas Públicas
Em cada fase, os alunos participantes da olimpíada são divididos em três níveis, de acordo com o grau de escolaridade.
Site: www.sbfisica.org.br

Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas
É voltada aos alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio das escolas públicas municipais, estaduais e federais.
Site: www.obmep.org.br

Olimpíada Brasileira de Biologia
Composta de duas fases, sendo a primeira eliminatória e composta de questões de múltipla escolha e a segunda classificatória, composta por questões teóricas.
Site: www.anbiojovem.org.br

Olimpíada Brasileira de Química
Composta de duas etapas, ambas formadas por três fases. Os estados participantes fazem olimpíadas estaduais preliminares.
Site: www.obquimica.org

Olimpíada de Língua Portuguesa
Alunos devem escrever um texto sobre um tema determinado e na categoria designada para o seu ano escolar.
Site: www.escrevendoofuturo.org.br

Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente
Competição se dá entre projetos a serem apresentados e não por provas como nas outras olimpíadas.
Site: www.olimpiada.fiocruz.br

Olimpíada Brasileira de Robótica
Questões relacionam o tema robótica aos conhecimentos da grade curricular das diferentes séries dos ensinos fundamental e médio.
Site: www.obr.org.br

Olimpíada Brasileira de Astronomia
Aberta à participação de escolas públicas ou privadas, urbanas ou rurais, sem exigência de número mínimo ou máximo de alunos.
Site: www.oba.org.br

Na universidade

EDP University Challenge
Iniciativa internacional da EDP para jovens universitários em Portugal, Brasil, Espanha e Polônia. Os estudantes devem criar planos de negócios, marketing ou comunicação.
Site: www.edp.com.br/pesquisadores-estudantes/edp-university-challenge

Urban21
O concurso busca incentivar alunos a desenvolverem projetos urbanos que tragam novas ideias sobre mobilidade, densidade, infraestrutura e transporte, além das edificações no entorno, em áreas urbanas nos municípios brasileiros.
Site: www.arcoweb.com.br/urban21

IPNI Scholar Award
O International Plant Nutrition Institute (IPNI) oferece prêmios no valor de 2 mil dólares a estudantes de mestrado e doutorado com estudos relacionadas à nutrição vegetal e ao manejo de fertilizantes.
Site: www.ipni.net/scholar

SDGs Student Photo Contest 2017
Concurso de fotografia da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e também sobre a aceitação de refugiados e migrantes.
Site: www.onu.org.br

Entrevista >> Telma Ferraz, professora do Centro de Educação da UFPE

Ser “bem-sucedido” na escola hoje é corresponder aos parâmetros adotados pelas unidades de ensino sem necessariamente considerar as experiências de vida individuais dos estudantes. A afirmação é da professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Telma Ferraz. Graduada em psicologia, com mestrado e doutorado em psicologia cognitiva e pós-doutorado em educação pela Universidade de Buenos Aires, ela é membro do Centro de Estudos em Educação e Linguagem (Ceel), que desenvolve atividades de formação de professores, produção e análise de materiais didáticos e de propostas curriculares. Em entrevista ao Diario, a pesquisadora ressaltou que é se faz necessário pensar em uma escola com currículo mais inclusivo que garanta a todos as condições de aprendizagens e que auxiliem os estudantes a interagir e agir nas diferentes esferas da sociedade.

O que define um estudante “bem-sucedido” no ambiente escolar?
Avaliar é uma das atividades mais complexas da prática de um professor. Ao avaliarmos, definimos parâmetros de quais expectativas temos em relação aos estudantes e elegemos conhecimentos e habilidades a serem mais valorizados. Assim, os estudantes bem sucedidos são os que atingem as capacidades valorizadas pela escola ou explicitam os conhecimentos tidos como mais relevantes. Os estudantes bem sucedidos, portanto, são os que se aproximam das expectativas escolares. Não necessariamente são os que na vida têm mais capacidade de intervenção na realidade, de capacidade de leitura crítica e de ação no cotidiano. É preciso, portanto, definir, na escola, quais são as aprendizagens fundamentais e valorizar os diferentes conhecimentos apropriados pelos estudantes, considerando as diferentes experiências de vida. É necessário pensar em uma escola com currículo mais inclusivo que garanta a todos as condições de aprendizagens que auxiliem os estudantes a interagir e agir nas diferentes esferas da sociedade.

De que forma a desigualdade educacional, que dificulta o desenvolvimento dos alunos, se revela no Brasil?
São muitas as desigualdades. Elas vão desde as oportunidades de experiências extraescolares variadas até a própria permanência na escola. Para muitas crianças, estar na escola já representa um esforço. Podemos ver isso, por exemplo, nas comunidades do campo em que os estudantes têm difícil acesso à escola e muitas secretarias de educação, em vez de garantir as unidades de ensino no campo, obrigam os estudantes a se deslocarem longas distâncias para estarem em escolas na cidade. Outras desigualdades dizem respeito ao acesso a livros e a outros materiais que ampliam os espaços de aprendizagem ou mesmo à possibilidade de frequentarem cinema, teatro, dentre outros equipamentos culturais. Podemos ainda chamar a atenção às frágeis condições de muitas escolas e às péssimas condições de trabalho dos professores, que dificultam, muitas vezes, uma prática pedagógica mais produtiva.

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