Seletivas Atletas pernambucanos dão exemplo de superação em Jogos Paralímpicos do Recife Competições iniciaram neste sábado (11) no Compaz Ariano Suassuna no Cordeiro

Por: Alef Pontes

Publicado em: 10/06/2017 17:06 Atualizado em: 10/06/2017 17:42

Atletas com deficiências motora, visual e autismo competem em diferentes categorias. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP
Atletas com deficiências motora, visual e autismo competem em diferentes categorias. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP


Neste sábado (10), o Compaz Ariano Suassuna, localizado no bairro do Cordeiro, recebeu o início das disputas dos Jogos Paralímpicos do Recife. Distribuídos em suas modalidades, de acordo com o ranking, idade e graus de deficiência, atletas paralímpicos de todo o estado competiram pela classificação para os Jogos Estaduais e Brasileiros Paralímpicos de 2018, nas categorias aberta e estudantil. Ao todo, 427 paratletas participam, até o domingo (11), em sete modalidades: natação, golbol, paratletismo, tênis de mesa, bocha, basquete em cadeira de rodas e parabadminton.

Medalha de ouro no tênis de mesa, Maria Raiane, de 14 anos, era só alegria com a classificação para o ano que vem. "Fui lá, fiz o que pude e venci", vibrou, ao final de três partidas, já com a medalha no peito. Aos nove anos, a garota natural de Gravatá, no agreste do estado, foi atropelada quando saia da escola e teve a perna esquerda amputada. Hoje, com uma prótese, encontrou a superação por meio do esporte. A paixão pelo tênis de mesa, veio como uma brincadeira, introduzida há três anos por um professor da Escola Cônego Eugênio Vila Nova, onde estuda até hoje.

De lá pra cá, adotou uma dura rotina de treinos, quatro vezes por semana, que têm dado frutos: Raiane representou Pernambuco nos jogos Paralímpicos Nacionais nos dois últimos anos, ficando em terceiro lugar em 2016. Atualmente a adolescente é associada ao Atlético do Santos Dumont e divide os treinos entre Gravatá e Recife. "Agora é treinar mais e me preparar para o estadual e nacional do ano que vem", disse, com a firmeza de quem busca por seus sonhos.

Aos 14 anos, Raiana é medalha de ouro no tênis de mesa. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP
Aos 14 anos, Raiana é medalha de ouro no tênis de mesa. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP


A pentatleta pernambucana Yane Márcia, bicampeã em Jogos Pan-americanos, acompanhou de perto as competições do dia, participando da entrega de medalhas, e destacou a importância do evento. "Por ser feito em parceria com as federações dos esportes e contar com arbitragem oficial, dá esse respaldo primordial para que os paratletas pernambucanos estejam nos rankings das competições nacionais", explicou.

No parabadminton, a dupla Jonas Batista e Edvaldo Firmino não deram espaço para os competidores e levaram o ouro na categoria Dupla Masculina, além de medalhas de prata em categorias individuais. Aos 65 anos de idade, Jonas se considera em seu auge no esporte: "Não tem esse negócio de que está velho não. Badminton não é você brigar, é você ter inteligência e saber se colocar". Apesar do espírito competidor, o atleta se diverte com a "brincadeira". "Brincadeira" tratada com seriedade, são três anos dedicando-se diariamente ao esporte.

Com os movimentos das pernas reduzidos após lesões nos dois joelhos, ele trocou as corridas diárias e as partidas de futebol pelas raquetes e petecas. "Eu perdi 35% da mobilidade nas pernas e o médico me disse que eu teria que parar com o esporte ou amputar as pernas. Eu fui por outro caminho", conta, rindo do "drible" que deu no prognóstico e da saúde e disposição que esbanja. "E quero chegar aos 80 anos jogando!", adianta para os adversários.

Entusiasta dos esportes, Jonas não pensa em parar tão cedo. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP
Entusiasta dos esportes, Jonas não pensa em parar tão cedo. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP


Seu parceiro de quadras, Edvaldo Firmino não fica atrás. Aos 42 anos, ele já acumula dez anos no atletismo e é o segundo colocado no ranking nacional de arremesso de dardos. Há quatro empunhou a raquete pela primeira vez e há três montou a parceria vitoriosa com Jonas. "O esporte paralímpico mudou completamente a minha vida. Eu vivia em casa, não saia para nada. Quando eu vim para o Recife e descobri isso aqui, tudo se transformou", fala emocionado o paratleta, natural de Sertânia, no sertão pernambucano. Mas também reserva críticas à pouca atenção dedicada às modalidades paralímpicas: "Ainda falta divulgação. Muita gente vive no interior, no sertão, sem saber dessas oportunidades. As pessoas precisam acompanhar de perto o nosso trabalho".

O dia contou ainda com espaço lúdico para crianças, com idades entre sete e 11 anos, vivenciarem a experiência pedagógica de estar no lugar dos atletas paralímpicos, com na prática do golbal - esporte semelhante ao futebol, com as mãos, praticados por pessoas cegas -, através do uso de vendas.

As competições seguem neste domingo (11), com provas de paratletismo no Colégio Santos Dumont, em Boa Viagem, e golbal na Escola Especial Instituto dos Cegos, localizada no bairro das Graças, ambas a partir das 8h, com entrada gratuita para o público em geral.

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