Contra o preconceito Microcefalia: mães pedem respeito e denunciam preconceito A União Mães de Anjos (UMA), criada por mães com bebês com microcefalia, promoveu uma manifestação ontem para denunciar preconceito contra os filhos

Por: Larissa Rodrigues - Diario de Pernambuco

Publicado em: 06/05/2016 07:00 Atualizado em: 05/05/2016 21:14

Mães de bebês microcéfalos querem punição contra o preconceito Foto: Rafael Martins
Mães de bebês microcéfalos querem punição contra o preconceito Foto: Rafael Martins
“As pessoas olham para nossas crianças como se elas fossem pedintes. Mas queremos somente respeito.” A queixa é de Jaqueline Marins da Silva, 40 anos, avó de Alicia Isabela, sete meses de vida. A menina tem microcefalia, assim como Valentina Vitória, também com sete meses, filha de Vanessa de Assis, 32. “Esta semana uma mulher perguntou se minha filha era doente, no Centro de Prazeres. Respondi não e expliquei o que é microcefalia”, contou Vanessa. Os relatos de desrespeito e preconceito com os bebês têm se multiplicado, o que motivou a manifestação das mães, ontem, na Rua Princesa Isabel, bairro da Boa Vista, área central do Recife.

A União Mães de Anjos (UMA) promoveu a iniciativa. De acordo com a presidente do grupo, Germana Soares Amorim, 24, mãe de Guilherme, cinco meses, a hostilidade virtual tem incomodado bastante as mães. Segundo ela, foram criados perfis falsos em redes sociais com fotos reais de bebês com microcefalia objetivando obter dinheiro. “Outras páginas chamam nossos filhos de demônios, de miseráveis, falam que somos a decadência do Brasil. Comparam crianças de propagandas publicitárias com um bebê com microcefalia em estado debilitado, a fim de denegrir sua imagem”, apontou Germana.

A presidente da UMA denunciou que uma mãe do grupo foi constrangida ao tentar tirar a identidade do filho. “Quando ela chegou ao cartório uma mulher colocou a mão na cabeça da criança e disse Jesus, tira o demônio desse menino.” Para as mães da UMA, agrupar-se enquanto coletivo não é só questão de apoiar-se para lidar com dificuldades vivenciadas na rotina dos bebês, mas também de se posicionar politicamente e criar barreira de proteção contra a intolerância sofrida por seus filhos. “Ou a sociedade se conscientiza ou vai pagar, porque é crime. Ainda não acusamos ninguém formalmente em delegacias. Mas algumas páginas saíram da rede pelo número de denúncias”, enfatizou Germana. Atualmente, 296 mães integram a UMA, da capital e do interior.

Uma delas é Isadora Moura, 25, mãe de Mauro Moura, seis meses. Isadora contou que entrou num supermercado com o esposo, que carregava seu filho nos braços e andava um pouco a frente. “Sem perceber que eu era a mãe, uma mulher disse: esses bebês estão nascendo todos doentes. Em outra ocasião, num restaurante, perguntaram se meu filho ia ser mongolóide. Expliquei o que é microcefalia”, relatou.

Na última terça-feira,, a Secretaria de Saúde de Pernambuco divulgou novo boletim dos casos de microcefalia no estado. De 1º de agosto de 2015 até 30 de abril de 2016 foram notificados 1.912 casos, com 803 deles (41%) que atendem aos parâmetros da OMS para a malformação. Destes, 339 foram confirmados e 920 descartados.

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