Rotina Assinante há mais de 40 anos do Diario de Pernambuco, leitora de 90 anos acorda cedo para se informar Maria Dulce Baltar Buarque de Gusmão gosta da leitura em papel e afinco por guardar em casa as páginas da história

Por: Alice de Souza - Diario de Pernambuco

Publicado em: 28/04/2016 10:00 Atualizado em: 28/04/2016 14:28

Ler o jornal é um hábito de longa data na vida de Maria Dulce. Foto: Brenda Alcântara/Esp DP (Ler o jornal é um hábito de longa data na vida de Maria Dulce. Foto: Brenda Alcântara/Esp DP)
Ler o jornal é um hábito de longa data na vida de Maria Dulce. Foto: Brenda Alcântara/Esp DP

Maria Dulce Baltar Buarque de Gusmão preserva com orgulho uma característica em extinção em tempos de efemeridade. Tem gosto pela leitura em papel e afinco por guardar na própria casa as páginas da história. Os fatos marcantes estão documentados em arquivos feitos por ela e também na sua memória, que hoje faz 90 anos e está entrelaçada diretamente com a vida quase bissecular do Diario de Pernambuco. Maria Dulce é assinante há mais de 40 anos do jornal. Todos os dias, acorda cedo e coloca entre as primeiras tarefas do dia ler as principais manchetes. Hoje, pela primeira vez, ao acordar às 7h e pegar a publicação no terraço, será ela própria notícia deste veículo.

Ler o jornal é um hábito de longa data na vida de Maria Dulce. Mesmo antes de casar, ela já tinha gosto pela leitura. Interesse em comum com o marido, com quem casou em 1950. Foi por causa dele que a idosa virou leitora assídua do Diario, uma tradição passada de pai para filho na casa do até então namorado. Desde aquela época, ela se acostumou a levantar para ler as notícias. Melando o dedo de cinza nas páginas, Maria Dulce soube de fatos antigos como a morte de Juscelino Kubitschek, em 1976, e leu as crônicas de Assis Chateaubriand.

Nem mesmo quando foi morar no Rio de Janeiro, durante seis anos entre as décadas de 1960 e 1970, ela deixou a paixão pelo Diario para trás. Vez ou outra, o marido ia às bancas procurar o tradicional informante dos fatos de Pernambuco. Depois da partida do amor, Maria Dulce regressou ao Recife e recebeu como herança a assinatura do jornal. Uma caminhada que já dura quatro décadas. “Faz parte da casa, é como um costume mesmo. Se não vem, sinto falta e ligo logo para reclamar. Às vezes, vou até a empresa do meu filho buscar o dele”, contou.

Maria Dulce é matriarca de uma grande família. Nove filhos, todos criados, crescidos e formados, 19 netos e 12 bisnetos, além de outros dois a caminho. Uma geração formada para amar ler jornais. Um dos netos, Álvaro Feitosa Filho, 22, costumava ler as coleções feitas pelo Diario e guardadas com carinho pela avó. Adquiriu com ela o hábito de conservar páginas históricas e até enveredou pela vida acadêmica em comunicação. Depois, acabou trocando para direito, mas permanece amante do jornal. “Eu sempre achei que valia a pena recortar e guardar certas páginas para mostrar aos meus netos no futuro”, explica Maria Dulce.

As editorias mais lidas por Maria Dulce são Local e Esportes, sobretudo quando o Sport perde. Nas palavras de um dos filhos, as páginas ficam até gastas pelo dedilhar da alvirrubra ferrenha. Quando ela gosta do texto, não importa o tamanho, lê até o fim. Apesar disso, confessa Maria Dulce, já foi uma leitora mais assídua. A idade implica certas restrições.

A vida está mais tranquila do que na época em que dava mais de um expediente para cuidar do trabalho e dos filhos. Dentre as obrigações atuais, está a de receber os bisnetos toda as quinta-feiras para um tradicional almoço com pirão de peixe, receita própria, pegar o Diario todas as manhãs e cuidar das contas. Maria Dulce não confia nas calculadoras, faz tudo sempre à mão e correto. Diz que não precisa de mais nada a essa altura da vida.

Ia realizar a viagem anual a Aparecida, em São Paulo, na data do aniversário. Após insistência dos filhos, decidiu ficar. Hoje, ela reconhece com a sabedoria de nove décadas, é uma data como poucas. A festa foi organizada pela família, antes disso haverá uma missa. Maria Dulce está empolgada, mas a felicidade maior reside nas caixas amontoadas no terraço de casa. O presente, expresso no convite, é uma cesta básica. “Fiz uma lista de instituições e vou doar. Não preciso armazenar presentes”,disse. Dulce, é exemplo para as gerações.

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