Bikes Fotógrafo retrata bicicletas no universo do trabalhador Paulo Sultanum registrou durante dois anos imagens das bikes de trabalhadores que usam o veículo como meio de transporte ou serviço

Por: Rosália Vasconcelos

Publicado em: 20/09/2015 09:48 Atualizado em: 20/09/2015 10:23

Cenas foram registradas em 13 municípios entre a Zona da Mata e o Agreste. Foto: Paulo Sultanum/Divulgação
Cenas foram registradas em 13 municípios entre a Zona da Mata e o Agreste. Foto: Paulo Sultanum/Divulgação

Existe um  contingente de pessoas que usa a bicicleta como meio de transporte muito antes de ser posta como alternativa nas discussões de mobilidade urbana. Quase invisíveis na massa nervosa do trânsito das grandes cidades, os “ bicicleteiros”, como são comumente chamados, são por direito os primeiros cicloativistas em prol de uma mobilidade limpa, ainda que com uma resistência quase insconsciente. Foi essa invisibilidade, característica ao que é comum e popular, que despertou o olhar do fotógrafo Paulo Sultanum. Durante dois anos, ele registrou em imagens a rotina de personagens desconhecidos e dos diferentes usos que eles dão às suas bicicletas. O resultado foi compilado no livro Pernambuco correia virada, que será lançado nesta terça às 19h, no Porto Mídia, do Porto Digital, no Bairro do Recife. 

Como não poderia deixar de ser, Sultanum foi buscar seu “material de campo” em cidades periféricas, onde a bicicleta popular é ainda mais presente. As fotos foram feitas entre os anos de 2010 e 2011 nos municípios do Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Camocim de São Félix, Moreno, Nazaré da Mata, Paudalho, Vitória de Santo Antão, Carpina, Camaragibe, Abreu e Lima, Sairé e Bezerros. “Por personagens, não me refiro apenas às pessoas que se permitiram fotografar. Mas as próprias bicicletas e as histórias que elas carregam”, confessa Paulo.
 (Foto: Paulo Sultanum/Divulgação)

Como observou o arquiteto e urbanista Cristiano Borba, que assina a introdução do livro, esse “é um projeto bem bonito”, porque explora, nos eixos plástico e documental, a apropriação popular, a relação dos usuários com o ambiente, a cidade, o trabalho, a família e o dia a dia dessas pessoas e suas bicicletas. “Você encontra o documental, o artístico, o antropológico e o urbano. São várias sobreposições na mesma obra”, resume o urbanista. Paulo Sultanum possui uma relação com a bicicleta desde criança, quando já era usava diariamente o modal. Quando morou em San Francisco, na Califórnia (EUA), onde nasceu o movimento Critical Mass (Massa Crítica), que vincula o ciclismo à luta política, seu estreitamento com a “magrela” aumentou. 

Pernambuco correia virada tem a curadoria e concepção gráfica do pesquisador e fotógrafo José Afonso Júnior e do designer Raul Kawamura. Para José Afonso, a bicicleta não é só um meio de transporte. É também uma forma de comunicação e expressão, assim como a fotografia. “À medida que se desloca, leva e traz, imprime o registro das subjetividades que colocam em cena o corpo, a expressão individual e a conexão com o coletivo de quem a usa. A fotografia revela muito a respeito de quem a fotografa. A bicicleta carrega sobre duas rodas não apenas o seu dono, mas o ciclo do usuário”.
 


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