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Ocupação Iniciativa privada explora "nova vocação" de casarões antigos no Bairro do Recife Estacionamentos atendem à demanda de vagas no bairro e está, segundo a Prefeitura, dentro da expectativa de diversificação dos serviços disponíveis no local

Publicado em: 25/08/2015 09:53 Atualizado em: 25/08/2015 10:14

Especialista afirma que o Bairro do Recife é tombado enquanto conjunto urbanístico, o que não inviabiliza mudanças na parte interna do casario que, no entando, precisa ser fiscalizado. Foto: Rodrigo Silva/DP/ D.A.Press
Especialista afirma que o Bairro do Recife é tombado enquanto conjunto urbanístico, o que não inviabiliza mudanças na parte interna do casario que, no entando, precisa ser fiscalizado. Foto: Rodrigo Silva/DP/ D.A.Press
 

Os tijolos aparentes e o pé direito alto não escondem: o galpão que vai do Cais até a Rua do Apolo foi construído há pelo menos 100 anos. Há três serve como estacionamento para quem trabalha no Bairro do Recife. Na cidade cuja frota cresceu quase 68% na última década, segundo o Detran, casarões antigos dão cada vez mais espaço aos estacionamentos privados e reascendem a discussão sobre patrimônio e ocupação.
São 37 mil veículos circulando todos os dias só na Rua Madre de Deus e nas avenidas Alfredo Lisboa e Marquês de Olinda, segundo contabiliza a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura do Recife. Diante das 875 vagas de Zona Azul disponíveis no bairro, a conta não fecha. Para atender a demanda e em sintonia com o movimento que prioriza cada vez mais os veículos particulares, empreendedores têm aproveitado a oportunidade.
Humberto Santos, 55, está no ramo há 10 anos. De segunda a sexta-feira, cuida dos carros de 20 mensalistas no número 107 da Rua Mariz e Barros. No fim de semana o estacionamento sai de cena e abre espaço para o Bar do Raggae. Para Santos, a dificuldade na hora de achar vagas de Zona Azul é o principal atrativo para as garagens privadas. “No momento não tem jeito melhor de se movimentar e a maioria das pessoas pensa assim. Para achar Zona Azul tem que rodar muito e as pessoas preferem pagar”, conta o guardador, que cobra R$ 200 por mês. Perto dali, em um pomposo casarão que vai da Avenida Marquês de Olinda até a Rua Vigário Tenório, são sete andares com 109 vagas disponíveis. Para estacionar no prédio, ativo há um ano, paga-se R$ 6 a hora ou R$ 400 pelo mês.
Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Fátima Furtado lembra que o problema de vagas existe desde o primeiro plano de revitalização do bairro e explica que revitalizar implica em atrelar novos usos, o que também aumenta a demanda. “Na minha perspectiva, de conservação integrada urbana e territorial, entendo que o uso é importante para preservar, senão tende a ruinar”, opina.

Casarão que vai da Av. Marquês de Olinda à Rua Vigário Tenório distribui as suas 109 vagas em sete andares, ao preço de R$ 6 a hora ou R$ 400 pelo mês. A freguesia agradece. Foto: Rodrigo Silva/
Casarão que vai da Av. Marquês de Olinda à Rua Vigário Tenório distribui as suas 109 vagas em sete andares, ao preço de R$ 6 a hora ou R$ 400 pelo mês. A freguesia agradece. Foto: Rodrigo Silva/
 

Fátima Furtado explica ainda que o Bairro do Recife é tombado enquanto conjunto urbanístico, o que não inviabiliza mudanças na parte interna dos casarios. “A razão principal do tombamento é o traçado urbanístico, que remonta a época colonial, com vias que existem há 400 anos. A paisagem, a ambiência é realmente relevante”, aponta, pontuando que reformas dentro dos imóveis são permitidas, ao contrário da fachada. “Internamente você pode mexer, porque o imóvel não é tombado, mas a calçada, a fachada e a coberta devem ser mantidas, porque urbanisticamente, é isso que garante a paisagem. O importante é que as gerações futuras recebam esse patrimônio como recebemos. Um galpão em Afogados é diferente de um no Cais do Apolo, que conta uma história", defende.

Através de uma nota, a Prefeitura do Recife defendeu a diversificação dos serviços disponíveis no bairro e afirmou que tem atuado na implantação de mecanismos que promovem o dinamismo na área. “No caso do Recife Antigo o projeto deve ser avaliado pelos órgãos técnicos, incluindo a Secretaria de Planejamento Urbano, sendo as características arquitetônicas e da integração com a paisagem resguardadas, uma vez que estes itens caracterizam a classificação do tombamento dessas edificações e do território”.



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