Saúdo do sorriso Água fluoretada é garantia de dentes mais saudáveis Mais de 40 anos depois de sua aprovação, lei que obriga a fluoretação das águas brasileiras ainda não é realidade. Em Pernambuco, menos de 7% dos municípios respeitam legislação

Publicado em: 20/08/2015 11:50 Atualizado em: 20/08/2015 12:19

Em pernambuco, menos de 7% das cidades que têm tratamento de água adicionam o fluoreto, como exige lei federal aprovada em 1974. Na foto, Estação Elevatória EBI 1, em Cabrobó/PE. Foto: Cadu Gomes/ FP
Em pernambuco, menos de 7% das cidades que têm tratamento de água adicionam o fluoreto, como exige lei federal aprovada em 1974. Na foto, Estação Elevatória EBI 1, em Cabrobó/PE. Foto: Cadu Gomes/ FP
 

Em 1974, com a aprovação da Lei Federal 6.050, a adição do flúor nas águas de abastecimento público virou uma determinação e passou a integrar as estratégias de saúde pública do Brasil. Quarenta e um anos depois, no entanto, a medida - que reduz em até 50% a prevalência de cárie e é indicada, além da Organização Mundial da Saúde (OMS), por mais de 150 organismos de ciência e saúde do mundo – está longe de ser uma realidade no país. Pouco mais de 60% dos municípios brasileiros fluoretam suas águas. Em pernambuco, menos de 7% das cidades que têm tratamento de água adicionam o fluoreto, segundo a última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), de 2008.

Os números, cujas revelações já são alarmantes, podem encobrir um cenário ainda mais preocupante. É o que desconfia a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) que iniciou, em 2014, uma investigação em 614 municípios brasileiros para confrontar o quadro atual. “Os dados foram obtidos por meio de consulta junto a administração municipal, mas não há informação sobre os critérios adotados para sua validação. A literatura científica a respeito da cobertura da fluoretação das águas de abastecimento público no Brasil apresenta áreas de imprecisão que exigem esforços investigativos a fim de refinar a informação”, explica o coordenador geral da pesquisa “Cobertura e Vigilância da Fluoretação da Água de Abastecimento Público no Brasil”, Paulo Frazão.

O estudo tem coordenação em Pernambuco, onde 25 das 36 cidades com mais de 50 mil habitantes que irão compor a pesquisa já tiveram os dados coletados. À frente dos trabalhos no estado, o professor Petrônio Martelli, do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica porque Pernambuco está tão distante da média nacional.

Estudo mostra que desde 1953 o Espírito Santo tem fluoretação, São Paulo tem quase 100% de suas águas fluoretadas, assim como o Paraná. Coordenador aponta resistência da Compesa. Foto: Daniel Guimarães/ A2
Estudo mostra que desde 1953 o Espírito Santo tem fluoretação, São Paulo tem quase 100% de suas águas fluoretadas, assim como o Paraná. Coordenador aponta resistência da Compesa. Foto: Daniel Guimarães/ A2

“No Brasil desde 1953 já tem fluoretação no Espírito Santo. Tem cidades que estão fluoretando há 52 anos. São Paulo é quase 100% fluoretado, Paraná também, Minas é intensamente. Aqui percebo que havia uma resistência por parte dos técnicos da Compesa”, aponta. “Havia um pensamento que era desperdício de dinheiro, porque é a água usada para lavar carro, encher piscina. Além disso, Pernambuco agora está conseguindo ter um fornecimento adequado, mas durante anos houve rodízio.”

Segundo Martelli, outro argumento usado para justificar a morosidade no processo de fluoretação no estado é que a maioria da população consome água mineral dos garrafões de 20 litros. “E na classe média isso é fato, mas e a população carente? Eles bebem água da Compesa e conseguir a redução da cárie para essa população é um grande atrativo, porque é justamente a mais atingida”, esclarece o professor, que é enfático ao afirmar que “a cárie é social”.

Outro ponto destacado pelo professor é o custo da medida. “Tem pesquisas em São Paulo, de 2003, que mostram que o valor habitante/ano, no tocante do flúor, era de 0,8 centavos. O que você compra com esse dinheiro? Ainda que coloque a correção de todos esses anos, ainda assim é injustificável”, critica Martelli, que defende a adição do flúor como forma de promoção da igualdade. “É uma medida comprovada cientificamente, de baixo custo, que se tem domínio total da técnica e vai beneficiar a camada mais carente da sociedade. Tem um caráter de equidade e só falta ser aplicada.”



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