Por: Thais Arruda - Diario de Pernambuco
Publicado em: 05/07/2015 14:50 Atualizado em:
Luso toca para público na Rua Imperatriz e já se apresentou nas ladeiras de Olinda. Foto: Brenda Alcântara/Esp. DP/D.A Press |
Em Campo Grande, Lisboa, José Maria Lencastre passava o dia na casa dos avós paternos. O velho piano chamava atenção, mas em nenhum momento havia pista de que seria através da música que o português mudaria de vida. Na capital lusitana, Zé Maria conheceu um ritmo novo assistindo a vídeos da Spok Frevo Orquestra e da Orquestra Contemporânea de Olinda. As melodias alegres e os passos frenéticos lhe despertaram uma paixão.
Em 2013, decidiu passar um tempo no Recife para aprender a tocar frevo no saxofone. Hoje, aos 38 anos, leva debaixo do braço o instrumento e as partituras para a Rua da Imperatriz, no bairro da Boa Vista, onde toca frevo durante a semana.
Pernambucano por adoção, Zé Maria iniciou sua jornada morando por um ano em Olinda, ensaiando na casa do pandeirista Luciano Mamão, no Amparo. Com o maestro Carlos Rodrigues conheceu mais sobre o ritmo popular. Em 2014 já fazia sua primeira participação nas ruas do carnaval olindense. “Na minha primeira vez tocando para o grande público tive a oportunidade de participar das apresentações do Homem da Meia-Noite e de Cariri. Há 16 anos tocando saxofone essa foi minha estreia representando o frevo”, contou.
Apesar da formação como jornalista, Zé Maria conta que a paixão e dedicação pela música sempre falaram mais alto. “Me chamou muito a atenção como os pernambucanos conservam a cultura e a música local. Também me apaixonei pelo coco, maracatu e pela ciranda. Apesar de já estar há dois anos aqui todas as vezes que as pessoas me veem tocando na rua me dão as boas-vindas”, comentou.
Em meio a aplausos dos espectadores do calçadão da Boa Vista, Zé Maria chama atenção por sua técnica e concentração. “Encontrei na Imperatriz um espaço perfeito para mostrar meu trabalho. É um caminho em que as pessoas podem observar minha música. Por ser mais distante dos carros, a acústica colabora”, afirmou.
Mesmo estando atualmente sem emprego fixo, o português não pensa em voltar para sua terra natal. Paralelamente ao trabalho solo o saxofonista toca com o trio Inconsciente Coletivo, de segmento autoral e reprodução de ritmos nordestinos.
Ligado às suas novas “raízes” pernambucanas, Zé Maria reflete sobre a decisão de permanecer no Recife. Aqui, mudou de clima e alimentação. “Troquei o peixe e o vinho pelo cuscuz e macaxeira. Longe da minha família, sinto falta dos momentos que passamos juntos, mas meus parentes querem acima de tudo que eu esteja onde sou feliz”, comentou.
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