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Dia Mundial do Meio Ambiente Coleta seletiva triplicou nos últimos cinco anos no Recife Apesar do aumento, apenas 0,3% do lixo da cidade é destinado à reciclagem

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 04/06/2015 20:50 Atualizado em: 05/06/2015 09:06

Apenas 3% do lixo do Recife é destinado à coleta seletiva. Foto: Brenda Alcântara
Apenas 3% do lixo do Recife é destinado à coleta seletiva. Foto: Brenda Alcântara
No fim do dia, o publicitário Carlos Lins, 59, repete o mesmo ritual. O lixo produzido durante o dia é separado cuidadosamente. Caixas de papelão, garrafas de vidros e tampas plásticas são higienizadas para serem colocadas num recipiente especial. Nas noites de segunda-feira, um caminhão que faz a coleta seletiva do Recife passa na rua do publicitário, no bairro das Graças, para levar o material que ele e os vizinhos separaram. Nos últimos cinco anos, hábitos como o de Carlos se espalharam pela cidade. A quantidade de lixo  produzido nas casas dos recifenses destinado à coleta seletiva triplicou nos últimos cinco anos.

Entre 2009 e 2014, o volume de resíduos destinados à coleta seletiva passou de 935 toneladas para 2.849 toneladas por ano. Isso significa que, só no ano passado, foi reciclado o equivalente ao peso de aproximadamente 2,8 mil carros. O dado poderia ser mais animador neste Dia Mundial do Meio Ambiente se não viesse acompanhado de uma comparação com relação à quantidade total de lixo produzida diariamente no Recife. Todos os dias, são coletadas 2,6 mil toneladas de lixo, que corresponde ao peso de 2,6 mil carros, ou seja, apenas 0,3% dos resíduos sólidos produzidos na cidade é reaproveitado.

Até o fim do próximo ano, a malha de coleta seletiva do Recife deve ser ampliada para 100% dos bairros. Atualmente, os oito caminhões que prestam serviço à prefeitura para recolhimento de recicláveis só circulam por 53 dos 94 bairros da capital pernambucana. “Esse aumento nos últimos cinco anos é uma resposta da população ao serviço. O sucesso vem da colaboração das pessoas e é só com essa participação delas que atingiremos números maiores”, afirma a diretora executiva de limpeza urbana do Recife, Bárbara Arrais.

Carlos Lins concorda que o papel da população é importante, mas cobra medidas mais eficientes do poder público. “Ainda falta conscientização das próprias pessoas, mas o serviço poderia ser melhorado para estimular a separação do lixo. Se fossem entregues sacolas diferenciadas para a coleta seletiva, mais pessoas poderiam aderir à reciclagem”, sugere. Em São Paulo, foi criada, em fevereiro deste ano, a “sacola verde”. Feita de cana-de-açúcar, ela é usada para carregar compras e é reutilizada para descartar lixo reciclável. “Vamos estudar a ideia. Se for viável, colocaremos em prática”, garantiu Bárbara.

Consumidor é responsável
A forma mais eficiente de aumentar a quantidade de lixo destinado à coleta seletiva é investindo em educação da população. É o que defende a professora da pós-graduação em desenvolvimento e meio ambiente da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Danuza Gusmão. A especialista argumenta que o Brasil não tem histórico em conscientização de higiene sanitária e sustentabilidade. “Essa é uma consciência muito recente, das novas gerações”, explica.

Mesmo que de forma tardia, ela insiste que é necessário um esforço em conscientização. “Disseminar a cultura da coleta seletiva é o caminho. Além de educar, é preciso tornar obrigatório e fiscalizar”, pontua. Pernambuco conta com uma lei que define a política estadual de resíduos sólidos desde 2010. A legislação não obriga o cidadão a fazer a seperação do lixo, mas prevê o fomento à “implantação do sistema de coleta seletiva nos municípios”.

A professora reforça que o principal agente do processo é coleta seletiva é aquele que produziu o resíduo. “Se todos fizessem coleta seletiva, os números atuais seriam diferentes. O trabalho de um catador de recicláveis só é degradante, por exemplo, porque não separamos o lixo. Essa é uma questão que tem que ser resolvida na origem, ou seja, no consumidor”, destaca.

O catador Ricardo Batista, 37, trabalha há 15 anos separando o lixo de moradores de prédios dos bairros do Espinheiro e Graças, Zona Norte do Recife, e conta que os materiais são descartados em sacos únicos. “Eles não fazem a separação, mas esse é o meu trabalho. Eu organizo o lixo do prédio depois de tirar o que posso vender”, relata. Depois de fazer a triagem, Batista vende um quilo de plástico por R$ 0,40 e o quilo de papel branco por R$ 0,20.



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