Em Foco Grávida descobre tumor no rim, fez cirurgia rara e aguarda chegada do filho

Por: Sílvia Bessa - Diário de Pernambuco

Publicado em: 28/05/2015 09:59 Atualizado em:

Francisco pode chegar a qualquer momento. De rosto desconhecido, o coração dele pulsa há 33 semanas na barriga de Monique Cabral. Será o nascimento dele e, finalmente, o renascimento de Monique - 29 anos, descendente de Parnamirim, Sertão de Pernambuco, e jornalista com carreira feita no Recife. Nesse dia, haverá exaltação da vida, da relação mãe e filho, da fé. No mundo, há na literatura apenas 16 relatos de mulheres grávidas operadas de câncer no rim. Monique é caso “raro, raríssimo”; e de sucesso.   

Se o bebê que terá nome de santo não existisse, os médicos talvez demorassem a descobrir o tumor do tamanho de um tomate alojado no rim esquerdo dela. Quem sabe, sequer tivessem a chance de tratar o câncer ameaçador ou extirpá-lo, como aconteceu ao retirarem todo o rim esquerdo por um corte de 20 centímetros, hoje visto no alto da barriga grande e acetinada de Monique. “Francisco veio para me salvar”,  resume ela, com fôlego curto, já sentindo as contrações de treinamento do parto que se avizinha. Convicta, espera o encontro com seu pequeno herói.

Pode demorar, mas o menininho fará sua própria versão. Saberá que a mãe teve coragem hercúlea para enfrentar o périplo e mantê-lo vivo, enquanto equipes de especialistas analisavam protocolos do Brasil e do exterior e decidiam por fazer a inusitada primeira cirurgia de retirada do rim de uma gestante. “Em momento nenhum pensei em desistir dele. Lutei contra todas as dores do mundo e só pensava nele. Sempre”, disse-me Monique esta semana, esperando a boa hora.

Vivendo a maternidade do bebê com 20 semanas, cuidando de uma gravidez de risco que exigiu repouso desde o início do ano, Monique sentia incômodos. A obstetra, Eva Spinelli, pediu parecer de um urologista. Cogitava-se que era cálculo renal; ninguém imaginava no princípio que seria preciso uma intervenção. O experiente urologista Roberto Cohen - 35 anos de profissão - foi honesto.
Alertou que não poderia demorar a tratar para não dar chances de ocorrer metástase. “É um quadro muito difícil”. E cirúrgico, pelo tamanho do tumor. “Como ela estava no segundo trimestre, o risco maior era de abortamento”, explicou-me ontem, antes de informar que publicará artigos sobre Monique em Congressos de Medicina nas áreas de Urologia e Ginecologia.

A médica Eva Spinelli pedia para que Monique não desistisse e dava forças dizendo “Você está em minhas orações”. Era preciso retirar o rim para que Monique pudesse ter a certeza de que criaria Francisco e outros filhos que possam vir. “Faltou não só o chão. Faltou ar, não conseguia encontrar algo que me sustentasse. Não pensava em mim em momento nenhum. Só nele, no meu filho”. Foram três semanas entre diagnóstico e cirurgia. “Me disseram que, se eu não tivesse grávida, seria de um dia para o outro”.


Neste meio tempo, Monique usava o tempo de angústia para conversar com Francisco. “Dizia: ‘Filho, é preciso ser forte’...”, contou a mãe. Narrou o medo que sentiu antes da cirurgia, as lágrimas que engoliu para suportar o momento, a tensão ao colocar a mão na barriga antes de saber se o filho estava vivo quando abriu os olhos no pós-cirúrgico. Contou das dores que nem as doses de morfina contiveram. Monique e Francisco resistiram juntos. “Até agora não consigo acreditar no que vivi”,
confessa ela, antes de dizer que só vai sossegar quando colocar Francisco no colo pela primeira vez.

“Eu vivia em academias, preocupada com o corpo, com a saúde, com tudo. Hoje, veja como são as coisas, meu maior orgulho é esta cicatriz que tenho na minha barriga e a fé que me sustentou”,
compila Monique, católica, num testemunho de redenção. A gravidez de Monique avança com tranquilidade. Francisco está com mais de 2,2 quilos, sadio. A cada sábado, dia da semana que marca as semanas no calendário do nascimento, há uma comemoração coletiva para a família. É muito para o que ela e o organismo dela passaram.

Monique não tem recomendações de radioterapia nem quimioterapia porque não há indícios de câncer. Terá alta após cinco anos de acompanhamento. A gravidez de Francisco está prestes a completar 34 semanas. “Tenho um tio, que é também meu padrinho, que me disse outro dia: ‘Minha filha, nunca esqueça que Francisco veio para salvar a vida da mãe dele. Daí para frente, terá outras missões’. Creio nisso”.



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