Transtorno Corpos trocados em voo da Gol Dois caixões embarcados em um avião de São Paulo, com destino ao Salvador e Recife, foram parar nas cidades erradas

Por: Ed Wanderley - Diario de Pernambuco

Por: Marcionila Teixeira - Diário de Pernambuco

Publicado em: 09/05/2015 14:39 Atualizado em:

Uma família de Lajedo, a 200 km do Recife, aguardava para velar o corpo de seu patriarca de 88 anos. No meio do caminho, uma ligação deu início ao transtorno: dentro do caixão, estava uma mulher de 36 anos. Não seria preciso legista algum para atestar que não se tratava do aposentado Luiz Sobral da Silva. O corpo do aposentado foi parar a quase 700km dali, em Salvador, sob os cuidados da família de Andreia Lubarino Santana, a mulher que estava sendo conduzida ao Agreste pernambucano.

Luiz e Andreia não se conheciam, mas a história fez questão de cruzar seus caminhos. Ambos não eram de São Paulo mas, quase que por acaso, estavam na cidade, bem longe de suas terras natais, nos derradeiros dias de vida. Mais que isso, seus “caminhos de volta” foram feitos pelo mesmo voo – o Gol 1282, com destino ao Recife, com escala em Salvador. Mas, apesar de um caixão não ser o tipo de carga que se perde de vista num mar de malas, os corpos acabaram trocados, no início da tarde de ontem.

O erro só foi descoberto depois de os parentes de Andreia abrirem o caixão, quando seguiriam ao velório, e descobrirem Luiz. Comunicada, a companhia aérea pediu que o caixão em Pernambuco, que já seguia para o Agreste, na altura de Vitória de Santo Antão, retornasse ao Aeroporto dos Guararapes, para que a troca pudesse ser desfeita, o que só foi possível no início da noite, em novos voos da própria companhia, quando, desta vez, os corpos receberam as lágrimas correspondentes dos familiares que os recepcionaram.

Há 20 anos no mercado, a funerária paulista que despachou ambos os corpos garantiu ter entregue os caixões devidamente identificados. “Se o erro fosse meu, a Gol não desfaria a troca sem custos. Meu trabalho terminou em Guarulhos”, disse Jorge de Morais Schunck. Para o transporte, os caixões foram lacrados, zincados e etiquetados com a documentação de cada corpo. A embalagem de proteção plástica acrescentada no aeroporto e com o selo da companhia aérea, no entanto, destinava o corpo de Luiz à família baiana e vice-versa, como comprova uma etiqueta de despacho da área de cargas, que dá conta dos 103kg transportados até Salvador.

Solteira e sem filhos, Andreia estava em São Paulo há um ano e se encontrava internada desde janeiro, vítima de complicações da leucemia que enfrentava. Luiz estava na terra da garoa há apenas três meses, aguardando um procedimento de implantação de um aparelho auditivo especial, mas teve parada cardíaca antes disso. “Ele estava muito feliz. Foi a primeira vez que viajou de avião e aproveitou para conhecer São Paulo”, lamentou a neta, Tatiana Sobral, 29. Ambos serão enterrados, em Lajedo e Salvador, na manhã de hoje.

À imprensa, a Gol se limitou a dizer que lamentava o ocorrido e estava prestando assistência às famílias. Contra a companhia, as famílias já externaram interesse em mover processos pelos transtornos. Esses, sem trocas.

- Colaborou Giulia Marquezine/Correio-BA

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