Sustentabilidade Grandes empresas apostam na economia de água como investimento e colhem lucros Apesar do acréscimo no valor inicial do projeto, iniciativas de consumo racional no comércio e na indústria são revertidos em valorização social e econômica

Por: Tiago Cisneiros

Publicado em: 23/04/2015 16:00 Atualizado em: 23/04/2015 15:53

Ao longo de 30 anos, a Arena Pernambuco espera economizar R$ 15 milhões. Cerca de 60% da água consumida no empreendimento  vem do sistema de reuso. Foto: Divulgação
Ao longo de 30 anos, a Arena Pernambuco espera economizar R$ 15 milhões. Cerca de 60% da água consumida no empreendimento vem do sistema de reuso. Foto: Divulgação

Se a mudança de hábitos e a instalação de equipamentos economizadores fazem diferença no consumo de água em casa e em pequenas empresas, o que dizer do impacto em locais que recebem centenas ou milhares de pessoas por dia? Com movimentações desse porte, alguns empreendimentos de Pernambuco investiram em sustentabilidade e, em troca, ganharam valorização social e econômica.

O shopping RioMar, no Pina, Zona Sul do Recife, consegue poupar mais de 6 milhões de litros de água por mês, apenas com o sistema de esgoto a vácuo. “Enquanto o convencional usa de 3 a 6 litros por descarga, o nosso demanda de 0,8 a 1 litro. A economia chega a 80%”, explica o gerente de desenvolvimento ambiental do grupo JCPM, Sérgio Maffioletti. No empreendimento, ainda há tecnologias de captação da água da chuva em uma área de 23 mil metros quadrados, para uso nos jardins, nos banheiros e na limpeza de ambientes operacionais. A água de condensação do sistema de climatização também é recolhida e reutilizada nas torres de resfriamento, economizando 30 mil metros cúbicos por ano.

Segundo Maffioletti, o investimento para criar um empreendimento sustentável representa, em média, um acréscimo de 7% a 10% sobre o valor do projeto. O gasto extra, no entanto, pode ser coberto em pouco tempo. “Além de permitirem um custo operacional menor, por ter menos consumo e mais eficiência, lugares com essa proposta têm uma valorização de 20% a 30% no mercado”, afirma, salientando que a opção compensa, sobretudo, quando a empresa trabalha com locação de espaços.

No setor industrial, o Grupo Moura, conhecido pela fabricação de baterias, também trabalha com a reutilização da água proveniente da produção. Hoje, o reaproveitamento gira em torno de 90% e a meta, segundo a engenheira química Juliete Medeiros, é alcançar a plenitude até o final de 2015. A empresa utiliza, ainda, nas suas atividades, a água residual da unidade de tratamento da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) em Belo Jardim, no Agreste, onde está sediada. Com isso, reduz o impacto nos reservatórios do município.

Já a fabricante de bebidas Pitú, sediada em Vitória de Santo Antão, também no Agreste, capta água no Rio Tapacurá e realiza um processo de decantação, filtração e cloração. Depois, o líquido é utilizado na lavagem de garrafas, na produção de vapor em caldeiras, na limpeza e no refeitório. Atualmente, 80% da água que passa pela estação de tratamento de efluentes construída em 1994 são reaproveitados na fábrica.

Na Itaipava Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, a economia de água deve representar uma economia de R$ 15 milhões ao longo de 30 anos. Cerca de 60% da água consumida no local são provenientes do sistema de reuso, que se baseia na captação da chuva por meio da coberta e na drenagem da água utilizada na irrigação do gramado. O líquido coletado passa por um peneiramento e segue para quatro reservatórios com capacidade individual de 450 metros cúbicos, nos quais também é incluída a água oriunda dos vestiários administrativos, após passar pela estação de tratamento interna. Então, tudo é filtrado, clorado e encaminhado para dois outros reservatórios, onde recebe um corante azul (que identifica a sua origem sustentável). Por fim, a água é reaproveitada nos mictórios, vasos sanitários, na irrigação e na limpeza das arquibancadas.

Líquido coletado na Arena PE passa por um peneiramento e por uma estação de tratamento até chegar aos reservatórios, onde a água é filtrada, clorada e encaminhada para dois outros reservatórios. Arte: Divulgação
Líquido coletado na Arena PE passa por um peneiramento e por uma estação de tratamento até chegar aos reservatórios, onde a água é filtrada, clorada e encaminhada para dois outros reservatórios. Arte: Divulgação

Apenas na irrigação, esse processo evita o uso de até 50 mil “novos” litros de água por dia, dependendo das condições climáticas. A economia na limpeza das arquibancadas e nos banheiros varia conforme a quantidade de público e a frequência de jogos e eventos. “Em todas essas atividades, a água é 100% de reuso. O nosso sistema foi projeto tomando o pior cenário como parâmetro: verão com chuvas escassas, o que aumenta a necessidade de irrigação, e estádio cheio (46 mil pessoas)”, explica a responsável pela área de manutenção e engenharia da arena, Marília Bechara.


As boas iniciativas de consumo racional da água, entretanto, ainda não são frequentes no meio empresarial, na opinião do consultor de gestão Francisco Cunha, da TGI. “Há uma preocupação crescente, mas não é marcante, ainda não tem grande intensidade”, diz. Para ele, o estímulo para mais investimentos na área virá com a falta do recurso natural, como está acontecendo em São Paulo, por exemplo. “No caso do Recife, há a história do poço artesiano. Você faz um investimento grande, fura e explora a água, sem pagar mais. O engano é pensar que ela é eterna. Em algum momento, vai escassear”, alerta.
Aeroporto


“Embora esteja ligado ao poder público o Aeroporto Internacional dos Guararapes (Gilberto Freyre) também aparece como um local de grande movimentação (7 milhões de passageiros por ano) preocupado com o consumo racional. Desde a inauguração do novo terminal, em 2004, as descargas dos banheiros são a vácuo, utilizando apenas 1,2 litros por fluxo. Segundo os cálculos internos, isso representa uma redução de 80% no gasto mensal. No ano, 33,6 mil metros cúbicos de água deixam de ser utilizados, o que equivale a R$ 426.720,00 (R$ 35.560,00 por mês).


O aeroporto também promove o reuso da água gerada pelo sistema de ar condicionado, para alimentar diariamente dois reservatórios, cada um com 57 metros cúbicos de capacidade, e abastecer as descargas de mictórios e vasos sanitários de todos os banheiros.



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