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Polícia Após ser agredido, escravo africano foge de propriedade de empreendedor português, em Boa Viagem

Publicado em: 15/04/2015 20:03 Atualizado em:

Raposo, de 39 anos, agora quer continuar no Brasil e exercer seu ofício de cozinheiro. Foto: Paulo Trigueiro/Esp. DP/D.A Press
Raposo, de 39 anos, agora quer continuar no Brasil e exercer seu ofício de cozinheiro. Foto: Paulo Trigueiro/Esp. DP/D.A Press
Após ser agredido, escravo africano foge de propriedade de empreendedor português. Não, esta não é uma notícia da época do Brasil Colônia. O caso foi denunciado anteontem em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. O angolano Paulo Jorge Raposo, 39, alega ter sido trazido para o Brasil com a promessa de ser sócio de um restaurante, mas encontrou no país apenas o trabalho ininterrupto, realizado sob ameaças e não remunerado.

Segundo Raposo, a promessa da sociedade era de trabalhar no Brasil com sua especialidade: a culinária portuguesa. Apesar disso, afirmou que cozinhar foi o único trabalho que não fez desde que chegou ao país. “Trabalhei como pedreiro, pintor, fiz limpezas e vigiei duas localidades nas quais seria instalado o nosso restaurante”, afirmou.

Pessoas que trabalham na galeria onde o restaurante estava sendo montado disseram ter presenciado o suspeito ameaçando e confessando agressão. Ao saber a história, um dos trabalhadores do local levou Paulo Raposo à delegacia de Boa Viagem, onde ele e o suspeito foram ouvidos.

O angolano afirmou ter vendido uma mala e um terno, que lhes foram comprados pelo dono do rstaurante. “Vendi para poder comer”, explicou. “Estou desde que cheguei ao Brasil, então com 80kg, sem nenhum centavo. Ele que pagava o que eu deveria comer. Hoje eu tenho 65kg.” Os dois foram encaminhados pela delegacia ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) do Recife, onde foram novamente ouvidos.

“Não vou testemunhar em favor de nenhum, se me chamarem, porque não sei quem está falando a verdade. o dono do restaurante falou que havia agredido Paulo porque ele tinha roubado e vendido seus pertences”, disse uma testemunha, que não quis se identificar.

“Mesmo com os depoimentos não podemos concluir algo porque não presenciamos nada. Hoje, iniciamos a investigação. Encaminharemos os depoimentos à Polícia Federal, para o Núcleo de Enfrentamento do Tráfico de Pessoas da SDS e de volta para a Delegacia de Boa Viagem”, explicou o auditor fiscal do trabalho que ouviu as partes, Paulo Mendes. “Um diz que sofreu trabalho escravo, outro que tem uma sociedade formal. Mas por enquanto só temos palavras.”

À pedido do MTE, a Secretaria de Direitos Humanos do Recife abrigou Raposo na Casa de Passagem do Espinheiro, na Rua Pereira Simões. “Não perdi a esperança de conseguir um visto de trabalho e permanecer aqui como cozinheiro, já que tenho 20 anos de experiência”, afirmou.


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