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Carnaval A mulher que mudou a rota da folia

Por: Rosália Vasconcelos

Publicado em: 09/02/2015 22:09 Atualizado em: 09/02/2015 23:21

Dona Dá guarda com carinho réplicas dos troféus ofertados a quem deixou a Rua da Boa Hora, em Olinda, mais animada nos dias de Carnaval. (Ricardo Fernandes/DP/DAPress)
Dona Dá guarda com carinho réplicas dos troféus ofertados a quem deixou a Rua da Boa Hora, em Olinda, mais animada nos dias de Carnaval.

“Aquele carnaval foi tão bom!”. O suspiro que rememora o carnaval de 1985, da dona de casa aposentada Jodecilda Airola da Silva, 76 anos, tem razão de ser. Foi naquele ano que ela, junto com um grupo de amigos, lançaram um troféu para as agremiações que incluíssem em seu desfile a Rua da Boa Hora, no Sítio Histórico de Olinda. Naquela época, os blocos não passavam por lá e Dona Dá, como ficou conhecida na Cidade Alta, queria animar o lugar onde mora até hoje.

O que era uma brincadeira, contudo, virou tradição. Hoje Dona Dá é conhecida nas ladeiras e já foi até homenageada do carnaval, pela Prefeitura de Olinda, no ano de 2004, tamanha sua importância mítica para a cultura da cidade. “Eu, Gina Alves, José Porciúncula, Ana Farache e Antonio Fernandes fizemos uns ofícios e encaminhamos para as agremiações. Elas gostaram da ideia e toparam. No primeiro ano, foram 35 troféus. Hoje fabricamos 100 e nem precisamos mandar ofício. Há anos que falta troféu porque passa mais bloco do que imaginamos”, orgulha-se Dona Dá.

Segundo ela, hoje a Rua da Boa Hora virou parada obrigatória de blocos como o Enquanto Isso na Sala da Justiça, Panela de Pressão, O Lorde, Cariri, Elefante, Pitombeira dos Quatro Cantos, Vassourinhas, Homem da Tarde e os Bonecos de Olinda. “No sábado antes do Sábado de Zé Pereira, sempre fazíamos uma festa, chamada Sarapafrevo, para arrecadar dinheiro para a confecção dos troféus. Mas hoje não é mais necessário”, conta a carnavalesca.

Depois dessa época, o protagonismo de Dona Dá foi crescendo no carnaval de Olinda. Participou da fundação do famoso bloco Mulher na Vara, cujo desfile começa em frente à sua casa. “Dona Dá é madrinha do bloco. Foi a primeira mulher a subir na Vara e continua sendo a primeira a inaugurar a brincadeira todos os anos, abençoando para que o nosso percurso seja tranquilo”, disse um dos donos da Mulher na Vara, Carlos Porciúncula. A dona de casa também organiza o Encontro dos Bois, que acontece na Rua da Boa Hora, toda Quarta-Feira de Cinzas.

A paixão pelo Homem da Meia Noite, cuja figura é ostentada numa grande tela na sala de estar da casa de Dona Dá, também lhe rendeu uma grande homenagem do clube, no ano de 2011. “O Calunga é um dos meus queridos. Pena que ele não passa mais pela Boa Hora. Mas não tinha condições”, lamentou.
Os trófeus são confeccionados a cada ano por uma artista diferente de forma colaborativa. “Já teve troféu de cerâmica, papel machê, vidro, serpentina, madeira”, cita Dona Dá.

Sobre as expectativas para o carnaval 2015, Dona disse que são as melhores. “Eu amo o carnaval desde criança. Só passei sem brincar um ano quando fui reprovada na escola e quando engravidei. É quase uma religião”, sorriu.
 



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